Quando eu morri


[ Raul Seixas e Marcelo Nova ]

Quando eu morri em dezembro
De mil novecentos e setenta e dois
Esperava ressuscitar e juntar os pedaços
Da minha cabeça um tempo depois

Um psiquiatra disse que eu forçasse a barra
E me esforçasse pra voltar à vida
E eu parei de tomar ácido lisérgico, eu fiquei quieto
Lambendo a minha própria ferida

Sem saber se era crime ou castigo
E se havia outro cordão no meu umbigo
Pra de novo arrebentar

Pois eu fui puxado a ferro
Arrancado do útero materno
Eu apanhei pra poder chorar

Quando eu morri suando frio
Vi Jimi
Tocando nuvens distorcidas
Eu nem consegui falar

Depois
Por um momento
O Céu virou um fragmento
Do Inferno em que eu tive que entrar

Eu sentia tanto medo
Eu só queria dormir cedo
Pra noite passar depressa
E não poder me agarrar

Noites de garras de aço
Me cortavam em mil pedaços
E no outro dia eu tenha que me remendar

E se a Vida pede a Morte
Talvez seja muita sorte
Eu ainda estar aqui

E a cada beijo do desejo
Eu me entorpeço, eu me esqueço
De tudo que eu ainda não entendi

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