Desde 2009 está no ar uma página especial de vídeos para o Bebeco Garcia. Pra variar, são raridades que esses sites participativos disponibilizam na “rede mundial de computadores”.
Tanto no conteúdo enviado pelo autor do canal quanto na sua lista de favoritos há imagens do músico, como uma série de 2007, a partir de programa da TVE-RS, gravado ao vivo. Aliás, até o momento o material publicado é todo composto por registros de shows.
Quem não conhece o trabalho do ex-guitarra e voz dos Garotos da Rua e de carreira solo com ‘O Bando de Ciganos’, é a chance de ter acesso; para quem sente saudades, hora de saciar olhos e ouvidos e aumentar o volume “pra mais de mil alto-falantes”!
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Curioso por saber da homenagem?
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Ricardo Santos Por que Bebeco foi escolhido para protagonizar este canal?
Zebu Knight Rider Muito bem, segue um pouco da minha amizade, carinho e respeito pelo homem, pelo amigo Bebeco Garcia.
A primeira apresentação a que assisti foi no ano de 1997, no antigo Big Bowling, em Chapecó (SC), noite inesquecível, porque ao sair de casa já tinha tomado junto com um amigo um litro de whisky, e lembro bem que consegui destruir a suspensão do Alfa Romeo 164, que tinha menos de 3000km. Isso na esquina onde morava, enfim, recolhi o carro em três rodas até a garagem e pensei: “Segunda-feira resolvo isso, nada me detém hoje”.
Ao chegar no show, logo comprei mais uma garrafa, e coloquei próximo à caixa de retorno do Bebeco, naquela noite estavam no palco Egisto Dal Santo, de jaqueta preta e cabelo raspado, e Fábio Ly na bateria, lembro também que Agnel Luner e Bays, de Chapecó, estavam colocando os valvulados no palco, lembrando a todos que a mágica só acontecia com valvulados, aquilo fazia um looping em nossos ouvidos, uma pedrada atrás da outra.
O show começou com “A vida é dura rapaz”, e assim foram músicas da carreira solo e clássicos da época dos Garotos da Rua. Confesso que pela primeira vez me senti realizado ao ver um instrumentista que controlava a guitarra com maestria singular, inigualável, nunca tinha visto algo igual, olha que fui a vários shows, e sou guitarrista desde 1994. Enfim, tinha que conhecê-lo, mas naquele momento Bebeco ainda era muito assediado e pouco tempo podia repartir, mesmo assim ele educadamente sempre atendeu a todos.
Próximo encontro: 1998, em Xanxerê (SC), também numa casa chamada Big Bowling, show com a mesma formação e sucesso, diga-se de passagem. Casa lotada com mais de 4000 pessoas e um show mais “chutado”, o time tava muito entrosado naquela noite.
Enfim, em 1999, no Acústico Pub, consegui conversar de verdade com o mestre, e dali em diante só amizade, e vários eventos e shows coordenados por mim em sintonia com o Egisto aqui na região oeste de Santa Catarina. Depois de um tempo, deixamos de lado o “artista” e começamos a conhecer o “ser humano”, e foi ali que a verdadeira amizade surgiu. Bebeco Garcia, um homem de bem, e do bem, falávamos quase toda semana, ele sempre com uma música nova pra mostrar, sempre preocupado em visitar os filhos, já que todos moravam em cidades distantes, mas sempre que desembarcava na rodoviária de Chapecó, um presentinho pra um filho vinha junto. Nessa fase de 1999 em diante começaram as apresentações com o Edinho Galhardi, baterista e fundador, junto com Bebeco, dos Garotos da Rua, um amigo de infância, que sabia bem os atalhos e contornar os altos e baixos do mestre. Uma amizade de mais de 40 anos, conforme Bebeco mesmo havia me contado, que iniciou lá em Rio Grande (RS), desde crianças.
Nos últimos anos, Bebeco havia se mudado para São Paulo capital, lá na Rua Augusta, lugar maluco, Bebeco parecia o síndico daquilo (risos), seguidamente encontrávamos artistas dos anos 80, e também alguns que estão aí buscando um lugar ao sol. Para facilitar um pouco a logística, Bebeco contratou músicos locais, nem tão locais, pois o Tuba (Faichecleres) é de Rio Grande, mas mora em Sampa, e o Joe Klenner (Inferno Club – São Paulo/SP) fazendo o baixo. Enfim, essa banda fez shows no centro do país, Rio e SP, também uma mini tour aqui no Sul; Joe nunca tinha visto tanta mulher bonita, queria sempre voltar a tocar. Mas todos sabemos que aquela posição era do Egisto (baixista, produtor, amigo, irmão, tudo), já o Edinho sempre fazia os shows mais “chave”, pois o Galhardi mora em Rio Grande e como todos sabemos, as distâncias são longas, mas isso nunca influenciou nos shows. O “Monsieur”, como Bebeco o chamava, conduzia a bateria com extrema maestria, sempre à altura exigida pela musicalidade do mestre. Diga-se de passagem, essa banda não ensaiava, Bebeco, Egisto e Edinho podiam tocar de olhos vendados.
Na última tour do Guns N’ Roses pelo Brasil, voltei a São Paulo, fui visitá-lo e ver o show no Parque Antártica, ficamos 3 dias pra cima e pra baixo atrás de peças de guitarra, e também comprei um Fender Reverber, se não comprasse Bebeco ia me matar. Testado e aprovado pelo mestre, ele sempre reclamando das dores nas costas, inclusive o Tuba tinha visitado ele à tarde e conversaram sobre isso, sobre massagens e energização, mas à noite Bebeco me confidenciou: “Zebu, tive que parar as gravações do novo disco porque não conseguindo coordenar a mão, vou dar um tempinho e vou consultar em Porto Alegre, esses dias tava até derrubando coisas com a mão esquerda, tipo a chave da porta do apartamento”. Eu disse: “Bebeco, na outra semana tô indo para Porto Alegre também, tem show do Guns lá e vou acompanhar toda a tour no Brasil. Nos encontramos na casa dos meus familiares, comemos um churrascão”, e ele me disse que o exame era segunda-feira.
Pois bem, na terça liguei, foi constatado um tumor benigno na cabeça, enfim, ele fez exames com outros médicos para tirar a dúvida.
Marcou cirurgia e fez, lembro bem da última conversa antes, eram 23h30min, pedi a ele que fizesse um oração e Deus o protegesse, ele me disse que iria conversar com Deus, já que não era adepto de orações decoradas. Pediu que não divulgasse sobre isso. Mas isso não foi possível, uma figura pública e tão querida como ele jamais iria passar em branco.
Outro dia sonhei, ele me visitou e disse: “Zebu, fica tranquilo que tá tudo bem comigo, tô trabalhando pro governo aqui, uma espécie de trabalho público com música ajudando pessoas”. Prefiro acreditar que seja assim, e que possamos manter nossa amizade para sempre.
Sua passagem aqui neste planeta se encerrou, mas sua obra jamais.
Bebeco é um astronauta, tem seu lugar garantido no céu, ou quem sabe ele tá afinando o lap steel no Paris Hotel.
Bebeco Eterno!!!
por Ricardo S.
Imagem: Reprodução/www
(Publicado originalmente em 2011)