No final de junho deste ano, foi publicada uma entrevista (e comentário) com o Eduardo Cecconi, que a princípio, seria sobre o livro ‘A noite que não acabou’.
Conversa vai, conversa vem, conversa boa, um leque de temas veio no rastro da obra assinada por ele mais o Nauro Júnior, e o Entrevero não podia ficar de fora, afinal, através do Eduardo esta turma foi apresentada a este que vos escreve.
O blog atualmente é editado e desenvolvido pelo Guilherme Mazui, santa-mariense de nascimento, santa-cruzense por “adoção”, e jornalista em Rio Grande. Resultado: para uma página que trata do futebol do interior gaúcho, com um retrospecto de gentílicos como esse, Mazui sua, honra a camisa e cadencia o jogo há quase um ano!
Criado em 2008, o espaço não é sazonal; atualizado com frequência, exceto a famosa dupla Internacional e Grêmio, quase todas as peripécias futebolísticas do Rio Grande do Sul ganham menção neste trabalho que, para o esporte no interior, dá um gás na informação e divulgação. Contratações, quem deixa o clube, novo presidente, lançamento de uniforme, tabelas, distintivos, vídeos, exposição na mídia nacional, enfim, o microcosmo “peleador” das quatro linhas do Estado passa por ali.
Em tempo: os times Porto Alegre, Cruzeiro e São José, todos da capital e agora na Série A do Gauchão, inserem-se no ‘interior’ do blog. Ou como assinala a descrição, “Galpão do futebol do Interior Gaúcho e da Região Metropolitana de Porto Alegre”
Apesar do suporte do Grupo RBS para desenvolver o conteúdo, os dois editores da história do Entrevero lidaram/lidam como grande parte da mídia alternativa: muita boa vontade, segundo eles nenhuma remuneração, e uma rede de colaboradores, entusiastas espalhados pelo RS e onde houver torcedor informado.
A conversa a seguir, com o Guilherme, abrange aspectos bem interessantes, desde o advento à persistência em torno de uma proposta virtual, da qual tanto gostamos de trazer ao Lado D, que possa disseminar experiências e inspirar pessoas/leitores na construção de linguagens úteis e autênticas.
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Lado D dos Esportes Olá, Mazui! É inevitável citar o Eduardo Cecconi neste primeiro momento da nossa fala, uma vez que ele começou o trabalho com o Entrevero, e também pela experiência dele com a editoria de Esportes, basicamente do futebol do interior no Rio Grande do Sul. Com você foi mais ou menos assim?
Guilherme Mazui Bom, minha relação com esporte é quase uterina. Tentei ser jogador de futebol, joguei na base do Santa Cruz (do Sul) até os 16 anos. A bola me largou.
Então resolvi estudar, entrei no curso de Comunicação Social – Jornalismo na Unisc, em Santa Cruz mesmo. Nas férias do segundo para o terceiro semestre, consegui um estágio no jornal ‘Gazeta do Sul’, o principal diário da região. Fui ficando, ficando, acabei contratado e trabalhei por quatro anos lá. Durante nove meses fiz Geral e plantões no Esporte, com Avenida e Santa Cruz no futebol, Corinthians no Basquete, mais Futsal, Atletismo e Automobilismo, práticas que mais se destacam na região. Depois, fiquei como titular no Esporte. Tratando de Futebol, fiz a cobertura de quatro Gauchões e três Segundonas, sendo que em uma o Avenida subiu. Foi uma festa e uma cobertura que me marcaram muito.
O período só aproximou minha relação com os clubes do interior e os jogadores, relação da infância e adolescência. As rivalidades, este cenário fascinante do interior, me prenderam. Sempre gostei de acompanhar o mercado, os treinadores, os jogadores com grifes. Muitas coberturas em treinos, jogos nos Plátanos e Eucaliptos.
Com a saída da Gazeta, assumi como correspondente de Zero Hora em Rio Grande, em outubro do ano passado. A função te afasta um pouco do Esporte, já que o correspondente cobre todas as editorias. Mesmo assim, fico próximo do Esporte. Costumo ir aos jogos do Rio Grande, São Paulo, quando possível, Brasil e Pelotas. Logo que cheguei, comecei a mandar notas para o Cecconi, e uma amiga nossa, a Cristiane da Silva, da RBS, tratou de nos apresentar por mail. Conversamos e comecei a ajudar no Entrevero!
LDE A fase de colaboração teve início em que período? O Eduardo falou que ficou distante das fontes, e mais ainda, por questão de tempo para conciliar com o trabalho em Porto Alegre, na mesma Zero Hora… Vejo que a lida com correspondentes pelo interior do Estado, tal como você fez antes de responder pelo blog, continua, então de que maneira incorre a sua impressão como novo editor?
GM Comecei a colaborar com o blog entre o fim de outubro, início de novembro, que marcou minha entrada em Zero Hora. Eu e o Cecconi atualizávamos juntos. Por dezembro, ele passou a missão de tentar manter solito o Entrevero.
Como repórter de um jornal do interior, acompanhava de forma assídua o Entrevero e o valorizava por ser um dos poucos espaços nos principais veículos de comunicação do Estado que sai do ângulo da dupla Gre-Nal. É o ponto forte do blog, onde ele se diferencia dos demais e arrebata visitas. Esta fuga da dupla Gre-Nal, este espaço que não costuma ser dado aos clubes do interior é a grande motivação para manter o blog atualizado, nem sempre como gostaríamos. Minha obrigação é com a Zero Hora, com Rio Grande e suas demandas. O blog é uma diversão não remunerada, ou seja, é feito fora de horário de trabalho. Em dias de correria total, fica difícil atualizá-lo.
Defensor do futebol do interior, apaixonado pelos nossos clássicos locais, as rivalidades entre cidades, as histórias e causos dos nossos gramados, fiquei honrado e motivado por dar continuidade ao blog. E o assumi em um período fértil, pré-Gauchão, entrando no campeonato, ou seja, com interesse todo focado no interior. Depois, a Segundona e a temporada baixa. Mesmo com Série C e D, Copa FGF, o interesse diminui, a maioria dos clubes fecha, enfim… Mas é preciso manter o Entrevero. Então procuro manter a pesquisa nos jornais das cidades, nos sites dos clubes e mando meu mail para todas as assessorias possíveis. Na correria que é ser correspondente, clubes com assessoria organizada entram com maior facilidade no blog. Procuro manter os comentários, porém fora do Gauchão ver um jogo é raridade, então o Entrevero registra os acontecimentos. Nesta mescla a gente leva o blog, divulga o Futebol do interior, a missão primeira do espaço.
LDE Então, espontaneamente, é difícil o pessoal encaminhar material? Por mais que seja “diversão não remunerada”, a gente sabe que vários blogs logo são desativados, tanto os estritamente pessoais quanto os ligados – pessoais ou não – a empresas. Você acha que o Entrevero, no que depender do(s) autor(es), e até mesmo no caso da Zero Hora, é uma proposta que veio para ficar, ter algo além do que rola com os clubes da capital?
GM Os clubes que enviam informações aparecem com maior frequência. Como o blog é feito nos intervalos da rotina de trabalho, facilita a missão. Pelotas, Brasil, Caxias, Atlético-Ca (Carazinho), Cerâmica (Gravataí), Guarany-Ba (Bagé), São Luiz (Ijuí) são alguns bons exemplos. No mais, é pesquisa em jornais locais e pedidos para amigos da rede da RBS ou de outros grupos.
O blog é uma bela ferramenta para os clubes se divulgarem, tem visibilidade e boa média de acessos – oscila entre 30 mil fora do Gauchão e bate picos de 60 mil ao mês durante o campeonato. Muitos torcedores que não moram no Estado ou país acessam o Entrevero para ver as notícias do seu e dos outros clubes. É o caráter de compilação de material estadual que dá força ao blog. Por isso sobrevive. É considerado importante dentro do contexto de blogs e da cobertura online do Grupo RBS.
LDE Como entusiasta deste nicho do futebol, imagino que tenha opinião sobre estes fechamentos de muitos clubes do interior após o Gauchão. Crê na possibilidade de ocorrer o contrário, e se você acompanha outras realidades dos demais interiores do Brasil, há algum exemplo a ser trazido na totalidade ou amoldado às características do Estado?
GM Gostaria de ver os principais clubes do Estado abertos o ano todo, mas entendo as dificuldades financeiras. Para não pagar os profissionais e complicar ainda mais as finanças é melhor ficar fechado. Futebol exige organização. Não há milagres. Infelizmente, salvo exceções em Caxias do Sul e Pelotas, os clubes do interior são a segunda opção dos seus torcedores, gremistas e colorados na maioria. Isso já é uma dificuldade, porém não adianta abobiná-la. É cultural, histórica. O futebol o ano inteiro é uma forma de amenizar o desequilíbrio, pois o torcedor gosta de ir ao estádio de sua cidade, cria identidade com clube, jogadores. Os clubes tentam quadro sociais, pacotes para o Gauchão, mas o que enche o estádio mesmo é resultado. Com futebol o ano inteiro fica mais fácil de fidelizar um sócio, de conseguir esta receita fixa que permite projetar o futebol. Sem cota de TV, a Copinha judia das finanças. Então é um desafio de gestão torná-la rentável. É assim por todo este Brasil. Futebol milionário é exceção.
LDE Em quase 1 (um) ano de atividades, imagino que tenham surgido circunstâncias bem curiosas, sugestivas ou não. Tem algum causo para contar?
GM Achei muito legal quando fui participar de um bate-papo com os alunos da UCPel, em Pelotas. De longe, fica difícil ter a ideia do que o Entrevero representa, da sua importância. Em Pelotas foi uma das referências do meu trabalho para manter o blog atualizado, o pessoal fez perguntas. É uma cidade que respira futebol de forma independente, então se identifica com o blog. De Pelotas e Caxias do Sul partem muitos dos comentários do Entrevero. É uma dificuldade policiar tais comentários. Por exemplo, o que cita “xavagay”, “lobogay”, não pode ser aprovado. Não gosto de editar comentários, então recuso. Acho engraçado quando sou ofendido via blog e o cidadão coloca que eu não vou aprovar o comentário mesmo. Sempre aprovo.
LDE Apesar de pequeno, o logotipo do blog é adequadíssimo ao imaginário do futebol gaúcho, tanto o construído aqui quanto em nível nacional, e deixá-lo de fora seria perder bastante desta aura. Sei quem são os clubes – vi num comentário publicado por lá -, mas estar contigo é uma chance de contextualizá-lo e buscar informações sobre as grandes peleias dentro das quatro linhas gaudérias.
GM Cara, se eu não me engano, a foto foi tirada em um jogo em Santa Maria. Não tenho certeza. Mas, independente do local, ela sintetiza o que é o futebol do interior, em especial o da Segundona, jogado no inverno, no frio e no barro – outrora, a primeira também era neste clima. Os gramados embrutecidos são realidades, juntos com as rivalidades. Ba-Gua, Rio-Nal, Ave-Cruz, Ca-Ju, Bra-Pel, Rio-Rita e assim por diante. Fazem parte dos charmes do interior.
LDE Há um emaranhado de espaços sobre esporte, em todos os tipos de veículos. Quais são os que você acompanha com frequência e/ou acha representativos a ponto de indicá-los?
GM Costumo acompanhar o noticiário, nacional, internacional, porém, busco informações para o blog nos portais do Estado mesmo. O ‘Ca-Ju na Rede’ e o ‘Da Arquibancada’, do Pioneiro e Diário de Santa Maria, atendem muito bem as suas respectivas equipes. O ‘Futebol Daqui’, de Pelotas, é um belo exemplo de cobertura local, com atualização constante. Vejo que faltam bons portais em outras regiões importantes, como Norte, Noroeste, Vale do Rio Pardo, Taquari.
LDE Guilherme, trégua do nosso entrevero pacífico, porém, se quiser continuar a “peleia ‘dê’ faca”…
GM Buenas, foi um prazer responder estas perguntas, poder mostrar um pouco dos bastidores do Entrevero. Gostaria de agradecer quem segue fiel ao blog e convidar os demais a acessá-lo. Na mídia, índices de audiência, de leitura, de visitação são balizadores dos espaços que cada área recebe. Se conseguirmos tornar o Entrevero forte, com uma rede de colaboradores mais eficaz e mobilizada, é possível abrir mais espaço na cobertura para o interior. É uma cruzada que quem defende o interior precisa entrar.
O pessoal pode mandar informações dos seus clubes para o meu mail, com sugestões, reclamações. Mobilizar mais seguidores é uma missão do Entrevero, que também busca um futebol gaúcho mais competitivo. O que aconteceu nas Séries D e C do Brasileiro não pode se repetir. Com torcidas mobilizadas no interior, espaço na cobertura esportiva, blog e torcedor cumprem a sua parte do trabalho.
Texto: Ricardo S.
Imagem: Reprodução/www
Publicado em 19.10.2010
October 19th, 2010 at 15:28
Ricardo, muito bom o material e a entrevista! Parabéns