Facebook pode nos deixar mais burros
Novo algoritmo impede confronto de ideias e construção de diálogo com o diferente
[Fonte: GGN]
Recentemente o Facebook anunciou uma nova mudança no seu algoritmo que permitirá que o usuário aumente sua interação na linha do tempo com seus amigos mais próximos.
Na prática, isso quer dizer que os feeds que serão reproduzidos na timeline de cada usuário serão de pessoas mais próximas e não tanto notícias, reportagens ou de pessoas que mantém pouca interação. Isso significa que a rede social aproximará cada vez mais pessoas que pensam igual e, portanto, afastará o contato do usuário com pessoas que pensam diferente dele. No artigo a seguir, assinado por Federico Nejrotti, a análise é que o novo modelo de filtro organizado pelo Facebook deixará o usuário mais burro vivendo em sua “bolha”.
“A condição criada por meio dessa política muitas vezes é chamada de ‘bolha de filtros’. Baseia-se na ideia de que redes sociais que usam algoritmos para definir as atualizações mais importantes aos usuários tendem a fornecer gradualmente conteúdo que se alinhe aos interesses e opiniões dos mesmos. A pessoa fica isolada em sua ilha de preferências”.
Como exemplo Nejrotti destaca o que ocorreu recentemente no Reino Unido, durante a disputa da votação que decidiu, no final, a saída do país da União Europeia. Segundo o relato de um usuário a favor do “Fico” no Facebook, para ele era bastante difícil encontrar postagens de pessoas contrárias à permanência do Reino Unido no bloco.
E por que o Facebook estabelece essa relação? Primeiro por dinheiro pois o modelo matemático obriga veículos de comunicação a pagarem ao Facebook para aumentar o número de visualizações e, segundo, o novo algoritmo torna a rede mais confortável para o usuário, que se sente mais à vontade para expor suas ideias entre seus pares. E, de certa forma, já fazemos isso sem a ajuda do algoritmo do Face, ou excluir das nossas páginas aquele parente ou colega de trabalho que insiste em publicar comentários que ferem diretamente nossos princípios políticos ou sociais.
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Motherboard Vice
A bolha de filtros do Facebook está deixando você cada vez mais burro
por Federico Nejrotti
Se você está lendo isso agora, considere-se sortudo.
O Facebook anunciou no começo desta semana que mudará o algoritmo que decide o que cada usuário vê em sua linha do tempo. No comunicado, o diretor de engenharia da empresa, Lars Barstrom, afirmou que, a partir de agora, você não perderá nada de seus amigos. Na prática, você deve ver cada vez mais conteúdo dos seus parças e migas e menos notícias, reportagens e afins.
As mudanças afetam um dos mais importantes valores das páginas de empresas e veículos na rede: o “alcance”. Tal índice mostra quantos usuários verão determinada postagem, ou seja, quantos usuários verão a atualização na linha do tempo.
Dado que hoje a maior parte dos adultos tem a rede de Zuckerberg como uma das principais fontes de informação – 62% dos americanos, de acordo com pesquisa recente da Pew Research – os efeitos podem ser, digamos, muito limitadores.
A condição criada por meio dessa política muitas vezes é chamada de “bolha de filtros”. Baseia-se na ideia de que redes sociais que usam algoritmos para definir as atualizações mais importantes aos usuários tendem a fornecer gradualmente conteúdo que se alinhe aos interesses e opiniões dos mesmos. A pessoa fica isolada em sua ilha de preferências.
Tomemos como exemplo a explosão midiática em torno do Brexit, o referendo realizado no Reino Unido para determinar sua saída da União Europeia: um usuário a favor do “Fico” no Facebook explicou quão complicado foi para ele encontrar postagens dos opositores já que, no dia em que o “Deixo” ganhou, buscou por postagens celebrando a vitória e surgiram poucos resultados.
“O Facebook está se tornando uma câmara de eco que nos previne de sermos confrontados por opiniões com as quais não concordamos”.
O problema não era só na sua linha do tempo. Ele também usou a busca do Facebook e não teve sucesso. Não é que não houvesse postagem sobre a grande vitória do Deixo, mas sim que o Facebook, ao identificá-lo como eleitor do Fico, não permitia que ele as visualizasse.
O Facebook tem interesse dobrado nessa questão: por um lado, a empresa precisa poder cobrar quem cria conteúdo e quer mais exposição – veículos jornalísticos, caso o leitor não saiba, pagam para aparecer mais nas linhas do tempo das pessoas. Do outro, precisa aumentar o número de interações de usuários na rede social. Quanto mais gente na própria bolha, melhor.
A prática afeta o conteúdo publicado por páginas públicas, claro. Os donos delas têm cada vez mais dificuldade em chegar aos usuários que as curtiram, e as únicas soluções são pagar ao Facebook para impulsionar suas postagens ou criar conteúdo feito para ser compartilhado. “Se muito do seu tráfego é resultado de pessoas compartilhando seu conteúdo e os amigos destas curtindo e comentando, haverá um impacto menor se a maior parte de seu tráfego vem diretamente de postagens na página”, explicou Backstrom durante o anúncio.
Conscientização
Isso tudo não diz respeito apenas ao gargalo midiático. O público dentro da bolha se verá cada vez mais fechado dentro de uma esfera de informações diminuta e separado de quem não pensa como ele.
O Facebook afirma que seu novo algoritmo enfatizará postagens “informativas”. Você consegue imaginar uma banca de jornais com estes filtros? Se você é de esquerda, nada de publicações de direita para você. Está do lado do Trump? Há boas chances de que sua fonte de informação favorita nunca informe de nada sobre Bernie Sanders – a não ser que o destrua. O mesmo vale para fãs de Bolsonaro e fãs do PSTU. As notícias vão de acordo com o gosto do freguês.
De certa forma, talvez devamos encarar as redes sociais como verdadeiros serviços sociais, um bem público – não somente um produto divertido criado por alguma empresa. O escândalo recente sobre a seção de “Tendências” no Facebook, mais influenciada por curadoria humana do que a empresa transparecia, mostrou que as pessoas estão começando a pensar nas maneiras como as notícias chegam até elas.
Ainda estamos brigando com todas as implicações de um público que se informa por meio das redes sociais. O fato é que, por ser algo novo, falta muito para compreendermos tudo isso. Mas, antes de tudo, é bom lembrarmos que a tal bolha existe – e ela só piora.
{ Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC }