“Eu” diante do “Outro”

24-05-2016a

Uma reflexão sobre ética

por Eliezer Belo

Elaborar a vida de forma individualizada durante todo o ciclo de história da humanidade nunca representou consistência temporal. A construção do comportamento humano sempre se espelhou nos reflexos que esta causaria. Sendo o ser humano um ser social por natureza ou condição, compreende-se que na sociedade ele se constrói. Dentro da sociedade ele se encontra e é encontrado; se encontra porque vê nos demais indivíduos da sociedade o seu diverso; é encontrado porque os demais o vêem como o diverso. Embora cada ser humano tenha suas peculiaridades na construção histórica, as ações de cada um tendem a causar reações nos demais. As reações dos demais servem como um norte comportamental. É de consciência social o indivíduo que procura encaixar-se ao todo, encaixar-se ao nível da tolerância e da aceitabilidade do seu grupo social.

Mesmo os sentimentos sociais mais primitivos tinham suas tendências de aceitabilidade, respeito e consideração ao mais apto pela sobrevivência, cuidado com princípios normativos a fim de evitar sanções legais e o cuidado com as rejeições dentro do grupo. É interessante proferir que as ações dessa relação não consistem apenas de imposições legais, mas, inseridas na mente humana; é na razão humana que se processa a necessidade de uma postura conveniente diante dos outros humanos. Deve-se pensar que essa impressão comportamental esteja inserida no homem pela construção de vida, de sua dependência social e como forma inata de sobrevivência.

Falta de identidade moral

As transformações sócio-econômicas que o mundo tem sofrido nos últimos dois séculos, desde a consolidação do capitalismo até a atual situação capitalista, acompanhada por uma pós-modernidade enxertada de avanços tecnológicos e nos sistemas de informação, o ser humano tem estado em estado de “crise”, uma crise causada pelo possível abandono à sua maior necessidade, viver em sociedade. Ser social é algo que está impregnado no consciente humano. É possível estar havendo um conflito dentro do próprio homem, um dilema. A necessidade de estar com o outro, mas o outro perdeu a sua essência, está mais distante, não é tão representativo e não interfere, forçando um individualismo apático ao que o outro representa.

O individualismo reproduz uma ignorância moral porque o seu referencial, o outro, perdeu o sentido pleno – que é avaliar a postura do “eu” diante “do outro”. Sem referencial não há identidade porque a causa da identidade é o referencial. Como construir uma moral e uma ética dentro de um ambiente sem referencial? O outro precisa aparecer, uma ordem precisa ser restabelecida.

A proposta da ética de responsabilidade social seria reafirmada se para isso fosse pensado na atitude consciente firmada em princípios e parâmetros sociais de responsabilidade e construção mútua entre os indivíduos. O retorno aos parâmetros que nortearam a sociedade durante sua jornada histórica deve ser objetivado na proposta da construção da ética, nesse momento de individualidade, falta de identidade moral e ética refletida em grupos que, de alguma forma deveriam demonstrar consolidar-se como representantes da sociedade.

Denunciar é importante, mas não suficiente

O momento de crise é o mais viável para uma reconstrução. Acreditando que acontece agora uma crise de identidade ética e moral, então esse é o momento de retomar as propostas éticas que tiveram êxito social enquanto vigoraram, refiná-las com uma hermenêutica da moral responsável, sem a influência dos olhares gananciosos e do espírito meramente capitalista, pensando numa responsabilidade sócio-econômica-cultural, a fim de alcançar os mais variados seguimentos étnicos e econômicos, sem, contudo, desconsiderar a liberdade humana. Uma elaboração com fundamentos que sustentaram a humanidade durante séculos de existência, olhadas, desta vez, a partir da pós-modernidade e dos novos parâmetros de sobrevivência, mas, parâmetros de sobrevivência decentes e responsáveis, viáveis à conservação da vida e da sociedade.

Já que há uma prisão ao sistema de informação moderno e informatizado, onde a televisão, mecanismo predominantemente usado pela imprensa, consegue a proeza de reunir as famílias frente a ela quase que todos os dias. Como seria interessante que a imprensa também assumisse o papel de “educador social”, primando por uma ética da responsabilidade social. Denunciar é importante, mas não é suficiente. Dizer que um corpo está doente não irá curá-lo. Chame um médico e ele mostrará a rotina para o doente e orientará a família. Talvez seja ilusória a pretensão deste artigo. Será difícil ele “descer redondo”, deixar o leitor numa “boa”, mesmo advertido pelo Ministério da Saúde em três segundos… “Se vira nos trinta”.

{ Observatório da Imprensa }

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