Versão: Empalamento Rock Star

11-06-2016i

Estava numa das eventuais filas de um dia burocrata, e antes de ser atendido, percebi o pequeno cartaz que continha “Rock ‘n Halls 2003 – seja Rock Star por um ano’! De cara, pela afinidade com o gênero, quedou boquiaberto com a criatividade das agências publicitárias, bem como a intromissão numa área absolutamente alheia, ao menos assim deveria ser, à fugacidade do mercado.

Depois de inventarem o Dia do Rock, nada mais natural que o mítico dos míticos, o inovador “Rock Star por um ano”. Na explicação, os 12 meses de fama estariam resumidos a direitos às “melhores baladas” (?)… Pensou nos ícones do Rock, enfim, naqueles que conquistaram espaço de grandes proporções e imortal, agora partilhando os holofotes com bandas forjadas pelos (quando não deles mesmos!) publicitários, gravadoras e outros suportes comerciais, fadadas ao insucesso ou ao sucesso de verão; passado o chilique de cinco centenas de adolescentes, engordarão as filas do ostracismo.

Campanhas publicitárias deste nível revelam a ilusão doentia para que o cidadão é conduzido, alienação vendida como prêmio, sonho de consumo. E surte efeito, basta procurar que as duas últimas décadas transformaram, numa visão geral, em cobaias de rockers com código de barras. Hoje então, barbicha no queixo, bonezinho para trás e guarda-roupa com belas bermudas e camisetas de marcas + nenhuma cara de mal, pronto, teremos Jim Morrison com menos de uma caloria. É Rober Plant que “virou” Jonathan Davis (Korn), John Lydon < CPM 22, Janis Joplin = Avril Lavigne, ou que o Ave Sangria seja O Surto…

Banalizar é verbo dos mais recorrentes, após as pedras do Muro de Berlin rolarem livres em 1990. A recíproca tanto é verdadeira que até o Scorpions, com a sua melódica ‘Wind of change’, e cujo sentido da letra festejava a queda do Muro, não ficou isento das lascas que foram bem nas suas testas. Deles, das nossas, promovendo o império do marketing a reinar sozinho pelo inerte planeta. Cultura virou monopólio, moda.

O Rock Star que antes era peça rara, fechava hotéis para orgias, fazia cara de mal, mandava decibéis e criava sonoridades psicotrópicas, segundo o concurso Rock ‘n Halls, reflete a ‘tendência’ forjada, o uso de termos ‘sacros’ resumidos às pretensões vazias. Deverá ofertar aos contemplados (favor não confundir com virtuosos) também roupas da hora, aparição no horário nobre e o prêmio talvez entregue pela mais recente gatinha da Malhação, ou do malhado galã da novela das 8. Quem sabe, se forem pegos com drogas possam, inclusive, perder o título? Sexo? Tá, mas com amor e dosando os gemidos, fazendo beicinho e sem esquecer da cueca da marca patrocinadora e a camisinha de morango, que também faz a sua radicalíssima imagem. Yeah!

Nada agradável o tanger dos jovens contemporâneos à Doutrina Bush, os quais aqui na Terra de Vera Cruz, não sabem nada de música, sonham com o jeito ‘Rouge’ de viver. A cada nascer do Sol, as trevas da vida vazia e sem nexo arrebanham mentes ao calabouço da mediocridade. Junte as 4 embalagens, o que está esperando? Quer ser diferente na globalização? Afinal, não seja revoltado.

por Ricardo S.
Imagens: Reprodução/www
(Publicado originalmente em 2003)

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.