SeuZé no RG

Ao contrário de Ponta Negra, região de Natal cujas dunas o mercado imobiliário está surrupiando cada grão de areia, em outro ecossistema – o da música, se preferir, o do Rock mesmo – os ventos vão soprando e levando a areia para bem longe. As dunas musicais potiguares há alguns anos estão em evidência, pela organização local e, naturalmente, pela qualidade das bandas, dos selos, dos festivais – isso mesmo, tudo no plural -, basta conferir nos encartes que fazem uso da lei de incentivo à cultura, ler matérias apontando que o público se faz presente… Nessa andada, ultrapassaram as fronteiras do Rio Grande do Norte, FeLL, Xandi Rocha, Lipe Tavares e Augusto Souza, dividindo um RG musical comum ao quarteto: SeuZé.

Criado em 2003, o grupo tem registros em demo; dividiu coletâneas junto a outras bandas; o EP “Realidade Não Tão Paralela” (DoSol Records, 2004); além do “Festival do Desconcerto” (Mudernage Diskos, 2005), o mais recente registro e que ainda rende notas, resenhas e coisas do gênero nas vias de comunicação afora. Incrédulos na palavra originalidade se o tema for arte, esta é a deixa para assimilar a variedade de Rock e Blues como linguagens universais, além dos gêneros da música feita no Brasil, extraídos de Sepultura a Noel Rosa. E em especial, a banda pernambucana Jorge Cabeleira e O Dia em Que Seremos Todos Inúteis, cujo segundo álbum – Alugam-se Asas Para o Carnaval, de 2002 – foi objeto de desejo e apontou a proposta musical dos quatro cabras no “Festival”.

Com o “Alugam-se” debaixo do braço, o SeuZé usou o saudoso sinônimo de influência como conhecimento, que corria feliz até metade da década de 90, até privatizarem o telefone, a energia, e encherem com mais piolho a cabeça do século. Privatizaram a música também, trazendo as novas (in)gerências e “diretrizes da indústria fonográfica”. Assim, os potiguares foram colando tudo que gostam e deram forma a mais um trabalho com “misturas”. Só que, alto lá, diferenciado acima de tudo pelas letras, como em seis faixas do lirismo-cabra que havia guiado o próprio Jorge Cabeleira (eles de novo!) nos anos 90 – a década de 70 e o trabalho do magote de cabras como Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Ave Sangria, Zé Ramalho da Paraíba, etc. O feito de agora vem com menos caloria lisérgica, sem táxis lunares, é bom lembrar, mas as letras dão a mesma peixeirada roqueira.

Depois da demo de 2003, o quarteto reforçou o meio-campo para reaparecer no ano seguinte com o EP “Realidade Não Tão Paralela”, três músicas ainda em estágio bruto, se comparado com o que veio em 2005 – o primeiro disco, cheio de desconcertos. Falando neste álbum, seis faixas partem da vivência no Nordeste para, infelizmente, tantos recantos do globo. São elas “Sai Galada”, expressão local para o singelo ato de virar vários copos (ou doses?) da limpa; seca e migração na faixa “Plantando no céu e colhendo no inferno”; e “Antônio Conselheiro”, para a minha surpresa. Quando ouvi que lembraram do beato de Quixeramobim num poema à altura dos grandes compositores do tema de Canudos (Fabio Paes, Antonio Nóbrega, Gereba, Padre Enoque Oliveira, Pingo de Fortaleza…), tiro certeiro! Outras seis faixas fazem parte do festival, universais, tal “Artemis”, dor de cotovelo samba-grunge (!); o bluesão “Não cuspa no prato que já comeu”; o dilema do “Retrato de um traidor quando jovem”… É aquela coisa que cantam em “Fim da Linha”: não adianta gritar sem poder falar! E esse SeuZé fala que nem um danado.

Abaixo, conversa com o Lipe Tavares e FeLL sobre o grupo, desde o início, influências, discos gravados, além de um capítulo reservado ao que acontece na música produzida no Rio Grande do Norte.

Se achar que a curiosidade mata (vive!), é rolar a barra à direita e conferir!

> > >

Ricardo Santos Qual era o pensamento de vocês em 2003 ao criarem a banda sem abrir mão de letras que falam do cotidiano nordestino e embaladas em Blues, Rock e iguarias musicais da região, e longe de ser uma implicância, ouvindo o álbum, não tem mesmo espaço para alfaias, rabecas e cavaquinhos eletrizados? Começa por onde esse tal desconcerto festejado no disco?

Lipe Tavares Bem, quando começamos a banda já éramos cientes que teríamos que levar em consideração a grande diferença de influências que havia entre nós. Por mais que já houvesse alguns pontos de interseção ,como Chico Buarque e Stanley Kubrick, as referências individuais eram muito distantes. Eu sempre ouvi muita música inglesa de diversas épocas e segmentos (Beatles, Radiohead, Blur, Pink Floyd) e, principalmente, música brasileira, desde Noel Rosa e Lupicínio Rodrigues, a Mutantes e Novos Baianos. FeLL – voz e guitarra – sempre gostou muito das bandas de Recife contemporâneas a Chico Science e do Rock nacional dos anos 1980. Xandi – bateria – tem mais afinidade com sons pesados como Sepultura e Pantera. Já Augusto, tem muita influência de Blues e de bandas como Paralamas e Muse. Imagina só a dificuldade de se lidar com todo essas referências. Era extremamente impossível seguirmos uma só dessas influências. Então, a misturada que pode ser encontrada no nosso disco não vem meramente de uma suposta falta de identidade da banda. É mais o assumir essa diferença de referências do que outra coisa.

Aconteceu que quando eu e FeLL convidamos Xandi e Augusto para montar a banda, estávamos viciados no segundo disco do Jorge Cabeleira, ‘Alugam-se Asas Para o Carnaval’. Essa foi a principal referência que passamos para os caras: “devorem esse disco”. Como a ideia era já começar a compor nos primeiros ensaios, naturalmente a estética daquele disco do Jorge Cabeleira influenciou bastante o nosso processo de composição nos primeiros momentos. Dá para perceber bem isso em canções como ‘Plantando no Céu e Colhendo no Inferno’, ‘Antônio Conselheiro’ e ‘Saudades do Sertão’. Talvez fosse legal que a gente se conhecesse melhor antes de começar a criar. Não sei. O fato é que ainda gostamos muito das canções que surgiram naquele momento, e elas foram e têm sido importantes para nossa carreira.

Sobre a ausência de elementos percussivos nas canções do álbum, nós até experimentamos usar alfaias, zabumbas e triângulo. Mas essa não é uma questão tão simples de ser tratada. Depois da repercussão e do hype em torno do Manguebeat, caiu no senso comum que qualquer grupo que mesclasse ritmos regionais com elementos da música estrangeira, ou misturasse guitarra com instrumentos típicos da cultura nordestina, estaria fazendo referência ao movimento encabeçado por Chico Science. Não quero aqui minimizar a importância do Manguebeat. Mas é necessário lembrar que outros grupos e movimentos já apontaram para essa direção há mais tempo, como foi o caso dos Novos Baianos, do Movimento Armorial e até dos Mutantes, por exemplo. Nem toda proposta que objetiva mesclar referências regionais com elementos da música universal remete necessariamente ao Manguebeat, ou seja, não precisa, via de regra, se valer de zabumba ou alfaia. É legal atentar que eu não estou contestando o conteúdo da sua pergunta, mas sim o senso comum.

RS Pois é, basta ouvir para ficar longe da preguiça associativa em relação à mescla Nordeste e Rock como marca registrada dos anos 90 ou Manguebeat, até por que, no caso de vocês, ainda existem as letras, um dos diferenciais da banda. Para completar, no Festival do Desconcerto somente uma não é da sua autoria ou do FeLL; quais as inspirações para criá-las? Juntando músicas e letras, poderia falar um pouco da divulgação e da receptividade pelo público e crítica acerca dos discos e shows?

LT Eu e FeLL nos valemos de muitas fontes para a criação das letras. Além da literatura universal, das situações do nosso cotidiano, costumamos levar muito em consideração a obra de compositores com os quais nos identificamos como Chico Buarque, Arnaldo Antunes e Tom Yorke. Destrinchar os encartes do disco e analisar com cuidado a maneira como esses ícones produzem é, sem dúvidas, uma grande escola. Também temos o hábito de tentar transpor linguagens e realidades presentes no cinema para os nossos textos. Somos fãs confessos da obra de Stanley Kubrick e Francis Ford Coppola. É interessante que muitas pessoas costumam estranhar a associação que fazemos entre cinema e música. Mas não há como não se render à genialidade da construção de personagens como Alex (Laranja Mecânica, Kubrick) e Michael Corleone (O Poderoso Chefão, Coppola), ou – puxando para a literatura – como o Senhor Grandet, de Balzac. Jamais pediria a mão de Eugénie Grandet em casamento (risos)!. Como costumamos nos reunir para assistir a filmes e passamos um bom tempo debatendo o que vimos, é natural que essas obras acabem entrando na lista das nossas referências. Muitas das nossas letras tratam de personagens que criamos ou pensamos existir à nossa volta. Os elementos que usamos para construir essas personalidades saem dessa lista de referências.

Sobre a repercussão do nosso trabalho, pelo menos em Natal estamos bem satisfeitos com os resultados que têm aparecido nesses quase quatro anos de estrada. Muitas pessoas conhecem as músicas e sabem todas as letras, e essa é a maior recompensa de todas. Há semanas fizemos um show no Tim Mada, com outras bandas independentes do país e outros medalhões já conhecidos. Devia haver mais de 9 mil presentes e muitos desses cantavam as nossas músicas do início ao fim. Claro que essa realidade ainda não acontece fora dos limites de Natal, mas já constatamos que há público para a nossa proposta. Pelo menos até agora a opinião da crítica, tanto local quanto de outros estados, tem sido muito interessante. Geralmente, num primeiro momento, estranham bastante a salada musical. Entendemos. Até nós mesmos, vez ou outra, ficamos meio confusos com tanta referência. Mas não temos como fugir disso. É o retrato fiel do que somos. Iniciamos a divulgação fora da cidade, em Fortaleza. Passamos duas vezes por lá e fizemos cinco shows. A receptividade nos surpreendeu. Os planos são de atingir novos mercados ainda nesse ano.

RS Falando em discos, o que mudou desde a demo, passando pelo ‘Realidade Não Tão Paralela’ (DoSol Records/2004) e o ‘Festival’, lançado em 2005?

FeLL Experiência em estúdio, amadurecimento musical e administrativo. Basicamente, isso foi o que mudou desde a elaboração do EP.

Enquanto no EP estávamos preocupados com a relação tempo x dinheiro no estúdio, com o andamento da elaboração de novas composições e criando uma sinergia interna, no Festival do Desconcerto tivemos a organização de enquadrar um projeto na Lei de Incentivo à Cultura e conseguir recursos para somar ao prêmio que ganhamos num festival de uma rádio local, concretizando o nosso disco sem nos preocuparmos totalmente com o dinheiro disponível e o tempo em estúdio.

Muitos ensaios, revisão de arranjos e reuniões para se definir como queríamos soar nesse disco. Tudo isso atrelado à carga de shows que não podiam parar, pois fazia parte da estratégia divulgar a banda em todo espaço que nos fosse aberto. Gravamos o EP antes de fecharmos com o selo DoSol. Após o convite para ingressar no cast, começamos a perceber um certo início de reconhecimento das pessoas. O DoSol nos indicou um designer para criação da capa do EP, decidimos um nome que representasse bem o mesmo e fomos em busca da finalização do material.

Com a finalização do “Festival do Desconcerto”, já no selo Mudernage Diskos, tivemos a noção do quão trabalhoso é lançar um disco. Um ano após o lançamento vemos que muito se amadureceu – o nosso relacionamento como grupo, como banda e como empreendimento.

RS Lipe, até onde vai a autenticidade de algumas letras de vocês que trazem parte da realidade do sertão, depois das citadas afinidades e influências universais que, a princípio, não aparentam ligação com a vida nesse canto do Brasil?

LT Eis uma questão difícil de ser tratada. Talvez a aproximação da banda com temáticas que fazem referência às realidades do sertão nordestino só tenha acontecido porque, mesmo que inconscientemente, precisávamos de uma unidade para as canções que estavam surgindo. As melodias e arranjos que fazíamos para as canções apontavam para aquela diversidade que pode ser constatada no Festival do Desconcerto e sobre a qual já conversamos.

Não é querendo minimizar a importância delas, mas são exatamente as nossas primeiras canções que tratam da questão do sertão, e têm arranjos que, de alguma maneira, remetem ao Nordeste. Naquele momento, nem tão longe, há três ou quatro anos, ainda estávamos muito preocupados em rotular a nós mesmos, em seguir um caminho definido. Como dentro das nossas diferenças estávamos ouvindo artistas que remetiam ao regional – Jorge Cabeleira, Alceu Valença, Zé Ramalho -, o regional foi o que vingou no começo do nosso processo de composição.

Com o passar do tempo e a partir do contato com outras referências, desistimos de nos preocupar tanto com uma identidade para a banda. Foi a maneira mais saudável que encontramos de deixar as canções falarem por si mesmas. Se uma música foi pensada como um tango ou um brega e o resultado for bacana, ela ficará assim, por mais estranho que isso possa soar. Costumo brincar dizendo que o SeuZé é uma banda-baile de si mesmo. A questão é que quando decidimos conviver em paz com as nossas diferenças, pelo menos em Natal, já tínhamos uma imagem consolidada de banda que falava sobre sertão e mesclava Rock com ritmos nordestinos. Mas já íamos bem além disso. O próprio ‘Festival’ traz canções que em nada dizem respeito àquela ideia de Nordeste seco e pobre.

Essa, inclusive, foi uma preocupação que também passamos a ter. Por mais que sempre tenhamos nos baseado em pesquisas para escrever os nossos textos, tratar de sertão e só falar em seca, êxodo rural e outras mazelas é compactuar com uma visão de Nordeste com a qual não concordamos. Para muitas pessoas de outras regiões, a ideia de cidades grandes e urbanidade parece não combinar muito com o Nordeste.

Não queremos agora fazer uma ode à urbanidade (risos), mas queremos escrever sobre outros temas e experimentar elementos e referências musicais que vão além da zabumba e do triângulo. Vamos esperar para ver aonde iremos parar. Se der saudades do sertão, a gente volta e traz a chuva junto (risos)!

RS E a arte do disco com caricaturas de vocês e estética de espetáculo circense?

LT A arte do disco sugere a realidade de um circo com papéis invertidos, uma celebração do desconcerto. No nosso circo o ser humano está no picadeiro e os animais ditam as ordens. Não somos ecologistas, e passamos longe de partidários do Greenpeace. A ideia é estimular uma reflexão sobre a humanidade do homem – por mais redundante que isso possa soar -, até quais pontos somos boas pessoas para nós mesmos e para as pessoas com quem convivemos. Até certo ponto uma discussão elementar, mas que de tão básica deixamos ela se perder na correria do dia-a-dia. As letras das canções trabalham em conjunto com as imagens nesse sentido. A concepção do imaginário do encarte foi nossa, mas contamos com a ajuda fundamental de Caio Vitoriano (designer) e Maurício Fontinelle (ilustrador).

RS Como você compreende o Rock feito no Rio Grande do Norte, aproveitando para inseri-lo no contexto nacional? E o SeuZé, o que tem a ver com isso?

LT O Rock feito no Rio Grande do Norte tem uma peculiaridade interessante. Não há um segmento que predomine e sirva para representar a cena da cidade, como aconteceu em Recife e tem acontecido no Rio de Janeiro, atualmente. Bandas de várias vertentes convivem pacificamente e dividem os palcos da cidade.

Tenho que admitir que o Rock do RN todo atravessa um ótimo momento. Possuímos um grande festival, o MADA, que foi muito importante para uma maior profissionalização da cena local. A partir dele, as bandas passaram a ter mais esmero na produção dos seus trabalhos. Temos bons estúdios de gravação e ensaio e, desde o fim da década passada, temos aprendido a nos valer das leis de incentivo à cultura. Três selos natalenses têm feito ótimos trabalhos de divulgação das bandas locais: Mudernage Diskos, DoSol Records e Solaris. Muitas bandas da cidade têm gravado bons cd’s, que têm recebido uma boa resposta das outras regiões do país, como o Revolver, o Bugs, Jane Fonda, Bonnies e a Experiência Ápyus.

Uma coisa muito bacana que está acontecendo em Natal é o fato de estarmos conseguindo consolidar um público consumidor de música autoral. Quando converso com colegas de bandas de outros Estados, muitas vezes eles acham que Natal é o Éden da música independente. O momento é bacana mesmo. Todos os fins de semana acontecem festas com bandas locais, os bares estão quase sempre lotados. E o melhor de tudo é que as pessoas saem de casa sabendo que vão ouvir trabalhos autorais. A cena está acontecendo, mas o trabalho não pára. A realidade é boa, mas pode ser bem melhor. Ainda temos que lidar com alguns problemas complicados de se resolver. Como a cultura do forró é muito forte no Nordeste, temos muita dificuldade para chegar com o Rock nas outras cidades do Estado. Excetuando-se alguns poucos nichos e eventos isolados, simplesmente não há espaços formados fora de Natal. Na segunda cidade do Estado, Mossoró, acontecem alguns festivais isolados de Rock, mas eles não são suficientes para movimentar ou fazer a cena da cidade funcionar. Desenvolver estratégias para chegar a esse público potencial pode significar abrir um mercado inexplorado para o SeuZé e para todo o Rock do Rio Grande do Norte.

Muitos projetos e decisões conjuntas da nossa cena Rock surgiram e têm surgido a partir do RN Rock, uma lista de e-mails que congrega músicos, jornalistas e produtores da cidade, e tem proporcionado experiências interessantes. Em nível regional, existe uma lista similar, a Nordeste Independente. Ambas já evoluíram para o estágio de portal.

Falando em internet, creio que ainda falte para muitas bandas do Estado ter a sensibilidade para entender que o momento que vivemos é de transição. As novas mídias e tecnologias estão aí para serem aproveitadas, e quem souber formatar o seu trabalho nessas novas possibilidades de produção e divulgação vai estar a alguns passos na frente. Quem viver sonhando, exclusivamente, com aquela chance de fechar com uma major, vai se frustrar bastante.

RS Em nível nacional, qual é o cenário perceptível?

LT Atualmente, o circuito independente cresceu a ponto de ser impossível analisá-lo como um fenômeno homogêneo. Estamos vivendo uma fase de transição na qual as grandes gravadoras vêem as vendas de cd’s despencarem ano após ano, e as novas tecnologias – internet e informática como um todo – permitem aos artistas independentes exercerem, na prática, aquilo que a alcunha que lhes foi dada sugere: a independência. Hoje, você grava o seu disco por conta própria e já consegue distribuir sem necessariamente estar atrelado a uma major.

Todo esse cenário tem contribuído para colocar o independente num grau de evidência jamais experimentado. Até a programação das grandes rádios e das tv’s especializadas provam isso, de certa forma. Experimenta prestar atenção nos créditos dos clipes da MTV e pesquisar sobre algumas bandas que estão nas rádios, boa parte desses artistas são independentes ou pertencem a pequenos e médios selos. Isso não quer dizer, necessariamente, que a prática do jabaculê esteja acabando, mas muitos artistas têm viabilizado estratégias para furar esse bloqueio.

É um fenômeno inevitável que o mercado vai ter que absorver, de uma maneira ou de outra. O porém que enxergo é o fato de as mesmas ferramentas que têm possibilitado esse boom da música independente servirem para inchar o mercado. Com o caráter instantâneo da internet, as possibilidades se abrem a todos os que estão atentos. A quantidade de bandas que tem um bom material gravado hoje em dia é assustadora.

Outro fator importante para o cenário independente é, sem dúvidas, o circuito de festivais. Eventos como o MADA (RN), o Porão do Rock (DF) e o Goiânia Noise Festival (GO) são responsáveis por apresentar as últimas novidades da música independente ao grande público. Tocar para plateias de mais de 10 mil pessoas é uma oportunidade gigante de estar em evidência, é um canal de divulgação que, se for bem aproveitado, pode alavancar carreiras.

O mercado vai absorver o circuito independente, como já está absorvendo de certa maneira, mas, dada a quantidade de artistas que está na estrada, não há espaço para todos. Estarão na frente da fila os que possuírem noção de autogestão e tocarem as suas carreiras de maneira profissional.

Outra coisa bacana que eu vejo acontecendo é a mudança do significado da palavra sucesso. Ter sucesso hoje em dia não significa necessariamente explodir em nível nacional. Com a regionalização dos mercados, muitos artistas já conseguem manter as suas carreiras com vendagens e divulgações exclusivas em suas regiões.

O momento é bacana e as possibilidades são muitas, mas, infelizmente, o futuro do cenário independente ainda depende bastante dos direcionamentos que o mercado fonográfico vai tomar nos próximos anos diante das novas tecnologias.

RS Finalizando…

LT Em nome do SeuZé e da música potiguar, gostaria de agradecer o espaço cedido. O papo foi bem bacana. Estamos sempre à disposição e esperamos pintar pelo Rio Grande do Sul em breve. Abram os ouvidos para a música independente. Há muita coisa boa que não chega às rádios e às tv’s.