Sapucaiense e Brasil de Farroupilha tinham um entrevero marcado para o sábado passado, às 15h30min, pela 9ª rodada da “Divisão de Acesso – Gauchão 2012″.
O time de Sapucaia do Sul recebeu a turma da serra no Arthur Mesquita Dias, e quem ganhasse chegaria ali entre os 3, 4 primeiros do grupo – a Segundona gaúcha tem 2 grupos com 10 clubes em cada.
O astral nas ruas não tinha semelhança com as partidas de clubes de grandes torcidas: cavalaria, escolta, grupo que vem de um lado, galera que vem de outro, e caso se encontrem…
Sede social e muro longo, que por um portão de ferro separa a rua movimentada da área do Sapo, o estádio. Cartazes bem detalhados, pessoal chegando em doses homeopáticas, bilheteria rápida, a indefectível revista policial e pronto, do portão em diante, sobrariam fútbol e calor.
Espectadores se protegiam com jornais, como se os cabelos aproveitassem para colocar a leitura em dia.
Menos no camarote, coberto, cadeiras, serviço de bar, criação da torcida “Camisa 12″.
Enquanto os peloteros, redundamente, aqueciam no gramado, os barras da Serra Gaúcha faziam barulho e brindavam os presentes com cânticos que não esqueciam da Polícia Militar, da Civil, da Federal. E o de lei, sexo anal e similares.
O curioso é que a hinchada serrana praguejava contra a “PM”, a uns três metros, no máximo, da base da corporação (um ônibus)!
O primeiro tempo foi mais para os visitantes. Aquele comentário “está precisando do meia de ligação”, afeta times como os dois da tarde, e o jogo fica nivelado. Boas defesas e ataques que não comprometeram, mas a faixa do meio, como acontece com quase todos os clubes, mais desarma que manda bolas redondas para a rapaziada da frente.
Tudo parecido na segunda etapa, detalhe que o Brasil fez o gol, e o Sapucaiense esteve melhor, ainda que não tenha revertido o placar.
Ao final, novas prosas com alguns torcedores, aspectos do jogo, história do clube metropolitano, e para celebrar a tarde do futebol com menos marketing e mais realidade, deu até para encontrar o ex-goleiro Mazaropi, campeão pelo Vasco, Grêmio etc., em meio às poucas centenas de pessoas.
Para quem tem o conceito ”moderno” do ambiente dos estádios, iguarias, ar-condicionado, tv de plasma, ingressos caros… arenas, arenas e arenas, ficaria meio deslocado; teria que se adaptar ao futebol como ele é na maior parte do mundo. Menos nos palcos de pay-per-view, devidamente remodelados, produtos.
Atrás do gol dos donos da casa, quando o juiz apitou, quem surgiu foi o pequeno Artur Brum. Grudado nas telas que protegem o público do espaço de jogo (e os jogadores do público, hipótese sempre mais provável), o guri me fez acertar em cheio: falei para o Dauro Brum, seu pai, que a esperança do Sapuca era o menino, aí o assunto rendeu. Dauro tentou ser jogador quando adolescente, mas optou por outro trabalho, e vê no Eduardo, o filho mais velho – que não estava no estádio -, e no Artur a esperança de que ao menos um deles seja jogador. “E tu percebendo ele aqui, tirou a foto, quem sabe se ele não vai ser mesmo?”
Na cantina do campo, os troféus rolaram o assunto das conquistas, foi inevitável chegar ao senhor Carlos Roberto, da Camisa 12, a uniformizada do Sapucaiense. Boa conversa e aquela vontade de apresentar o clube do coração – embora a maior parte dos torcedores torça também para a dupla Gre-Nal -, em 20min a história do time ficou familiar.
Ele é um dos 21 conselheiros do Sapo – ao que parece, mais 8 conselheiros vitalícios -, trabalha há 8 anos no rubro-negro, e adiantou que o time era amador até 2004. Em 2005, seguiu para as divisões de acesso ao Gauchão, e conseguiu logo, em 2007, jogou 2008 na Primeira – ficou em 6º -, porém, em 2009 voltou para o Acesso. Permanece, de 2010 para cá. Depois de mostrar o improvisado memorial, seu Carlos apresentou a área da 12, o camarote dos associados da torcida. Sem pacto com construtoras, nem medir esforços particulares para a tal melhoria no Arthur Mesquita.
Numa tarde de público silencioso, exceto os “brasileiros de Farroupilha” (Torcida Jovem: Lutem por nós, cantamos por vocês), a pergunta sobre como é possível ouvir tantas agressões verbais/morais quanto o assistente, a uma tela da galera. São verdadeiros monges, pois é cada pérola que vem de uns das arquibancadas… Alguém dirigir tanta frustração contra o cara que corre de um lado para o outro pode ser “do futebol”, mas não é por aí. Sensação de hostilizar cristãos nos coliseus da Idade Antiga.
Para terminar, junto com as fotos, algumas expressões locais que medem a temperatura dos pagantes. Todas foram ditas pelos rubro-negros. As vítimas? Jogadores, juiz, e principalmente os bandeirinhas:
* “Volta pra casa, colono!”;
* “O que que tu tá dando, bandeira? O que que tu tá dando, seu safado?”;
* “Ô, seu jaguara!”;
* “Aí fica capenga demais, bandeira!”;
* “É muito sem vergonha!!!” (sobre o mesmo assistente);
* “Dá no meio!” (incentivo para os jogadores da casa);
* “Tá ganhando uma cesta básica pra roubar, seu vagabundo miserável?”;
* “Vai apitar jogo de bocha, seu palhaço”;
* “No mínimo, a caixa de vinho tá garantida, seu corno!”;
* “Mas o que é que é isso, nunca treinaram juntos?”;
* “Abre lá, múmia, vai lá, múmia!” (incentivo para um jogador do seu próprio time).
Pérolas do palavreado e do amor ao próximo!!!
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Texto + Imagens: Ricardo S.
Publicado em 05.04.2012