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A luz no túnel
[ Editorial Semanal ]
O Brasil chega ao início de 2021 em plena segunda onda da Covid-19, com recrudescimento no número de infectados e mortos no contexto da pandemia. Uma verdadeira exaustão social, resultado do isolamento prolongado, do empobrecimento e de uma ativa pregação genocida perpetrada pelo governo de Bolsonaro/generais – que achincalha dia após dia qualquer medida protetiva frente à peste – desmobilizou quase por completo o já precário esforço de prevenção da população diante da proliferação do vírus.
À escalada da pandemia, deve-se somar o desemprego recorde, a inflação descontrolada e o fim do auxílio emergencial. À escalada da pandemia e à piora da situação de vida das massas, deve-se somar, ainda, um sistema político em frangalhos, dessangrado por uma encarniçada disputa de poder no interior das classes dominantes – de que a queda fulminante de Sergio Moro e da “Lava Jato”, heróis até ontem, foi apenas uma amostra de quão pesado este jogo pode ser – e desmoralizado aos olhos das massas, que ampliam pleito após pleito os índices de abstenções e votos brancos e nulos. Junte agora tudo isto e teremos todos os ingredientes de um verdadeiro caldeirão do diabo, que ameaça entornar seu líquido pútrido por todos os lados.
Enquanto os países imperialistas já iniciaram seu processo de vacinação, o governo federal acena com a imunização de um quarto da população ao fim de 16 meses. E mesmo este arremedo de plano soa como fictício, segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) divulgado no 21/12/2020, que aponta “eventual descompasso entre o cronograma de fornecimento das vacinas contra a Covid e o de entrega das seringas e agulhas”. De “brasileira”, aliás, a vacina só terá o nome: com o sucateamento da produção científica do País, resta-nos pagar, e caro, aos grandes laboratórios farmacêuticos transnacionais para acessar a vacina, em contratos quase sempre leoninos. Aqui vige, como em qualquer outro terreno, a busca pelo lucro máximo, que caracteriza o capitalismo em sua fase monopolista, o imperialismo. Basta dizer que, no dia 16 de outubro último, a Organização Mundial do Comércio (OMC) pautou um pedido de 99 países a favor da suspensão de todas as patentes de remédios e vacinas contra a Covid-19, mas esta reivindicação foi rechaçada pelos representantes da União Europeia, Japão e Estados Unidos. O Itamaraty, em vexame inédito, votou pela manutenção das patentes, associando-se a este novo crime dos imperialistas contra os povos do mundo, inclusive o brasileiro.
De forma oportunista, os humanistas de ocasião, tendo à frente João Dória, falam em começar a vacinação em prazo mais curto, mas enquanto isso não são capazes nem mesmo de fazer testagens em larga escala ou garantir a distribuição de álcool e máscaras à população. Estes vampiros fazem cabo de guerra sobre os cadáveres do nosso povo já a quase 200 mil, povo que se arrisca todos os dias nos transportes lotados, nas moradias insalubres, nas ruas apinhadas de desabrigados. No estado de São Paulo, a letalidade policial cresceu durante a pandemia, apesar da redução dos registros de crimes e prisões: a PM de Dória executou 514 pessoas no primeiro semestre, maior número em 20 anos. No Rio de Janeiro, mesmo com a restrição pelo Supremo Tribunal Federal das operações policiais, a roda genocida não parou de girar, baleando 22 crianças e matando oito apenas neste ano que finda. Este é o “isolamento social” garantido aos mais pobres.
Como se vê, estamos perante uma situação que já não permite qualquer recuo. Falar que o Brasil atravessa uma crise já é um eufemismo: vivemos, isto sim, uma verdadeira septicemia de todo o sistema político oficial, de alto a baixo, ancorada num colapso sanitário e econômico sem precedentes em nossa história. Mas esta situação encerra também todas as possibilidades de que realizemos, finalmente, uma grande e inédita transformação de toda a velha superestrutura. A história do mundo contemporâneo já registrou, mais de uma vez, povos saltarem do fundo do abismo para assumir a dianteira de grandes transformações sociais, com implicações universais, a princípio, imprevistas. Estará o Brasil da terceira década do século XXI diante de uma encruzilhada histórica deste tipo? Isso, ao fim e ao cabo, o tempo dirá. Mas é dever dos democratas e revolucionários consequentes acreditar que assim seja e orientar todos os seus esforços neste sentido. As condições externas para o triunfo de uma revolução variam; o que não varia é a necessidade, para que ela se realize, de um sólido movimento revolucionário, dirigido pelo proletariado, com uma clara e invencível estratégia, organizado e enraizado entre as camadas mais profundas dos camponeses e de todo o povo pobre das cidades. Esta é a luz no túnel.
{ A Nova Democracia }
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