Esses invisíveis


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Maioria da população está fora da falsa polarização da política oficial, aponta pesquisa

Essa massa “despolitizada”, no entanto, não é apática, mas resultado de um sistema putrefato de exploração e opressão que lhes rouba quaisquer direitos. A velha “democracia” funciona como uma máquina a serviço das mesmas classes dominantes, grande burguesia e latifúndio, representadas em suas dezenas de partidos, que ao fim e ao cabo são um partido único.

por Redação de AND
|05/11/2025|

A mais recente pesquisa do “think tank” More in Common, em parceria com o instituto Quaest, revelou que maior parte da população está fora dos limites da falsa polarização política. O estudo mostra que 54% da população se considera “invisível” dentro do espectro político oficial, ou seja, pessoas que não se identificam “nem com a esquerda, nem com a direita”, e que adotam uma postura prática diante dos principais temas da vida nacional, sem representação política real.

Esses “invisíveis”, como denominados pelos pesquisadores, compõem a maioria absoluta da sociedade brasileira e são, em geral, mais pobres, negros, pouco escolarizados e desinteressados pela política eleitoreira e institucional. Estão divididos entre os “desengajados”, ligeiramente inclinados à esquerda, e os “cautelosos”, mais à direita – mas ambos compartilham um sentimento de distanciamento das disputas partidárias eleitoreiras e da “polarização” encenada entre petismo e bolsonarismo.

Enquanto a “maioria silenciosa” permanece alijada do debate público oficial, a extrema direita aparece como o setor mais ativo politicamente. Segundo a pesquisa, o grupo dos chamados “patriotas indignados”, que representa apenas 6% da população, se destaca pela mobilização nas redes, nas ruas e na criação de “comunidades ideológicas” onde nutrem extrema desconfiança com as instituições. Estes são os que mais participam de manifestações (49%), se informam majoritariamente pelo WhatsApp (58%) e YouTube (59%), e se identificam majoritariamente como “bolsonaristas”.

O levantamento indica ainda que mais de um quarto da população brasileira se encontra dentro do chamado “campo conservador”, somando os “patriotas indignados” e os “conservadores tradicionais”. Apesar das diferenças de engajamento, ambos compartilham um discurso comum de ressentimento, aversão à política e desconfiança do sistema dito “democrático”. Para o diretor da More in Common Brasil, Pablo Ortellado, a extrema direita conseguiu “criar uma base de massas radicalizada e emocionalmente engajada”, o que lhe garante poder de pressão desproporcional em relação ao seu tamanho real.

Essa tendência confirma o diagnóstico, que há anos vem sendo feito por analistas independentes, de que a direita e a extrema direita transformaram o sentimento de frustração e abandono popular em combustível político. Em contrapartida, a falsa esquerda representada pelos partidos oportunistas do velho Estado vem desempenhando o papel de prometer mudanças e entregar frustrações, empurrando parcelas crescentes da população para o tal “campo conservador”.

Pesquisas recentes da Quaest e do Datafolha reforçam esse quadro. Um levantamento de outubro mostrou que 72% dos brasileiros apoiam o enquadramento de “facções” como terrorismo, e 76% defendem o uso das Forças Armadas em operações de segurança pública. Mesmo entre eleitores que se dizem “de esquerda”, o apoio às medidas repressivas ultrapassa 35%. Esses números revelam que o discurso punitivista, antes concentrado na extrema direita, ganhou reverberação em mais setores da população que se sentem traídos por promessas, não cumpridas, de governos ditos “progressistas”.

O estudo também evidencia que essa “polarização política” é “mais midiática do que real”. O ruído constante entre bolsonaristas e petistas domina o noticiário e as redes, mas não reflete o comportamento da maioria. Os “invisíveis” preferem se afastar das disputas eleitorais, pois percebem que nenhuma delas resolve seus problemas concretos, como desemprego, violência urbana, saúde precária e miséria.

Essa massa aparentemente “despolitizada”, no entanto, não é apática, mas resultado direto de um sistema putrefato de exploração e opressão que lhes rouba quaisquer direitos. A velha “democracia” funciona como uma máquina a serviço das mesmas classes dominantes, grande burguesia e latifúndio, representadas em suas dezenas de partidos, que ao fim e ao cabo são um partido único. Ao mesmo tempo, se é permitido (e incentivado!) que a falsa esquerda faça parte do balcão de negócios no parlamento, onde lá poderão vender os direitos do povo por pratos com migalhas. Nisso, empurrando parte das camadas populares, traídas pelas promessas da falsa esquerda, com as ilusões dos “salvadores da pátria” da extrema direita. Nesse contexto, o desinteresse não é mera ignorância, mas uma forma de descrença ativa que encobre também muita sabedoria.

{ A Nova Democracia }

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