Mania de Imortal

13-02-2016b

O trocadilho com “Imortal” é totalmente aplicável ao “Já Joguei no Grêmio”.

Apesar de constar no hino do clube, foi após a “Batalha dos Aflitos”, pelo ascenso à Série A do Brasileirão, em 2005, contra o Náutico, que a palavra ganhou força e frequenta cânticos e trapos da torcida tricolor. Claro que isso é paixão, e como tal, traz a possibilidade de mais discurso que prática, até porque de 2006 para cá, o Grêmio venceu, perdeu, empatou, como é a gangorra do futebol.

Só que há um lugar onde o time porto-alegrense não perde o adjetivo, pelo contrário, a cada post vai ficando mais imortalizado. No ar desde 2008, faz parte do processo de expansão da internet, no qual usuários têm a chance de inventar um tema e seguir adiante com a proposta. No caso do JJnG, a tônica é curta e grossa: fotografia e nome dos atletas que vestiram a camisa azul, preta e branca!

Claro que outros internautas e fãs do Tricolor desenvolvem trabalhos de conteúdo histórico, de memória escrita e fotográfica, mas é nesta que “Anônimo”, o autor do blog, optou por seguir. A ausência de textos é compensada pela participação dos leitores no espaço para comentários; grande parte dos comentaristas respeita a moçada das fotografias, tem até anotações ilustres de alguns… ilustres homenageados (vide bate-papo abaixo, com o editor).

Mesmo com tantos aspectos positivos, do trabalho do Anônimo e da internet, o crescimento da rede mundial aumenta a possibilidade de pichação nos comentários. Sem o uso de moderador, como faz o JJnG, a presença das opiniões, que seria para muitos a oportunidade de incrementar o conteúdo, surge também como válvula de escape para preconceitos e amarguras. Não é rara a leitura de ofensas por aspecto técnico – de certa forma, aceitável, pois o jogador não havia correspondido com o time -, e as piores delas, estética (!) e moral, que não têm a ver tanto no mundo externo ao monitor quanto dentro dele.

Assim, o hino, cujo “imortal” foi aproveitado, não teve extensão para o trecho “Hoje com o mesmo ideal / Nós saberemos te honrar”… Decididamente, Lupicínio Rodrigues, o letrista, não entenderia muito a “queimação de Judas” num lugar para memória e feito por um entusiasta do maior rival do Colorado.

Já Joguei no Grêmio é para quem curte o Tricolor da Azenha e o Futebol, na perspectiva da história. Com jeitão (e é!) de dicionário, uma vez que os atletas estão listados por verbetes, é um álbum de figurinhas virtual, portanto, é separar o cromo, a cola e dividir atividades com o criador do site, para que um dia a coleção fique completa.

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A_Luzerna_Falas Lado D dos Esportes Olá, Anônimo! Em meio a tantos sites tricolores, por que criar o ‘Já Joguei no Grêmio’?

A_Luzerna_Falas Anônimo Tinha em casa um grande arquivo de fotos de jogadores dos anos 2005 e 2006, tanto profissionais quanto das categorias de base. Volta e meia acessava e passava horas relembrando os atletas que já vestiram a camisa do Tricolor. De forma completamente despretensiosa, decidi colocar cada uma destas fotos na internet para compartilhar com outras pessoas.

Aos poucos, a iniciativa foi tomando grande proporção. A resposta foi imediata e positiva. Foi então que decidi ampliar ainda mais o projeto e, ao invés de utilizar apenas as fotos que eu tinha em casa, fui atrás de outras fotos na internet e também no próprio Grêmio, utilizando imagens do seu Memorial. No próprio blog solicito a ajuda de visitantes, que muitas vezes encaminham pro nosso e-mail fotos e links onde podem ser encontradas. Assim começou.

A_Luzerna_Falas LDE O clube disponibiliza fotos do elenco principal e da base com essa qualidade ou é “trabalho de olheiros” (risos)? E a opção pelas fotografias sem textos, confiava neste tipo de participação dos visitantes, contribuindo com imagens e comentários?

A_Luzerna_Falas Anônimo (Risos) Posso dizer que é um trabalho de “olheiros”. Num primeiro momento priorizei a qualidade das fotos, já que possuía estes arquivos comigo. Depois vi que seria difícil manter o padrão, tendo em vista que fotos mais antigas são difíceis de achar em qualidade parecida. Muitas vezes utilizo o artifício do escanear ou até mesmo fazer foto da própria foto.

Prefiro optar por diminuir a qualidade das imagens do que deixar de fora alguns jogadores. Acho que o visitante prefere assim e não está muito preocupado com a resolução das imagens.

Com relação ao tópico dois da pergunta, num primeiro momento não me preocupei muito com as informações sobre os jogadores. A ideia era mesmo disponibilizar apenas a imagem, até para mexer com a memória do torcedor. Depois, muitos visitantes entraram em contato solicitando mais informações sobre os jogadores. Pelo menos o ano em que atuaram pelo clube. Confesso que nem sempre sei em que ano ele atuou ou até mesmo o nome completo. Infelizmente não possuo tempo suficiente para me dedicar a uma pesquisa mais aprofundada. Por isso abri espaço nos comentários para que os próprios visitantes contribuam com mais informações. Até eu mesmo acesso e coloco algumas informações em determinados jogadores. Isso enriquece muito o blog. Até mesmo as “pichações” são válidas. Me divirto e fico horas lendo cada comentário.

A_Luzerna_Falas LDE Passeando pelo blog, tenho outras duas anotações. O que muda com o uso de novas mídias sociais, como é o caso do Twitter? A segunda é sobre quando escreve “Este blog não é meu, nem de ninguém em especial. É de todos aqueles apaixonados pelo Grêmio e pelo futebol”, seria um motivo para a sua opção pelo anonimato?

A_Luzerna_Falas Anônimo O que muda é a capacidade de multiplicar o número de visitantes e estreitar a comunicação entre o blog e os “leitores”. Uso meu Twitter pessoal diariamente e decidi criar o Twitter do JJnG talvez até para testar a popularidade do blog. Fiquei satisfeito com a resposta. Aproveito para divulgar as atualizações e colocar algumas informações interessantes sobre determinados atletas que já jogaram no Grêmio e que fazem sucesso (ou não) em outros clubes. Quem sabe, na continuidade, posso ampliar utilizando novas mídias. Porém, sigo apenas com o blog e o Twitter.

Sobre a segunda colocação, a frase “Este blog não é meu, nem de ninguém em especial. É de todos aqueles apaixonados pelo Grêmio e pelo futebol” reforça minha busca pelo anonimato. Não tenho interesse de me promover com o blog. A ideia é apenas a diversão. Isso incentiva também a participação dos visitantes. Seja enviando fotos ou colaborando com comentários. Quero que se sintam interessados em participar. No final, todos saem ganhando. O blog é da torcida do Grêmio.

A_Luzerna_Falas LDE Você tem exemplos curiosos para contar para a gente? Vi que escola o JJnG já criou, tem gente do arquirrival Colorado que teve tanta “influência” que até o nome do site é o mesmo – Já Joguei no Inter!

A_Luzerna_Falas Anônimo Meu maior prazer com o blog é ler um comentário do tipo: “Nossa! Nem sabia que esse cara tinha jogado no Grêmio!”. Ou então: “Quem é esse cidadão?”. A ideia é exatamente essa: mexer com a memória e a curiosidade do visitante.

Existem posts que são recordistas em comentários. Ronaldinho e Assis encabeçam a lista. São verdadeiros fóruns de discussão.

É divertido acompanhar a opinião e a manifestação de cada um, tanto a favor quanto contra.

Tem também a foto do Anderson Pico quando estava nas categorias de base. Essa foto rendeu muitos comentários engraçados. O argentino Arangio passou pelo Grêmio e ninguém viu. Praticamente ninguém lembra dele. No post com a foto do Jésum, um ponta-esquerda que passou pelo Olímpico, acho que no final da década de 70, recebeu dois comentários curiosos: o primeiro de uma pessoa chamada Gésum, que tinha recebido o nome em homenagem a ele. Outro dizia que sempre tinha escutado histórias incríveis sobre o jogador, mas chegou a pensar que ele nunca havia existido de verdade. Tem também comentários onde o torcedor agradece ao jogador pela passagem pelo clube, como (por exemplo) nas fotos do Renato, De León, Sandro Goiano, etc. Uma demonstração de carinho e gratidão como se o próprio jogador fosse ler. E quem garante que não lê? Na foto do Valdir Espinosa, ele mesmo deixou um comentário agradecendo a lembrança.

Às vezes, os comentários são mais interessantes que a própria foto.

Sobre o surgimento do “Já Joguei no Inter”: entendi como uma homenagem ao nosso blog. Fiquei sabendo da existência dele nos próprios comentários. A qualidade não é a mesma, e os critérios também. Enviei um e-mail parabenizando pela “iniciativa” (irônico) e recebi a resposta carinhosa onde o autor disse que não tem vergonha em dizer que copiou a nossa ideia.

Sinceramente, não vejo problemas. Dentro da rivalidade salutar entre as duas agremiações, todos que gostam de futebol saem ganhando.

A_Luzerna_Falas LDE Diante de tantas coisas interessantes ao lidar tão próximo dos visitantes do blog (e do Twitter também), qual a sua percepção sobre os canais de maior destaque na cobertura esportiva? Eles contribuem de alguma maneira para a criação do seu trabalho?

A_Luzerna_Falas Anônimo Nesta quantidade absurda de informações que recebemos diariamente na internet e nos novos canais, o importante é saber filtrar o que tem de bom. Pra isso, entra o conhecimento e o instinto. Já tenho mais de 30 anos de vivência dentro do futebol. Tempo suficiente para saber tirar proveito do que anda à deriva nas ondas da internet. Tempo suficiente para saber o que é bom e o que é ruim. Não só para a realização do blog como para o meu trabalho diário.

Focando apenas o JJnG, os canais de maior destaque servem para me municiar de informações sobre jogadores que já passaram pelo Grêmio. Onde andam jogando, o que estão fazendo… Se der sorte, ainda sou capaz de conseguir alguma foto. Nesse sentido, o site do Milton Neves ajudou com a coluna “Que Fim Levou?”.

Não faz muito, encontrei uma matéria sobre o Caxias elencando a quantidade de jogadores contratados que já haviam atuado no Grêmio. Isso serviu de mote para disparar os links dos jogadores pelo Twitter do JJnG.

O Botafogo foi campeão da Taça Guanabara com gols de Fábio Ferreira e Loco Abreu, dois que já passaram pelo Grêmio e estão no nosso blog. Basta um pouco de atenção e filtragem.

A_Luzerna_Falas LDE Sigamos para a coluna vertebral de todo o papo, que não poderia ficar de fora, o Grêmio! Por lidar com a memória do time, de quando é a primeira recordação de carinho com o clube? Te(ê)m jogador(es) e momento(s) especiais?

A_Luzerna_Falas Anônimo Vivo o Grêmio desde meus primeiros anos de vida. Posso dizer que até antes disso: meu avô teve uma vida dedicada ao Grêmio, foi um dirigente renomado. O mesmo sobre meu pai. Sendo assim, eu não poderia ser diferente e procuro representar da melhor maneira a família.

Quando pequeno, era fã do Zequinha e do volante Victor Hugo, campeão em 1977. Depois passei a defender com unhas e dentes o lateral Paulo Roberto, campeão mundial e um dos jogadores com maior número de títulos no futebol brasileiro, ainda que não fosse unanimidade junto aos torcedores. Na década de 90 vem o grande esquadrão de Felipão. Estive em Medellín na final da Libertadores. Vivi de perto as cabeçadas de Jardel com os cruzamentos de Paulo Nunes. Acho que foi o último grande esquadrão. Então veio o Ronaldinho e aquele rompimento doloroso. Coisas que acontecem. Jogadores inesquecíveis e momentos que ficam na memória.

A_Luzerna_Falas LDE Perguntei sobre a questão de novo estádio ao Fábio Areias, palmeirense que já passou pelo Lado D, e como o Tricolor está envolvido em situação idêntica, qual a sua opinião sobre um novo estádio? O Olímpico merece a implosão?

A_Luzerna_Falas Anônimo Já viajei o mundo e o Brasil acompanhando grandes jogos de futebol. Conheci estádios sensacionais e outros nem tanto. O Olímpico hoje em dia está num patamar intermediário. Se o Grêmio quiser ser um clube intermediário, que continue como está. A construção de uma nova casa seguindo os padrões internacionais de qualidade colocaria o Tricolor em um nível mais à frente. Não que isso vai fazer o time jogar mais dentro de campo, mas falo em mentalidade. Pensar grande é o primeiro passo para se fazer grande. Foi assim na década de 80 e 90, quando a mentalidade mudou e o time respondeu, deixando de ser porto-alegrense para se tornar mundial.

Sobre a implosão do Olímpico, tenho uma metáfora que acredito caber bem neste caso. O Olímpico é como um carro antigo que compramos zero quilômetro, há anos. Sempre nos acompanhou nas mais longas viagens. Deu problema algumas vezes. Passou por diversos mecânicos e resistiu bravamente. Temos um carinho todo especial. Um dia temos a oportunidade de comprar um carro novo. Um carro do ano. Uma caminhonete importada com banco de couro e todos os utilitários possíveis. Ainda que haja o carinho pelo carro antigo, basta sentarmos no carro novo e ligar o motor para esquecer nosso antigo companheiro. Assim será com o Olímpico. Vai existir a nostalgia, mas com a primeira grande decisão de Libertadores na Arena, o Olímpico passará a ser apenas uma lembrança carinhosa do passado.

A_Luzerna_Falas LDE Numa cena tipicamente gremista, o juiz deu 5min de acréscimo, bate-rebate na pequena área, a bola resvalou em 4 canelas, quase na linha do gol, o último toque é seu. Se fizer, vai para os pênaltis!!!

A_Luzerna_Falas Anônimo Coloco para o fundo das redes e corro em direção aos camarotes da Bombonera, fazendo sinal de silêncio pra torcida do Boca. Vejo o Maradona no seu camarote com as mãos na cabeça e escuto o silêncio sepulcral. Ao fundo, o delírio da nação gremista na parte mais alta do estádio, atrás da goleira oposta onde empatei a decisão.

Quando o juiz apita o término do jogo, Eurico Lara me abraça e diz: “Deixa comigo que defendo pelo menos duas penalidades”. Galatto completa: “Pode ficar tranquilo”. Na lista dos cobradores, Dinho e Arce têm a chance de se redimir de 1995. O lateral cobra o último e Dinho bate o primeiro. Nas outras cobranças: Airton Pavilhão, Alcindo Bugre e Tesourinha. E se ainda precisar, eu bato a próxima. Grêmio tri da Libertadores!

Agradeço a oportunidade e me coloco à disposição. Grande abraço!

por Ricardo S.
Imagem: Reprodução/www
Publicado em 26.02.2010

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