O trocadilho com “Imortal” é totalmente aplicável ao “Já Joguei no Grêmio”.
Apesar de constar no hino do clube, foi após a “Batalha dos Aflitos”, pelo ascenso à Série A do Brasileirão, em 2005, contra o Náutico, que a palavra ganhou força e frequenta cânticos e trapos da torcida tricolor. Claro que isso é paixão, e como tal, traz a possibilidade de mais discurso que prática, até porque de 2006 para cá, o Grêmio venceu, perdeu, empatou, como é a gangorra do futebol.
Só que há um lugar onde o time porto-alegrense não perde o adjetivo, pelo contrário, a cada post vai ficando mais imortalizado. No ar desde 2008, faz parte do processo de expansão da internet, no qual usuários têm a chance de inventar um tema e seguir adiante com a proposta. No caso do JJnG, a tônica é curta e grossa: fotografia e nome dos atletas que vestiram a camisa azul, preta e branca!
Claro que outros internautas e fãs do Tricolor desenvolvem trabalhos de conteúdo histórico, de memória escrita e fotográfica, mas é nesta que “Anônimo”, o autor do blog, optou por seguir. A ausência de textos é compensada pela participação dos leitores no espaço para comentários; grande parte dos comentaristas respeita a moçada das fotografias, tem até anotações ilustres de alguns… ilustres homenageados (vide bate-papo abaixo, com o editor).
Mesmo com tantos aspectos positivos, do trabalho do Anônimo e da internet, o crescimento da rede mundial aumenta a possibilidade de pichação nos comentários. Sem o uso de moderador, como faz o JJnG, a presença das opiniões, que seria para muitos a oportunidade de incrementar o conteúdo, surge também como válvula de escape para preconceitos e amarguras. Não é rara a leitura de ofensas por aspecto técnico – de certa forma, aceitável, pois o jogador não havia correspondido com o time -, e as piores delas, estética (!) e moral, que não têm a ver tanto no mundo externo ao monitor quanto dentro dele.
Assim, o hino, cujo “imortal” foi aproveitado, não teve extensão para o trecho “Hoje com o mesmo ideal / Nós saberemos te honrar”… Decididamente, Lupicínio Rodrigues, o letrista, não entenderia muito a “queimação de Judas” num lugar para memória e feito por um entusiasta do maior rival do Colorado.
Já Joguei no Grêmio é para quem curte o Tricolor da Azenha e o Futebol, na perspectiva da história. Com jeitão (e é!) de dicionário, uma vez que os atletas estão listados por verbetes, é um álbum de figurinhas virtual, portanto, é separar o cromo, a cola e dividir atividades com o criador do site, para que um dia a coleção fique completa.
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Lado D dos Esportes Olá, Anônimo! Em meio a tantos sites tricolores, por que criar o ‘Já Joguei no Grêmio’?
Anônimo Tinha em casa um grande arquivo de fotos de jogadores dos anos 2005 e 2006, tanto profissionais quanto das categorias de base. Volta e meia acessava e passava horas relembrando os atletas que já vestiram a camisa do Tricolor. De forma completamente despretensiosa, decidi colocar cada uma destas fotos na internet para compartilhar com outras pessoas.
Aos poucos, a iniciativa foi tomando grande proporção. A resposta foi imediata e positiva. Foi então que decidi ampliar ainda mais o projeto e, ao invés de utilizar apenas as fotos que eu tinha em casa, fui atrás de outras fotos na internet e também no próprio Grêmio, utilizando imagens do seu Memorial. No próprio blog solicito a ajuda de visitantes, que muitas vezes encaminham pro nosso e-mail fotos e links onde podem ser encontradas. Assim começou.
LDE O clube disponibiliza fotos do elenco principal e da base com essa qualidade ou é “trabalho de olheiros” (risos)? E a opção pelas fotografias sem textos, confiava neste tipo de participação dos visitantes, contribuindo com imagens e comentários?
Anônimo (Risos) Posso dizer que é um trabalho de “olheiros”. Num primeiro momento priorizei a qualidade das fotos, já que possuía estes arquivos comigo. Depois vi que seria difícil manter o padrão, tendo em vista que fotos mais antigas são difíceis de achar em qualidade parecida. Muitas vezes utilizo o artifício do escanear ou até mesmo fazer foto da própria foto.
Prefiro optar por diminuir a qualidade das imagens do que deixar de fora alguns jogadores. Acho que o visitante prefere assim e não está muito preocupado com a resolução das imagens.
Com relação ao tópico dois da pergunta, num primeiro momento não me preocupei muito com as informações sobre os jogadores. A ideia era mesmo disponibilizar apenas a imagem, até para mexer com a memória do torcedor. Depois, muitos visitantes entraram em contato solicitando mais informações sobre os jogadores. Pelo menos o ano em que atuaram pelo clube. Confesso que nem sempre sei em que ano ele atuou ou até mesmo o nome completo. Infelizmente não possuo tempo suficiente para me dedicar a uma pesquisa mais aprofundada. Por isso abri espaço nos comentários para que os próprios visitantes contribuam com mais informações. Até eu mesmo acesso e coloco algumas informações em determinados jogadores. Isso enriquece muito o blog. Até mesmo as “pichações” são válidas. Me divirto e fico horas lendo cada comentário.
LDE Passeando pelo blog, tenho outras duas anotações. O que muda com o uso de novas mídias sociais, como é o caso do Twitter? A segunda é sobre quando escreve “Este blog não é meu, nem de ninguém em especial. É de todos aqueles apaixonados pelo Grêmio e pelo futebol”, seria um motivo para a sua opção pelo anonimato?
Anônimo O que muda é a capacidade de multiplicar o número de visitantes e estreitar a comunicação entre o blog e os “leitores”. Uso meu Twitter pessoal diariamente e decidi criar o Twitter do JJnG talvez até para testar a popularidade do blog. Fiquei satisfeito com a resposta. Aproveito para divulgar as atualizações e colocar algumas informações interessantes sobre determinados atletas que já jogaram no Grêmio e que fazem sucesso (ou não) em outros clubes. Quem sabe, na continuidade, posso ampliar utilizando novas mídias. Porém, sigo apenas com o blog e o Twitter.
Sobre a segunda colocação, a frase “Este blog não é meu, nem de ninguém em especial. É de todos aqueles apaixonados pelo Grêmio e pelo futebol” reforça minha busca pelo anonimato. Não tenho interesse de me promover com o blog. A ideia é apenas a diversão. Isso incentiva também a participação dos visitantes. Seja enviando fotos ou colaborando com comentários. Quero que se sintam interessados em participar. No final, todos saem ganhando. O blog é da torcida do Grêmio.
LDE Você tem exemplos curiosos para contar para a gente? Vi que escola o JJnG já criou, tem gente do arquirrival Colorado que teve tanta “influência” que até o nome do site é o mesmo – Já Joguei no Inter!
Anônimo Meu maior prazer com o blog é ler um comentário do tipo: “Nossa! Nem sabia que esse cara tinha jogado no Grêmio!”. Ou então: “Quem é esse cidadão?”. A ideia é exatamente essa: mexer com a memória e a curiosidade do visitante.
Existem posts que são recordistas em comentários. Ronaldinho e Assis encabeçam a lista. São verdadeiros fóruns de discussão.
É divertido acompanhar a opinião e a manifestação de cada um, tanto a favor quanto contra.
Tem também a foto do Anderson Pico quando estava nas categorias de base. Essa foto rendeu muitos comentários engraçados. O argentino Arangio passou pelo Grêmio e ninguém viu. Praticamente ninguém lembra dele. No post com a foto do Jésum, um ponta-esquerda que passou pelo Olímpico, acho que no final da década de 70, recebeu dois comentários curiosos: o primeiro de uma pessoa chamada Gésum, que tinha recebido o nome em homenagem a ele. Outro dizia que sempre tinha escutado histórias incríveis sobre o jogador, mas chegou a pensar que ele nunca havia existido de verdade. Tem também comentários onde o torcedor agradece ao jogador pela passagem pelo clube, como (por exemplo) nas fotos do Renato, De León, Sandro Goiano, etc. Uma demonstração de carinho e gratidão como se o próprio jogador fosse ler. E quem garante que não lê? Na foto do Valdir Espinosa, ele mesmo deixou um comentário agradecendo a lembrança.
Às vezes, os comentários são mais interessantes que a própria foto.
Sobre o surgimento do “Já Joguei no Inter”: entendi como uma homenagem ao nosso blog. Fiquei sabendo da existência dele nos próprios comentários. A qualidade não é a mesma, e os critérios também. Enviei um e-mail parabenizando pela “iniciativa” (irônico) e recebi a resposta carinhosa onde o autor disse que não tem vergonha em dizer que copiou a nossa ideia.
Sinceramente, não vejo problemas. Dentro da rivalidade salutar entre as duas agremiações, todos que gostam de futebol saem ganhando.
LDE Diante de tantas coisas interessantes ao lidar tão próximo dos visitantes do blog (e do Twitter também), qual a sua percepção sobre os canais de maior destaque na cobertura esportiva? Eles contribuem de alguma maneira para a criação do seu trabalho?
Anônimo Nesta quantidade absurda de informações que recebemos diariamente na internet e nos novos canais, o importante é saber filtrar o que tem de bom. Pra isso, entra o conhecimento e o instinto. Já tenho mais de 30 anos de vivência dentro do futebol. Tempo suficiente para saber tirar proveito do que anda à deriva nas ondas da internet. Tempo suficiente para saber o que é bom e o que é ruim. Não só para a realização do blog como para o meu trabalho diário.
Focando apenas o JJnG, os canais de maior destaque servem para me municiar de informações sobre jogadores que já passaram pelo Grêmio. Onde andam jogando, o que estão fazendo… Se der sorte, ainda sou capaz de conseguir alguma foto. Nesse sentido, o site do Milton Neves ajudou com a coluna “Que Fim Levou?”.
Não faz muito, encontrei uma matéria sobre o Caxias elencando a quantidade de jogadores contratados que já haviam atuado no Grêmio. Isso serviu de mote para disparar os links dos jogadores pelo Twitter do JJnG.
O Botafogo foi campeão da Taça Guanabara com gols de Fábio Ferreira e Loco Abreu, dois que já passaram pelo Grêmio e estão no nosso blog. Basta um pouco de atenção e filtragem.
LDE Sigamos para a coluna vertebral de todo o papo, que não poderia ficar de fora, o Grêmio! Por lidar com a memória do time, de quando é a primeira recordação de carinho com o clube? Te(ê)m jogador(es) e momento(s) especiais?
Anônimo Vivo o Grêmio desde meus primeiros anos de vida. Posso dizer que até antes disso: meu avô teve uma vida dedicada ao Grêmio, foi um dirigente renomado. O mesmo sobre meu pai. Sendo assim, eu não poderia ser diferente e procuro representar da melhor maneira a família.
Quando pequeno, era fã do Zequinha e do volante Victor Hugo, campeão em 1977. Depois passei a defender com unhas e dentes o lateral Paulo Roberto, campeão mundial e um dos jogadores com maior número de títulos no futebol brasileiro, ainda que não fosse unanimidade junto aos torcedores. Na década de 90 vem o grande esquadrão de Felipão. Estive em Medellín na final da Libertadores. Vivi de perto as cabeçadas de Jardel com os cruzamentos de Paulo Nunes. Acho que foi o último grande esquadrão. Então veio o Ronaldinho e aquele rompimento doloroso. Coisas que acontecem. Jogadores inesquecíveis e momentos que ficam na memória.
LDE Perguntei sobre a questão de novo estádio ao Fábio Areias, palmeirense que já passou pelo Lado D, e como o Tricolor está envolvido em situação idêntica, qual a sua opinião sobre um novo estádio? O Olímpico merece a implosão?
Anônimo Já viajei o mundo e o Brasil acompanhando grandes jogos de futebol. Conheci estádios sensacionais e outros nem tanto. O Olímpico hoje em dia está num patamar intermediário. Se o Grêmio quiser ser um clube intermediário, que continue como está. A construção de uma nova casa seguindo os padrões internacionais de qualidade colocaria o Tricolor em um nível mais à frente. Não que isso vai fazer o time jogar mais dentro de campo, mas falo em mentalidade. Pensar grande é o primeiro passo para se fazer grande. Foi assim na década de 80 e 90, quando a mentalidade mudou e o time respondeu, deixando de ser porto-alegrense para se tornar mundial.
Sobre a implosão do Olímpico, tenho uma metáfora que acredito caber bem neste caso. O Olímpico é como um carro antigo que compramos zero quilômetro, há anos. Sempre nos acompanhou nas mais longas viagens. Deu problema algumas vezes. Passou por diversos mecânicos e resistiu bravamente. Temos um carinho todo especial. Um dia temos a oportunidade de comprar um carro novo. Um carro do ano. Uma caminhonete importada com banco de couro e todos os utilitários possíveis. Ainda que haja o carinho pelo carro antigo, basta sentarmos no carro novo e ligar o motor para esquecer nosso antigo companheiro. Assim será com o Olímpico. Vai existir a nostalgia, mas com a primeira grande decisão de Libertadores na Arena, o Olímpico passará a ser apenas uma lembrança carinhosa do passado.
LDE Numa cena tipicamente gremista, o juiz deu 5min de acréscimo, bate-rebate na pequena área, a bola resvalou em 4 canelas, quase na linha do gol, o último toque é seu. Se fizer, vai para os pênaltis!!!
Anônimo Coloco para o fundo das redes e corro em direção aos camarotes da Bombonera, fazendo sinal de silêncio pra torcida do Boca. Vejo o Maradona no seu camarote com as mãos na cabeça e escuto o silêncio sepulcral. Ao fundo, o delírio da nação gremista na parte mais alta do estádio, atrás da goleira oposta onde empatei a decisão.
Quando o juiz apita o término do jogo, Eurico Lara me abraça e diz: “Deixa comigo que defendo pelo menos duas penalidades”. Galatto completa: “Pode ficar tranquilo”. Na lista dos cobradores, Dinho e Arce têm a chance de se redimir de 1995. O lateral cobra o último e Dinho bate o primeiro. Nas outras cobranças: Airton Pavilhão, Alcindo Bugre e Tesourinha. E se ainda precisar, eu bato a próxima. Grêmio tri da Libertadores!
Agradeço a oportunidade e me coloco à disposição. Grande abraço!
por Ricardo S.
Imagem: Reprodução/www
Publicado em 26.02.2010