Cada cabeça, uma sentença!

18-04-2016a

Desde 2007, quando Joseph Blatter anunciou na Suiça o Brasil como país-sede da Copa 2014, além da alegria que tomou conta de parte do “País do Futebol”, não demorou para que rusgas também figurassem no clima do Mundial.

Escolha das 12 cidades-sede; projetos dos estádios; infra-estrutura custeada ou não com dinheiro público; andamento das obras; Lei Geral da Copa; corrupção na Fifa e na CBF; qualidade técnica da Seleção Canarinho; são alguns dos itens que tornaram o brasileiro comedido com o mega-evento futebolístico.

O âmbito internacional do anúncio em Zurique chegou a esse corpo-a-corpo local, onde cada ajuste tem sido disputado palmo a palmo, Estado a Estado, e até mesmo clube a clube. Em nível clubístico, as grandes disputas foram a saída do Morumbi do São Paulo Futebol Clube e a entrada do Itaquerão corintiano, e o Gre-Nal com a Arena do Grêmio e o escolhido Beira-Rio, do Internacional.

No Rio Grande do Sul, o impasse no formato de custeio da reforma do estádio colorado chegou a alimentar a esperança do Tricolor gaúcho, porém, mesmo com o atraso no reinício das obras – o começo, apesar de tímido, deu-se em dezembro de 2010 e parou em maio de 2011 -, a bola vai rolar à beira do Guaíba.

Entre empecilhos de construtora, Banrisul e o Inter, a rivalidade entrou em campo e não faltaram argumentos para as provocações dos lados azul e vermelho, no caso deste, houve até disputa interna nas tendências da cartolagem. Nos últimos meses, as construtoras OAS (Grêmio) e Andrade Gutierrez (Colorado) foram tão faladas quanto o Gladiador e Leandro Damião.

Inúmeras teorias da conspiração saíram dos salões de presidentes e conselheiros da Azenha e da Padre Cacique, repercutindo na imprensa e na boca da galera, de forma a se tornarem curiosas pela riqueza de criatividade.

Uma parte do repertório vem a seguir, com as múltiplas opiniões de seis torcedores, três de um lado, três do outro, todas transcritas na íntegra a fim de passar seus verdadeiros contextos. As perguntas incidiram em questões como “Vale a pena ter estádio próprio e arrendá-lo às construtoras por 20 anos?” e ”Acha interessante apagar parte da história com as destruições do Olímpico (Grêmio) e do Eucaliptos (Inter)?”.

Imaginação e argumento são o que não falta! (Ricardo S.)

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“O que é melhor, comprar um carro novo ou querer reformar um Chevette? Vale a pena reformar uma coisa velha? Tu não vai agregar valor nenhum. São Paulo tem estádio público, e o Grêmio, vai jogar em que lugar, no Beira-Rio? Entendeu? Tem que construir, sim, é uma zona que vai valorizar muito Porto Alegre, é um estádio novo, moderno, com fácil acesso para a região metropolitana, fácil acesso de Porto Alegre, não vai ter que atravessar a cidade para ir ao estádio, não é vantagem? Alguém vai construir uma casa e dar pra ti? Aliás, o terreno não é do Inter, é uma concessão da prefeitura, de que adianta tu ter uma coisa se ninguém vai dar nada de graça? Louco quem acreditou que o Inter tinha dinheiro para reformar, essa é a balela do presidente, que na hora que teve que botar o dinheiro, não tinha. Nem tinha o dinheiro e ninguém quis dar garantia, por isso que demorou a sair, ninguém acreditou que reformar um prédio velho era melhor que um novo. Como o do Grêmio, teve algum problema de financiamento? Porque ninguém investe em prédio velho! Se tu for comprar uma casa, vai ficar pagando quantos anos para o governo? Ninguém te dá nada de graça, foi um negócio. Por que que ninguém pode ver o contrato do Inter? Por que o contrato do Inter é sigiloso e o do Grêmio é aberto? Por que o conselheiro do Inter tem que andar de segurança para ver o contrato? Não é permitido que olhe o contrato sozinho, porque ele pode fotografar e ainda tem que assinar um compromisso que não pode contar sobre o contato que ele leu. Cara, envolve muita coisa. Falaram que era uma novela chamada “Avenida Beira-Rio”, uma novela de 2 anos, ninguém queria financiar o estádio do Inter, porque não vale a pena. Não vi um gremista falar mal da troca do estádio! Quem vai nos estádios quer conforto, claro que tem que mudar, tu paga um dinheirão para sentar no cimento?”

(Alexandre Júnior, gremista)

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“Em hipótese alguma, o Inter sempre foi independente, não precisava fazer essa parceria, poderia até reformar o Beira-Rio a longo prazo e com recursos próprios, mas não ficar dependendo de uma construtora, fui e sou totalmente contra. Ali eu acho que foi mais é politicagem, para arrecadar verba para modificar o próprio Gigante, eu conservaria o Eucaliptos e faria um CT, pra base e pro principal, vai fazer CT lá em Alvorada, Cachoeirinha, Gravataí, não sei onde mais, o deslocamento, uma tristeza que dá, e no entanto, o Eucaliptos ficava ao lado do Beira-Rio, ali está praticamente toda a história do Inter, desde 1909 até 1969. O Inter inaugurou o Beira-Rio em 6 de abril de 1969, até ali era só no Eucaliptos, é um patrimônio que botaram fora para arrecadar dinheiro para a reforma, investir nas categorias de base… O futebol não deixa de ter política, sempre tem que ter uma política, tu já viu um treinador chegar no Grêmio ou no Inter sem recomendar a contratação de um jogador que ele adora, que ele acha que é craque e depois o cara não joga nada? Isso também é política. Todos os grandes clubes do Brasil têm política, pode ver, onde tem um treinador famoso ele sempre busca o jogador que já teve como atleta, veja quantos jogadores Renato Portaluppi pediu para contratar e veja quantos ainda estão no Grêmio? Não deveria fazer essa parceria de 20 anos, tu tem uma coisa tua e tu vai se desfazer daquilo para construir uma outra e depender 20 anos a troco de nada, praticamente? 50% de cada lado, mas têm os ferrenhos do argumento de coisa nova, o Beira-Rio tem acesso fácil, agora o acesso da Arena do Grêmio vai ser difícil pra caramba, bem no meio da Freeway, o Inter tem a Padre Cacique e a Beira-Rio, faz o contorno do Menino Deus. É que o Grêmio quer um estádio novo!!! É o tal negócio, o que está teoricamente sucateado, fazer uma revolução, mas fica devendo a cara para todo mundo, e se deixar o Estado fazer, tu nunca vai ser dono de nada, tu joga mas nunca vai ser dono de nada”.

(Airton Diehl, colorado)

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“A ideia da concepção do novo estádio, a Arena, poderia ter sido aplaudida, salvo alguns detalhes. O Olímpico está longe da defasagem, porém, carece de diversos fatores que são essenciais para se apreciar o futebol nos dias de hoje. A falta de demarcação de lugares e sua localização, por exemplo, tornaram-no obsoleto. A Arena, por sua vez, contará com fácil acesso e será um estádio, ao menos no papel, ao nível dos europeus. Todavia, não seria possível realizarmos as obras com outros recursos que não os da empreiteira? O Olímpico situa-se em uma zona muito valorizada de Porto Alegre, contudo, foi repassado à construtora praticamente sem custos. Grande parte dos torcedores, tanto de Grêmio quanto de Internacional, aprovaram seus novos estádios. A questão da demolição dos antigos não os afetou. Basta lembrarmos de um dos templos, não só do futebol, mas como de outros esportes: Wembley, na Inglaterra. Ele foi demolido e construído do zero, sem que isso afetasse a admiração do público pelo mesmo. Na minha opinião, a construção dos novos estádios não está de todo errada. A exploração de novos horizontes sempre foi necessária. Eles se tornaram um marco na história dos clubes. Resta saber se será do ponto negativo ou do ponto positivo. Isso só o tempo nos dirá”.

(Matheus Kiesling, gremista)

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“Eu sou contra a reforma, venderam o Eucaliptos, estão investindo e vai ficar na mão da construtora, 20 anos, eu sou contra, não sou a favor! Os outros torcedores têm quase essa mesma opinião, quem é a favor o argumento é que o estádio vai ser bonito, modernizado, mas só que não vai ser do Inter por 20 anos. O pessoal mais da época é que comenta, ‘venderam o Eucaliptos e poderia ser a base, museu’, o pessoal daquele tempo comenta que não precisava ser vendido, que nem o presidente antes, Vitorio Piffero, esse estava contra a reforma desse jeito, queria fazer com a força do clube, bateu ponto mas não adiantou. Não cheguei a ver nenhum jogo no Eucaliptos, nenhum treino, nunca tive a oportunidade de ver um jogo lá. Sobre o Grêmio, eu também não faria, deram o espaço do Olímpico pra fazer um novo, afastado de tudo, tendo um estádio bonito que nem o Grêmio tem também, com história, com a torcida já identificada, mas tudo é política, né? Tudo é grana!”

(Fábio Sprenger, colorado)

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“Por um lado é bom, porque tu vai ter um estádio moderno, mas por outro lado é ruim, porque é o seguinte: pelo fato de ficar 20 anos na mão da financeira, acho que é um risco que não era necessário correr, porque o clube tem outros meios de investimento, não precisava ter feito esse contrato. O Olímpico é próprio, vai ser desmanchado e parece que vai ficar para eles, e nesses termos eu acho que é ruim. O pessoal vai mais a favor, pelo fato de ser um estádio moderno e bonito, mas eles não pensam na questão dessa dívida que o Grêmio vai ficar pagando. Eu acho que é uma tristeza, porque é uma história que vai ficar para trás, fica no passado, os maiores títulos que o Grêmio conquistou foi no Olímpico, agora começa tudo de novo, claro, ninguém vai tirar os títulos, mas vai ter que reconquistar de novo. Eu acho que com o Inter é o mesmo caminho, agora é tudo festa, mas depois vão sentir”.

(Tiago Veríssimo, gremista)

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“Hoje, por exemplo, com a torcida que o Grêmio tem não precisava dar aquela área do Olímpico, com história, tudo, e cedeu para uma empresa. Vai fazer um estádio novo, o Grêmio não vai ter ônus nenhum, porém, é assim, quando terminar a obra, ela entrega a Arena para o Grêmio e o Grêmio entrega toda aquela área nobre para ela, o que é que acontece? Ela vai investir esse dinheiro e vão construir um baita prédio residencial, comercial, e o que vai acontecer nesse meio tempo? Nesses 20 anos, ela vai explorar o estádio, então, eu acho que o Grêmio fez um péssimo negócio, na minha opinião, se o Grêmio precisa sair dali, que a área é pequena, que arrumasse uma empresa. Como tem um monte de fortes empresários, porque aquela área do Humaitá foi doada, então, que o Grêmio fizesse o estádio dele todo, se mudasse para lá, aí venderia a área do Olímpico, pegava o dinheiro arrecadado e investia, mas… A maioria é a favor, a gurizada, menos o pessoal que tem mais de 40, por aí, tanto é que o ex-presidente do Grêmio, Fábio Koff, foi contra, um senhor presidente. A história é para o pessoal mais da antiga, a gurizada quer estádio novo, se eu pudesse dar uma opinião, se quer ser chato, vamos fazer um estádio novo? Vamos, aproveita a área nobre e pode explorar, amanhã ou depois, pega uma empresa, constrói e divide os lucros, na pior das hipóteses. Devia ter um debate com o torcedor, aquele sócio antigo, como é que vai ser? Por exemplo, o Grêmio tem 50 mil sócios, como é que vai ser? Ah, não, lá ele vai ter que pagar o ingresso, e quem vai pagar para ele? O Grêmio! A do Inter vai ser assim: vai dar uma entrada pros caras e depois disso, fora shopping, farmácia etc., mas loja de artigos esportivos e toda a área de futebol vai ser para o Colorado, e o Grêmio vai ter um percentual pequeno. O Grêmio, por exemplo, vai ser Arena alguma coisa, não pode ser Arena Grêmio, o do Inter vai continuar Beira-Rio. Se tu vai falar com um gremista, ‘Ah, o gremista vai falar mal do Inter’, e vejo que o Inter não deveria fazer nem nesses moldes, foi obrigado a fazer por ser campo Fifa, campo Copa do Mundo, o que aconteceu? A Fifa disse que tem que ter estilo Fifa e tem que arrumar empreiteira. O estádio, se for remodelar, não vai esse dinheiro todo, o Inter poderia fazer com dinheiro próprio, se fosse como era a ideia de alguns dirigentes, mas como é para a Copa, tem que mudar todo o campo, agora não tem mais volta. Venderam, mas quando venderam e deram  o Eucaliptos como adiantamento, pelo que consta, não vendeu para a Andrade Gutierrez, mas ela vai ter que fazer CT e outras coisas. Bah, eu poderia ter a oportunidade de ver um jogo no Eucaliptos, acho quem em 97, 98, teve um jogo num domingo de manhã, um amistoso do time principal não sei se com um time de Farroupilha, mas não cheguei a ir… Até onde eu sei, pois têm coisas que a gente não tem acesso, o Inter vendeu aquela área para fazer a reforma do Beira-Rio, mas é a única coisa que eu fiquei meio assim… Aquele estádio simplesmente foi abandonado, desligado total, devia aproveitar a história, fazer uns jogos do Gauchão, mas não sei… O Inter tem o Gigantinho, mas por que ali não poderia ser para show também? De repente, é estrutura para manter, coisa e tal, e daí vendeu… Tanto é que os colorados dizem: ‘Ah, tu quer dar a Copa para o Grêmio? Pode dar!’, por que quem vai jogar aqui? Talvez o Uruguai… Então, não vejo tu se endividar por causa disso, por que não deixar para o Grêmio, fazer a reforma do seu estádio e pronto?”

(Adelar Forneck, colorado)

Publicado em 25.04.2012

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