É um pedido de clemência, de perdão.
Não importa a cidade ou a data, seja Copa do Mundo, Natal, Dia dos Pais, aniversário, o simples mortal que olhar para o próximo além da mera curiosidade e fizer uso da boa vontade, punir-se-á com a sensação de egoísmo ao não ajudar o irmão transeunte a carregar as cruzes slim dos nossos dias.
Na correria central, levantar a visão involuntariamente ou pela sensação de ajudar, quando até o vácuo de quem carrega caixa de papelão com quase dois metros de comprimento, e uns três mil em reais, clama por atenção de eventual bem-aventurado, prostra-se ao Bom Jesus da Tela Plana a pedir perdão.
Do mais ateu ou agnóstico dos homens, sensibiliza-se aquele pedestre diante da alegria encurvada desta crucificação pós-moderna, ainda que sempre com a companhia da esposa, de um dos filhos e do status quo indissociável que é mostrar a Tecno-Via Crucis aos demais.
Por várias vezes e em regiões diferentes, no espaço de mais de um ano, Nossa Senhora da Piedade pairou, na verdade, incorporou-se de forma a estimular o mea culpa. Piedade também pós-moderna, aquela que se sente e nada faz. Nada faz por que não é um pedido de ajuda, como a plástica da cena impõe, pois o “tá precisando de uma forcinha?” pode ser sucedido de um “socorro, polícia, ladrão!” como resposta, dentro da atual grade de programação lacônica, assustada e individualista.
O que conforta é a certeza da terapia lombar por cápsulas de capítulos de novela, Jornal Nacional e os 45 do segundo tempo, sem falar da acupuntura através dos olhares alheios. As dores na coluna vertebral não resistem à massagem do ego.
Assusta a repetição percebida sem que procurasse pelos Bom Jesus de Tela Plana, e vice-versa, nestas ruas do mundão de Deus, como que caísse do céu. Sem zapear por milagres.
Seguem estas linhas, telas acendidas no altar e um novo devoto. Quem sabe o controle remoto não seja o Pastor, e nada faltará?