Um recorte logístico de como a política interfere negativamente, neste exemplo, no esporte alemão.
Mas, Nazismo de lado, são dezenas de tipos de interesses escusos que pegam carona no ambiente de esforço físico e lúdico das práticas esportivas.
Quanto aos xingamentos nos campos tedescos, não esquecer do que é a mãe do juiz; em que lugar irá tomar aquele jogador que errou o lance ou o odiado pela torcida; o que falam de um Richarlyson; vaia aos hinos nacionais; as provas de amor que saem dos cânticos para a PM; negros errando um passe; a reação à presença de meninas como cheerleaders, gandulas ou na arbitragem etc.
Coliseu é coliseu! (Ricardo S.)
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Neonazistas alemães usam o futebol para divulgar sua ideologia
por Olivia Fritz (mp)
[Revisão: Alexandre Schossler]
O futebol é a modalidade esportiva mais popular da Alemanha, e também os políticos gostam de “tirar uma casquinha” da popularidade do esporte. Até mesmo a chanceler federal alemã, Angela Merkel, apareceu na mídia, durante a Copa do Mundo de 2006, ao lado de jogadores ou acompanhando jogos nos estádios.
Mas não só os políticos fazem uso da popularidade do esporte das massas. “Por saber disso, grupos neonazistas fazem o mesmo”, afirma o jornalista Ronny Blaschke, autor do livro “Angriff von Rechtsaussen – wie Neonazis den Fussball missbrauchen” (Ataque da extrema direita – como neonazis se aproveitam do futebol).
Ele não se concentrou nas ligas profissionais, pois nelas a exposição de símbolos da extrema direita, como a suástica, por torcedores de tendência neonazista é sabidamente mais difícil, mas privilegiou o esporte amador. Ainda assim, o resultado da apuração feita por Blaschke em diversos clubes alemães e no seu entorno é assustador: o futebol alemão tem um problema, tanto no Leste como no Oeste. É só uma questão de observar com cuidado.
Neonazistas não são facilmente reconhecíveis
Jaquetas de couro, cabeça raspada e coturno: esse estilo já está ultrapassado, segundo Blaschke. “Não se pode mais reconhecer tão facilmente os neonazistas. E no futebol isso fica claro.” Nesse meio, os radicais de direita expressam sua ideologia através de códigos ou símbolos específicos.
Eles priorizam, por exemplo, certas grifes de roupa. Também os escudos dos clubes são complementados com a águia imperial alemã. Ou, em jogos das ligas amadoras, um grupo uniformizado de torcedores neonazistas se dispõe nas arquibancadas de maneira a formar uma “suástica humana”.
Números estampados nas camisetas dos clubes também podem trazer uma mensagem. Por exemplo, o 88. “Isso poderia ser a idade da avó ou o ano de nascimento do filho. Mas pode também ser a saudação ‘Heil Hitler’: o H é a oitava letra do alfabeto”. O mesmo vale para a combinação de 1 e 8, que equivaleriam à primeira e à oitava letra do alfabeto: A e H, iniciais de Adolf Hitler.
Futebol: plataforma perfeita
Além de tudo isso, a estrutura das torcidas organizadas extremistas, como os ultras, fornece pontos de contato para os grupos de extrema direita. Assim como os grupos neonazistas, as torcidas organizadas são compostas principalmente por homens jovens, que se organizam de forma hierárquica e para os quais o clube significa muito mais do que uma simples ocupação das horas vagas.
“Frequentemente ouvi de torcedores o mesmo vocabulário dos integrantes do NPD [partido alemão de extrema direita]“, relata Blaschke. “Honra, coesão, pátria, lealdade. É, portanto, muito fácil combinar uma coisa com a outra”, afirma o jornalista.
O assistente social Andreas Schmidt observa fenômeno semelhante. Ele trabalha no projeto voltado aos torcedores do Colônia. Ele lembra que no futebol trata-se também de criar rivalidade e excluir os adversários. “Xingamentos são comuns no futebol. A questão é somente como alguém será xingado”, diz Schmidt.
Quem já esteve numa arquibancada e já prestou atenção aos cantos das torcidas sabe exatamente do que Schmidt está falando. Antigos ídolos que trocaram de camisa e agora jogam para o arquirrival são chamados de “ciganos”, por exemplo. Também homofobia e outros tipos de insultos são comuns. Quando se faz parte de uma massa anônima, preconceitos e difamações vêm com mais facilidade à tona.
Clubes amadores
Principalmente no esporte amador, Blaschke observou reiteradamente como neonazistas se infiltram nas torcidas ou até mesmo atuam como trabalhadores sociais voluntários nos clubes, como treinadores de divisões de base ou até mesmo como árbitros de partidas.
O futebol é o espaço perfeito para isso, se comparado a outros esportes. “Isso existe também no basquete e no handebol, mas não é tão desenvolvido e reforçado pela tradição e pela cultura”, explica. No esporte amador, um neonazista ou um integrante do NPD também poderia ser treinador de natação, por exemplo. “No hóquei no gelo, eu já ouvi falar de coisas assim, mas não é uma prática comum”.
Blaschke enumera uma série de exemplos que mostram que hoje os neonazistas divulgam sua mensagem de forma muito mais sutil, e que não é possível separar futebol e política, mesmo que muitos torcedores não queiram admitir isso.
Ele cita, por exemplo, o caso de um líder de torcida organizada “ultra”, candidato a representante municipal pelo NPD, que usa as cores do seu clube de futebol nos seus cartazes de propaganda.
O que fazer?
O projeto voltado aos torcedores do Colônia se engaja em diferentes campanhas de esclarecimento e também organiza excursões para centros de memória sobre as consequências do extremismo de direita. Existem também diversas iniciativas isoladas, que tem a juventude como público-alvo.
O Arquivo de Imprensa Antifascista de Berlim, por exemplo, apoia muitas dessas iniciativas e presta esclarecimentos sobre diferentes emblemas e códigos usados pelos neonazistas.
A questão não é nova, mas pouco é feito para enfrentá-la. Também por definição o problema não é tão simples. O que é exatamente “extrema direita” e quem pode ser classificado como tal? Blaschke alerta que é preciso ter muito cuidado para julgar, quando se trata, por exemplo, de hooligans, skinheads ou ultras. “É tudo muito difícil de decodificar. É preciso se esforçar e analisar separadamente”.
{ Correio do Brasil }
Publicado em 10.11.2011