La Marca #1

20-02-2016c

Junto dos textos das agências de notícias hermanas, a possibilidade de conhecer também marcas ligadas ao esporte foi fagulha para a criação do Lado D.

De 2009 para cá, só agora é publicado o primeiro material, sem Nike, Puma, Adidas, até porque estas são desterritorializadas, mas aproveitando trabalhos em menor grau de exposição, o que nada tem a ver com inferioridade, baixa criatividade, etc.

A série “La Marca” traz a ninibin, que miniaturiza a boleirada.

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20-02-2016d

Será que é perna de pau?

A expressão “boneco” não é dos melhores adjetivos no meio futebolístico, e tem para o atleta sinônimos como estático, grandalhão, corpo mole, de pouca utilidade tanto na carreira esportiva ou numa determinada partida. “Boneca” então, é corpo mole e sexualidade contestada pelos moralistas dos estádios, que não são poucos. Mas como em toda regra, há exceção.

No Brasil, tido como “O País do Futebol”, a ressalva vem em 2008, com a ninibin, empresa que aproveitou a paixão esportiva das quatro linhas, utilizou o termo ao pé da letra e fabrica miniaturas, ou se preferir, bonecos com a turma que faz sucesso nos gramados. É verdade que houve a série de minicraques na Copa da França – 1998, lançado pela Coca-Cola – como promoção esporádica, e no país à época tetracampeão, ninguém comercializava as réplicas dos astros das multidões.

Agora, após a criação da ninibin, estes itens têm tudo para vingar e fazer parte das coleções dos torcedores, junto dos álbuns de figurinhas, revistas especializadas, livros, posters, quadros, que sempre foram os mais acessíveis. Por outro lado, é possível que os mestres da bola deixem de lado o incômodo com o termo, como o folclórico caso de Adriano “Il Imperatore”, ou Adriano Imperador, cuja despedida precoce do Flamengo, nos anos 90 foi atribuída não só ao dinheiro da venda para a Inter de Milão, mas também pelo apelido de “Bonecão de Posto”, dado pela torcida do Rubro-Negro.

Sediada entre Gravataí (fábrica) e Porto Alegre (representação), no Rio Grande do Sul, o Lado D contatou com Rafael de Albuquerque, criador da marca, que fala sobre o empreendimento e a incipiente cultura dos craques miniaturizados.

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A_Luzerna_Falas Lado D dos Esportes Quando teve início a ninibin, Rafael?

A_Luzerna_Falas Rafael de Albuquerque 2008, cara. Na verdade, eu era estagiário do Internacional, o clube do meu coração, e em meados do ano eu me formei em Publicidade e Propaganda. Como estava dentro da área comercial, eu “Pô, tenho que montar alguma coisa para aproveitar o Inter, abrir um negócio, que era sempre uma vontade que eu tinha”, e unindo com a paixão, surgiu a ideia de criar os bonequinhos do clube.

Não tinha no Brasil ainda, o histórico eram os minicraques da Coca-Cola, aquela coisa do caricato com a Seleção, então a gente surgiu em dezembro, se não me engano, foi até na final da Copa Sul-Americana, e lancei o Guiñazú. Foi o primeiro trabalho, e começou a abrir portas, alguns clubes começaram a vir atrás de mim, logicamente porque eu era o primeiro case.

A_Luzerna_Falas LDE Clubes daqui?

A_Luzerna_Falas RA Não, para você ter uma ideia, o segundo clube com quem fechei foi o Flamengo, demorei um pouquinho para fechar com o Grêmio, por causa das restrições de contrato. Aí a gente foi fechando, veio o Flamengo, o Botafogo, o Cruzeiro, Atlético Mineiro…

A_Luzerna_Falas LDE Tem ainda com os jogadores.

A_Luzerna_Falas RA É, o meu contrato não envolve só a licença do clube, ele envolve clube e atleta, então tem que entrar em contato com os dois, e tem um lado legal por que eu conheço os meus ídolos, basicamente, é um lado de bônus para a profissão, mas o ônus da burocracia, todo mundo tem que ter contratinho lá, todo mês tem que enviar relatório, tem as contrapartidas.

Bem, mas a ideia inicial foi aproximar o ídolo do fã, pô, o cara vai ao estádio, abre o berreiro para torcer e não tem uma coisa para se identificar com o ídolo, fica muito restrito à camiseta, bandeira, o manto sagrado, mas cadê o Guiñazú, o D’Alessandro, o Loco Abreu, entende? Fica mais uma relação televisiva e de estádio, é distante e não tem aproximação, sobretudo com as crianças.

A_Luzerna_Falas LDE Para colecionar também, não?

A_Luzerna_Falas RA Também, a ideia é colecionar sempre, pode passar de pai para filho, há uma grande vertente de valor agregado nisso. Essa foi a nossa iniciativa, tentar com os jogadores de futebol na primeira fase da empresa, inclusive o licenciamento está um pouco nebuloso, pois o pessoal está hiperinflacionando, digamos assim, então é uma questão de rever conceitos, de tentar criar um estatuto para o licenciamento junto ao Congresso Nacional, é uma coisa lenta.

Por exemplo, para a Copa de 2014 não vai ter, vai ser uma coisa também nebulosa, por isso que é necessário focar em mais negócios além do futebol; o futebol acaba sendo a tua vitrine e os demais negócios acabam somando à tua linha de produtos para essas variáveis de grana, sobretudo, e de mercado.

20-02-2016e

A_Luzerna_Falas LDE Da ideia para a abertura demorou quanto tempo?

A_Luzerna_Falas RA Demorou cerca de seis meses, não foi muito lento, não. Na verdade, encaminha-se a papelada para CNPJ, junto a isso a gente já vai vendo quem seria o primeiro jogador, tirar foto, adianta o máximo que puder. Não inicia a produção sem ter o contrato, mas também tem que ir atrás dos moldes de produção, deixar tudo “estartado”, porque o processo de produção de um boneco não é simples, envolve tempo, não é mega-digital, apesar de ter esse passo. Ele tem que ir lá, tomar banho de molde – o molde tem que tomar um banho de cobre, ficar lá 40 dias -, é lento e tem que adiantar o máximo de coisas. Por exemplo, modelagem, contrato com o clube e com o jogador, deixar tudo alinhavado.

A_Luzerna_Falas LDE A modelagem demora o quê?

A_Luzerna_Falas RA A modelagem sem aprovações é rápida, tipo três, quatro dias, com aprovações leva 15 dias.

A_Luzerna_Falas LDE E as vias legais, num caso normal?

A_Luzerna_Falas RA Digamos que com o jogador seja bem rápido, até porque o contrato vai por agente, mas com o clube é mais lento. Com o clube vai 15 dias, um mês, com o jogador vai três, quatro, cinco dias, não tem muito erro. O jogador é o mais tranquilo nesse negócio do futebol, eles querem, gostam, são inteligentes, apesar de muita gente dizer o contrário, os caras já pensam por si.

A_Luzerna_Falas LDE Sem falar que é legal virar o boneco!

A_Luzerna_Falas RA Claro, quem não gostaria? Os caras se amarram, independente da questão de minúcias. “Ah, a camiseta não é assim, puxa a gola!”, eles não estão nem aí para isso, e ainda falam “Pô, que legal, cara, um boneco meu!”, já o clube tem outras questões que muitas vezes envolvem até o gosto pessoal, porque também todo mundo lá dentro é torcedor e acaba misturando um pouco, daí ser mais lento por causa da estrutura interna. Para o jogador é um só, e para o clube são diversas pessoas. Esse é o ponto de início.

A_Luzerna_Falas LDE E por que o Guiñazú foi o primeiro?

A_Luzerna_Falas RA Na época, tinha o D’Alessandro recém-chegado, e o Guiñazú que era um ídolo em afirmação, então não tinha outro. Se não me engano, naquele momento tinha o Nilmar que estava voltando, a galera de 2006 que ganhou o Mundial já tinha ido embora e era a primeira safra que foi culminar no título de 2010 da Libertadores.

E no início dessa safra, o Guiñazú era o cara, eu faço questão de dizer que o cara é belo, super gente boa, sem palavras para ele mesmo. Para a gente foi um orgulho por causa da pessoa que ele é, um ídolo, o que representa, e até a história de vida do cara, a bola é um prato de comida para ele, e isso há de se valorizar, independente do quanto ele ganha no final do mês, ralar daquele jeito não dá para dizer que está fazendo corpo mole.

A_Luzerna_Falas LDE Influencia também porque o time era campeão, ele é um cara acessível e facilita.

A_Luzerna_Falas RA Demais! Na verdade, no futebol 80% é resultado, 10% por ser um produto legal e mais 10% porque está em evidência. Não vou mentir, ser hipócrita, “Ah, Guiñazú, lancei o boneco, vendemos muito”.

A_Luzerna_Falas LDE E a criançada, é o maior público, não?

A_Luzerna_Falas RA Geralmente, sim. O público-foco maior é a criança e o torcedor fanático, digamos. É que a gente tem uma linha que tem o Fernandão, o Figueroa, o Sóbis, caras que já foram, citando o exemplo do Inter; o Túlio Maravilha, que a gente lançou pelo Botafogo, tem esses caras antigos que a gente produz em resina, o Claudio Milar, do Brasil de Pelotas.

Digamos, um lançamento do boneco do Guiñazú hoje, se não existisse ainda, dá para vender 1000 bonecos de arrancada, na história, vendeu mais ou menos 6000 bonecos! O D’Alessandro está chegando perto disso, mas o primeiro da minha lista é o mascote do Flamengo, é impressionante, nem é um projeto especial, mas é Flamengo, mascote do time, tem torcida em tudo que é canto.

A_Luzerna_Falas LDE Se o Milar fosse do Flamengo, ia faltar resina.

A_Luzerna_Falas RA É, meu Deus, seria mais mártir ainda! Então, vem o Guiñazú, D’Alessandro e o Loco Abreu na sequência – ele é um cara que vende muito.

A_Luzerna_Falas LDE Do Flamengo tem o Nunes…

A_Luzerna_Falas RA Sim, o Nunes e o Fábio Luciano, mas não foram jogadores que pegaram, acredito que mais por um lançamento equivocado, na hora errada, por conta dos processos de aprovação não deu para seguir o cronograma certo, passou a época, e quando viu, lançou meio a rodo e não foi legal.

A_Luzerna_Falas LDE E o fluxo diminui quando o jogador sai ou é antigo?

A_Luzerna_Falas RA É bem menor, se chegar a 50 unidades é boa a venda no mês. Tem essa contrapartida, a gente tem que acatar muita coisa que vem de cima para baixo, os clubes indicam o jogador por facilidade deles.

Por exemplo, o Nunes está sempre no Flamengo, mas poderia ter escolhido o Andrade também, e acabaram escolhendo o Nunes, um vencedor lá no passado, e os jogadores do passado logicamente vendem menos que os atuais por mais história que eles possam fazer, claro, tem o lançamento, uma boa venda inicial, depois eles vendem sempre, mas não tanto.

A molecada não conhece, não pega. Agora, por exemplo, digamos, D’Alessandro está vendendo muito, mas se ele sai, vai para a China, aí dura uns três meses de venda e depois vai para quase zero. O negócio acaba sendo de risco para a gente, principalmente, para o clube não tem muito risco, nem para o jogador, porque eles só recebem. Para a gente fechar o negócio com um jogador atual, que a cada seis meses ele tem uma janela de transferência e pode sair, é um risco que você acaba correndo por ele poder sair a qualquer momento do clube.

A_Luzerna_Falas LDE Não é exigida uma cota para o clube?

A_Luzerna_Falas RA Não, isso é direto para a loja, a gente licencia com o clube, que ganha royalties sobre as vendas, digamos assim. Se ficar com o estoque lá em casa e o jogador sair, a gente vai ter que dar um jeito de revirar isso aí, o que é bem complicado.

A_Luzerna_Falas LDE Mas não faz a mesma tiragem de um Guiñazú e do Nunes.

A_Luzerna_Falas RA Não, não é a mesma. A gente tem como aproveitar corpo, mas é um custo extra, esse é um projeto delicado por isso, tem que pensar num cara com baixa probabilidade de sair do time a curto prazo.

A_Luzerna_Falas LDE Qual é o conselho que define isso?

A_Luzerna_Falas RA Geralmente, falamos com o pessoal do clube, mas é imprevisível, não tem jeito. Você pode diminuir o risco, mas tem uma imprevisibilidade de uma proposta da China chegar para o D’Alessandro e pode levá-lo. Quem é que falou há três meses atrás que ele iria sair do time e um time chinês iria pagar tantos milhões por ele? É uma coisa nebulosa.

A_Luzerna_Falas LDE E o Índio, na ativa, há tempos no Internacional, é bem reconhecido nas vendagens?

A_Luzerna_Falas RA Vende bem, não é o D’Alessandro ou o Guiñazú, nem o Fernandão – que é o terceiro do Inter. É o quarto colocado do Colorado, mas é um cara que se sair ou se aposentar vai vender sempre, como se fosse um Figueroa da vida, é um ídolo, ganhou tudo de importante, então não tem muito erro.

A_Luzerna_Falas LDE Com mascote foi só o do Flamengo?

A_Luzerna_Falas RA Sim, só o do Flamengo, porque eles precisam de uma tiragem inicial grande, precisam de um molde novo, pois não aproveita nada de outros projetos. Jogador o cara pode aproveitar a camiseta, os bracinhos, as perninhas, alguns moldes que eu tenho, mas o mascote é do zero, e se não for o Flamengo é complicado para pagar de início, você tem que botar uma grana na frente para ele girar em um ano, dois anos.

No mercado, deixar essa grana num mascote só é um risco grande. Se o clube pudesse investir nisso e tivesse a gente como fornecedor, não teria problema, mas como sou eu que tenho que vender para as lojas por aí, e ainda o clube só ganha em cima de mim, não vale a pena. Até tentei com o Cruzeiro, o Corinthians, mas naquele momento não deu certo, você tem que medir essa questão do retorno, porque senão não vale a pena, você tem que produzir e vender, se não vende não adianta produzir, deixar ele parado em estoque.

A_Luzerna_Falas LDE Essa migração para os times do interior, que eu sei que já tem clube do RS representado, não diria como em relação aos ídolos de times da capital, é segura?

A_Luzerna_Falas RA É, isso é legal, mas aí vem outro pensamento, que é um pensamento da empresa também. Depois de ter lançado o Claudio Milar, a gente verificou que tinha público no interior para comprar esse tipo de produto. E o que eu fiz? Lancei algo como “bonecos genéricos”, é um bonequinho com a vestimenta do clube e que ele pode me comprar em baixa quantidade e vender na loja, ou seja, fiz com o Ypiranga, de Erechim, com o Pelotas, com o Caxias, além de outros clubes do interior, para tentar fidelizar o pequeno torcedor, que é a base da torcida, que vai virar sócio daqui a 10, 15 anos , e não vai brincar só com os da capital.

É complicado para um time do interior, que não está na grande mídia, não tem como competir. O Guiñazú está sempre dando entrevista, mas, digamos, um cara do Caxias não vai ser tão exposto ao torcedor, tem o fator financeiro, mas também porque tem menos torcedores, e para projetar esses torcedores você tem que fazer um projeto de base, que seria lançar produtos para eles, atrair para jogos com promoções, algo do gênero, e tentar formatar isso.

A_Luzerna_Falas LDE Jogadores como o Dinho e o Jardel são bastante procurados?

A_Luzerna_Falas RA Jogadores do Inter e do Grêmio são diferentes. Vamos por partes: Inter, elenco atual recheado de ídolos, está vivendo vitórias. O Grêmio, não, está vivendo do nada, praticamente, hoje está vivendo do Projeto Arena, que é o estádio, que é o futuro, vamos ganhar, então vamos construir alguma coisa nova.

Sobre o Grêmio, para ter uma ideia, o Jardel vende mais que o André Lima, Rochemback, os caras que teoricamente a gente lançou e eram para ser os atuais grandes vendedores, digamos assim, mas os antigos vendem mais por causa da história, pois como ídolos são maiores. Caras que levantaram taça, basicamente, é essa a distinção. O Inter tem caras que vendem muito porque levantaram taça, estão na ativa. O Grêmio, em função de ter um título importante lá em 1996, na Era Felipão, não tem o mesmo apelo, então o Jardel e o Dinho, principalmente o Jardel – o Dinho teve um ciclo bem bom no início -, vende bem.

O Dinho seria a história que eu tô tentando resgatar e vou lançar, que é a questão do folclore do futebol, porque é um cara que talvez não tenha sido o craque, o camisa 10, mas marcou época por ser o “Cangaceiro dos Pampas”, assim como o Fabiano é o “Fabiano Cachaça”, do Internacional, o Kidiaba é o cara do Mazembe, dança estranho e ganha do Inter, o Túlio Maravilha está na ativa e em busca do milésimo gol, quero resgatar até o final do ano um pouco do folclore do futebol numa série de jogadores folclóricos. Posso até relançar o Dinho, numa caixa nova, vestido de cangaceiro, dá para trabalhar o estereótipo.

A_Luzerna_Falas LDE O Sócrates como Doutor…

A_Luzerna_Falas RA Sim, o Sócrates; o próprio Gladiador – o Kleber do Grêmio, está mais complicado em função do contrato com o Grêmio. Coisas diferentes para pensar o futebol, porque futebol é isso, folclore, imaginário, o que eles representam para a torcida, a paixão, muitas coisas irracionais.

Ah, o D’Alessandro está na ativa, ele vende muito, mas o futebol foi criado com esses caras aí também, que falaram bastante, que abriram a caixa de ferramentas, é uma questão à parte do clube, quero trabalhar a questão do ídolo e independente do símbolo, o cara é uma personalidade. Eu não vou longe, Celso Roth: Celso Roth é um baita produto para qualquer coisa, entendeu?

A_Luzerna_Falas LDE Acho que vai rolar o boneco vodu dele!

A_Luzerna_Falas RA (Risos) Pode ser o bonequinho de vodu, pode ser camiseta com o escrito “Sexy Hot”, ao mesmo tempo que ele pode dar o êxtase para os mesmos caras que colocaram o vodu nele. É uma dualidade, quando ele está num clube e dando resultado ele é bom, quando sai, sai odiado. Por exemplo, a questão Mazembe para o Internacional é mais complicada, então são produtos que podem ser criados unindo essa paixão.

A_Luzerna_Falas LDE Voltemos para os times do interior.

A_Luzerna_Falas RA O interior vende bem menos que Inter e Grêmio, mais pela cultura de não ter produto licenciado. Você liga para um clube do interior e grande parte – estamos falando de Brasil, não só Rio Grande do Sul, mas muitos de capital também são assim – só tem camiseta na loja, muitos nem têm loja, é na secretaria mesmo, é diferente. Claudio Milar à parte, que é um cara que vendeu bem inicialmente, digamos que similar a alguns ídolos históricos, tem todo um apelo especial, focamos só na loja do Brasil de Pelotas, então é um que vendeu umas 300 unidades, talvez em menos de um ano, para o interior é um resultado excelente, é acima do normal, sem falar que vai ter frequência sempre.

A_Luzerna_Falas LDE Nas vendas do Milar, teve uma ligação com a família, não?

A_Luzerna_Falas RA Foi, a gente entrou em contato com a ex-mulher do Milar, a Carolina, e ela cedeu o percentual dela para a “Cresce, Xavante”, que é uma associação do Brasil de Pelotas. Achei um gesto bem bonito por parte dela, porque eu tinha um certo receio de que eles não quisessem aprovar, apesar de ser um outro tipo de homenagem.

Não dá para fugir da questão comercial, que é uma venda e compra de produto, e também eu tinha receio da aprovação, porque é complicado entrar em contato com a família de um ente perdido, sugerindo lançar um boneco, é muito diferente, eu não queria agredir esse lado emocional deles, é tudo muito recente, apesar do cara ser um ídolo. Tentei deixar, através desse contato com a Carolina, que fosse natural, mais indolor e prestar uma homenagem pro cara mesmo, independente da quantidade que vai ser vendida ou não, a gente vai estar sempre doando a parte do “Cresce, Xavante”, o Brasil vai ser alimentado disso, é uma coisa cíclica que acaba fazendo o bem, apesar de ter o lado comercial da história. Até porque o Milar é o Fernandão para o Inter, é um cara extraclasse como jogador, é o maior e virou mártir.

Ainda sobre o interior, os outros não foram estouro de vendas, está se criando a cultura do licenciamento, pessoas minimamente estruturadas, é uma ideia plantada que a gente começou no Rio Grande do Sul, vamos passar para Santa Catarina, e vamos tentando crescer com isso para que se possa tirar o foco dos grandes e tentar deixar o futebol não homogêneo, que é muito difícil, e sim mais popular. O objetivo é aproximar o ídolo do fã, ter a memória trabalhada, pois é difícil não gostar de futebol, não frequentar esse meio, por exemplo, ser consumidor do próprio produto é importantíssimo, porque eu não tive para comprar os bonecos do Fabiano Cachaça, do Christian, entendeu?

Esse é o ponto maior. Eu jogava bola com os “Comandos em Ação”, pegava uma bolinha e jogava, porque eu não tinha esses bonequinhos, não tinha nada de futebol para vender, só camiseta. Isso é uma questão muito recente, esse despertar da paixão que acaba virando comércio é necessário, como consumidor, como sonhador do passado que realmente importa para o torcedor.

A_Luzerna_Falas LDE E com o técnico Silas?

A_Luzerna_Falas RA A gente lançou quando ele fez uma baita campanha pelo Avaí, 5º, 6º lugar no Brasileiro, só que teve a transição do Avaí para o Grêmio, e aí acabou queimando o produto.

A_Luzerna_Falas LDE Mas não teve queima dos bonecos em praça pública? (Risos)

A_Luzerna_Falas RA Não, não, até porque depois ele voltou para o Avaí e teve mais um pé quente de vendas, são coisas que vão e voltam, esse é o futebol também. O melhor exemplo é o Celso Roth, é boneco de vodu quando não está nos clubes, quando está e ganha uma Libertadores é “Fica, Celso Roth”.

A_Luzerna_Falas LDE Como é produzida a feição? Através de uma foto? O jogador escolhe? Lembre-se que tá cheio de metrossexual agora…

A_Luzerna_Falas RA A gente questiona sempre por uma pose-referência, o que é que o jogador e clube querem como pose – veja como está a metrossexualidade do troço – e as dimensões do rosto.

Na verdade, se você pegar um boneco vai olhar logo para a cara dele, é o que todo mundo faz, mas é muito relativa a questão de semelhança, reduzir alguém em 1000%, como é que você quer que saia a carinha perfeita? A gente pega três fotos – lado, perspectiva e frente – e desenvolve em 3D, até trouxe um material para ilustrar. Talvez seja o mais legal de tudo, a gente desenvolve a cabecinha em 3D, eu trouxe o Loco Abreu e o Montillo, e isso feito através de uma impressora, como se fosse a de papel, só que nesse material, uma resina meio arenosa. Esse é o processo do rosto! Do corpo, aí seria o processo de modelagem manual, a gente tem a equipe de modelador.

Montillo e Abreu vieram para o bate-papo

Montillo e Abreu vieram para o bate-papo

A_Luzerna_Falas LDE Cada um tem posição corporal específica?

A_Luzerna_Falas RA Alguns a gente repete, porque, por exemplo, pose de corrida. Muita gente pede pose de corrida, mas sendo sincero, corpo de boneco não varia muito, exceção feita ao Índio com megapanturrilhas, mas você vai pegar D’Alessandro, Montillo, esses caras são os mesmo biótipos, daí tatuagens dão uma modificada, detalhes distintos. Se é pedido, por exemplo, como com Maicosuel, do Botafogo, comemorando com o dedo na boca em homenagem ao filho, tudo bem, a gente faz, agora poses de corrida, levantando o braço, é tudo um cara levantando um braço e correndo com a cabeça de determinado jogador.

A_Luzerna_Falas LDE Pergunta solicitada pela Juliana de Brito, ex-blogueira do blog do Grêmio no GloboEsporte.Com: Qual o critério para ser transformado em boneco, pois o André Lima não saiu? Detalhe, já sabemos que ele foi homenageado.

A_Luzerna_Falas RA O primeiro ponto é o cara estar afirmado, ter pouco risco de sair ou ser ídolo histórico, tudo isso facilita bastante, depois, já passando pela esfera clube, o que é que o clube tem mais ou menos na manga, o que ele sugere, a acessibilidade dos jogadores, é um processo meio vasto, depende dessas variáveis, além da gente poder lançar com o jogador. Mas o André Lima saiu!

A_Luzerna_Falas LDE Foi o Paulo Pelaipe que indicou?

A_Luzerna_Falas RA (Risos) Não, não chegou a tanto. O André Lima a gente foi atrás dele, cara gente boa, tranquilo, abriu a casa, é outro cara tri na boa, ficou pilhado pra caramba com o boneco.

A_Luzerna_Falas LDE Tá, então o rosto é sempre com aquela impressora!

A_Luzerna_Falas RA Sim, com a impressora, a gente não tem e terceiriza esse serviço, basicamente é um pessoal de Caxias do Sul que faz.

A_Luzerna_Falas LDE Sempre acontecem eventos nos lançamentos dos novos trabalhos? Você está presente neles?

A_Luzerna_Falas RA Não, nem sempre. O Nunes não teve, o Fábio Luciano teve, mas foi isolado, para divulgar a loja. A do Urubu eu fui, agora a do Loco Abreu eu não fui, tinha que ter ido, porque foi um absurdo, lotou, o Botafogo estava bem no Brasileiro, facilitou e a gente vendeu 300 unidades numa tarde de sábado, com ele autografando. No interior, só o Milar teve um evento de lançamento, com a presença da família dele, eu também não estava presente nesse. Guiñazú e D’Alessandro tiveram, André Lima, Dinho também.

A_Luzerna_Falas LDE Se o torcedor for nas lojas oficiais ele encontra os produtos?

A_Luzerna_Falas RA Encontra, quando não é por falta de reposição, pois todas têm ou tiveram. A gente sempre está repondo para as lojas, dando esse respaldo, mas também é feita a venda direta quando não tem na cidade e o cara quer.

A_Luzerna_Falas LDE No site da empresa tem como comprar?

A_Luzerna_Falas RA Tem, mas quase sempre o pessoal pede indicação de lojas físicas para comprar, outros pedem pelo site. Por exemplo, quando o cara é apaixonado pelo futebol, digamos que mora no Pará e quer o Fábio, do Cruzeiro, o Loco Abreu e o D’Alessandro do Inter. Então ele pede pelo site, porque não vai encontrar em nenhum lugar.

A_Luzerna_Falas LDE Tem redes sociais para auxiliar?

A_Luzerna_Falas RA Tinha alguma coisa no Orkut, no Facebook está engatinhando, mas vou ter que criar para dialogar mais com o público, eu acho importante, não sou um cara ligado nas redes sociais, mas acho importante pela questão do diálogo.

Vamos agregar o torcedor como vendedor também, como é o caso do “Projeto Espalhe Sua Paixão”, que é um projeto para que o consumidor revenda para os amigos. Veja, peguei os fãs, os cadastrados no site e que sempre compram novidades, e perguntei “Por que você não revende aí para os seus amigos, para as lojas perto da sua casa, pois você pode ganhar uma grana e bonecos de graça?”, no final das contas, acaba fazendo tanta venda que compensa. Geralmente são 20% em cima das vendas, 20% em cinco bonecos você ganha um, digamos assim. E funciona, tenho boas redes que estão se formando assim, e aí é que tá, o “Face” viria como uma afirmação dessa estrutura, é necessária, o diálogo é mais rápido.

A_Luzerna_Falas LDE E o nome, Rafael?

A_Luzerna_Falas RA Cara, o nome é curioso, vou dar a versão oficial! Você conhece o Mr. Bean? Pega o “Bean” desse aí, eu tinha o carro do Mr. Bean, que é o Cuore 98, Daihatsu, na época que eu lancei a empresa, e no final, o carro ganhou o apelido de “ninibin”. O “Nini” era o apelido meu com uma namorada da época. Então, unindo o útil ao agradável, por essa questão curiosa, vou botar “ninibin” como o nome da empresa. Também achei sonoro para criança, claro, pensei no lado publicitário um pouquinho, não tem nada similar, e seria fácil para registrar. Deu certo!

20-02-2016g

A_Luzerna_Falas LDE Pensa em seguir em outros produtos, como fazer as miniaturas de estádios?

A_Luzerna_Falas RA Muita gente pede, mas os custos são altos e o público consumidor aqui no Brasil, especificamente, não tem essa cultura ainda formada, não tem bala para comprar em volume e é um projeto caro. Por isso que não entrei nessa do estádio.

O que acaba sendo feito é estátua realista, encomendada pelos próprios jogadores, não são projetos divulgados, são mais para as pessoas. Por exemplo, o André Lima queria fazer uma miniatura realista dele, comemorando um gol de joelhos, contata a gente e faz.

Planos de expansão futura: tem a ideia de focar até o final do ano a questão “folclore do futebol”, nisso eu quero trabalhar muito, até para melhorar a questão junto ao consumidor, para não ter esse meio-campo do lojista, ser mais uma questão direta com o consumidor. Em miniaturas a gente está em processo de renovação com os clubes, quais os jogadores podem ser lançados, ampliar a questão dos bonecos genéricos para times do interior e de pouca expressão.

Ainda no ponto de vista das miniaturas, estamos indo para as profissões de curso, pet shop, adesivos, canetas, chaveiros, pois como o nosso slogan é “O craque das miniaturas”, a gente não se limitou ao boneco futebolista, até porque os mesmos meios para se produzir os bonecos são para as demais miniaturas.

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A seguir, algumas fotografias enviadas pelo Rafael a partir de clipping do que foi veiculado pela web e do acervo particular. As caras de felicidade são recorrentes, boleiros de volta à infância.

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Guinãzú

Guinãzú

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Túlio Maravilha

Túlio Maravilha

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D'Alessandro

D’Alessandro

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Maicosuel

Maicosuel

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Dinho

Dinho

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Índio

Índio

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Loco Abreu

Loco Abreu

por Ricardo S.
Imagens
Divulgação + Ricardo S.
Publicado em
 25.06.2012

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