No final de fevereiro, a Copa do Brasil 2015 teve início e as imagens dos contrastes futebolísticos no país, mais uma vez, ganharam as manchetes.
De cara, realidade que não é restrita ao Brasil, provavelmente, em todos os recantos que possam rolar a bola no decantado formato “profissional”. O “provavelmente” apenas pelas exceções que talvez as ilhas do Pacífico, do Caribe, etc., tenham maior igualdade entre as equipes, de várzea ou não. Pois o que consta é que as quatro linhas refletem as realidades sócio-econômicas, já que diferenças entre municípios, estados, países, regiões, são recorrentes, e determinada peça jornalística significa uma lente de aumento, para bom entendedor.
Ocorre que é inevitável não anotar algumas palavras quando os “times grandes” chegam aos “grotões” – termo imortalizado pela disputa eleitoral de 2015, como instrumento de preconceito nacionalizado. Com dois empates e derrota em clássico, os grandes clubes recorrem às saídas distantes da torcida “evoluída” dos “Estados ricos” da federação, porém, as recepções aos mesmos no interior do país, pode acreditar, até a última entrevista de quem vivencia esta experiência, serão lembradas.
Carinho nunca é demais, e neste mundo até no lúdico do futebol parece incomodar, uma vez que pipocam os tradicionais termos pejorativos, como pasto, chiqueiro, o estranhamento diante do que a própria turma da mídia provoca e sobrevive: o bombardeio das antenas perante olhos e ouvidos, sem que haja diferença dos que pagam dezenas de reais para ver enlatados gringos, esquecimento das produções locais, ou seja, tanto a bola rolando quanto as antenas irradiando é sinal de capitalismo, negócios. No entanto, é impossível passar incólume ao assistir às imagens de verdadeira massa nos grotões, acotovelando-se em aeroportos, fazendo carreatas para recepcionar os clubes capitalinos, o que nem o bombardeio midiático obscurece, pois transforma-se em respeito, paixão.
Fatos que Chelsea, Milan, Barcelona, os campeões de vendas desde periferias aos shoppings de bacanas, jamais provarão tamanha proximidade, a mesma que não faz os locais do interior do Brasil trocar o carinho pelo clube da cidade; estranho é gente se incomodar e rotular este carinho dos outros, alvos fáceis são as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Como o Santos parando guerra na África, o Haiti recepcionar a Seleção, os mercados sul-americanos se abrirem para os atletas da região, enfim, ridículo sair para enumerar, respeito é respeito e valoriza ou decorre das boas relações.
Exceto as zebras que surgem neste campeonato-raio-x, tal os que existem nos grande$ centro$, as rodadas vêm e revelam exatamente o que as leis de mercado influenciam na sociedade. Quer dizer, em torneios como a Copa do Brasil, e na vida fora das quatro linhas, o sistema propõe que o “menor” jogue para perder de menos de dois gols em casa, e fora, na retranca e arriscar os pênaltis. Associados a culminar em cruzamento entre dois grandes e na ponta oposta da tabela, liberar um “pequeno” para chegar à sonhada final. O que vale é como os turistas e seus conhecimentos limitados ao consumo, “perder por menos de dois de diferença para conhecer o Maracanã” e similares.
Grande campeonato, tão real que preconceitos e caras de pau irritam, depreciam, humilham, mas a humildade ganha no final. Vêm e pegam o que consideram melhores dos “timecos”. Com ou sem pênaltis. Tomando ou não dois gols em casa. O troféu é dela.
Publicado em 04.03.2015