O Canal #2 – CircoCircuitoProgram

29-07-2015a

Alguns espaços na internet utilizam o formato do vídeo para… divulgar o áudio! Tudo bem que no vídeo é praticamente implícito o uso da audição, mas destes que estou falando é assim: pessoas que têm discos, geralmente em vinil, apertam o play de uma câmera audiovisual e espalham no ciberespaço verdadeiras raridades. Estes canais, web 2.0 por excelência, preenchem as mídias sociais e sim, de modo literal, socializam trabalhos de selos e artistas sob as mais inesperadas receitas. É claro que não viraram os famosos “hits da web”, pois além dessa não ser a pretensão, carecem – e muito – de citações em sites massivos e/ou devem ter qualidade e utilidade duvidosas.

Outro sintoma para o ilustre anonimato é guardar o resenhismo rançoso que prepondera desde que postar coisas no mundo virtual deixou de ser espelhos e pentes para os primitivos internautas. Agora, em meio à autossuficiência, o culto à “queimação de Judas em Sábado de Aleluia” está a um ID, por uma nota errada algum artista ou admirador é esquartejado a “tecladadas”. Mas pode ser o inverso também, artistas malfadados que usam a Dona Net para, de acordo com o que pede o momento, pagar figurino e “atitude”, transformar MySpaces, YouTubes e tantos outros em espelhos e pentes – eles de novo – para a insaciável e superficial forma Anos 2000 de deletar ou transformar em hype, numa fração de segundo.

Motown, Rhino, CBS, tem bastante internauta que pesquisa, tematiza e propaga sons que nem os mais baixadores de mp3 têm, naqueles impulsos de muito som e nada a absorver – só o “baixei a coleção toda”! Repito, como não são hits, é fuçar nos links do primeiro que localizar que, provavelmente, existirão remissões a outros abnegados da carnaúba e do vinil. Não duvido que tenham também em versão de fita cassete, do próprio cd, mas ficará para outra oportunidade, já que o tema é o Programa Circo Circuito!

Há quase 1 ano no ar, o canal que tem a assinatura dos amigos Lipa e Tiago Lisboa tem a espiral mais larga, não tem um tema pré-determinado, a não ser que seja levada em conta a descrição da rádio virtual ancestral do que estamos a falar, a versão em vídeo: “Dedicado aos amantes das raridades fonográficas”! É por isso que o giro da espiral é abrangente e traz nos temas bem sacados o diferencial do Circo Circuito.

“Rua Augusta”, “Produz Raul!”, “A História do Homem Mau” e “Corações de Pedra”, para mencionar alguns, são rótulos dos programas de até 10min que usam além dos lp’s e compactos raríssimos, do acervo da dupla, a criatividade para juntar artistas de propostas tão diversas. No andar dos quase 12 meses, o circo já virou nau e singrou para armar a lona em plena Terrinha, Portugal, e rendeu o especial “Portugal em ritmo moderno”. Como bom argumento, os dois mostram sonoridades dos anos 60 e 70, épocas nas quais os lusitanos, tal como na Terra Brasilis, a liberdade de expressão tomava coturnadas, choques elétricos, mas resistiu.

Através do YouTube, estão disponíveis também os endereços do blog e do MySpace, onde Lipa e Lisboa falam um pouco mais que na introdução dos programas, onde dão as caras e dicas construtivas sobre os sons que serão tocados.

• • •

Na sequência, pergunta e respostas com os produtores e apresentadores do Circo.

Será que tem espetáculo? Será que tem marmelada?

> > >

A_Luzerna_Falas Ricardo Santos Por que espalhar a poeira elétrica aos olhos e ouvidos dos telespectadores? O que dirão os aspiradores e os alérgicos?

A_Luzerna_Falas Tiago Lisboa Sabe quando você revira aquele armário no quarto dos fundos da casa da sua avó? Muita poeira se levanta! Digamos que, para o Circo Circuito, este quarto seja os sebos de discos do centro São Paulo e a poeira que levantamos é um pouco da música brasileira “eletrônica” dos anos 60 e 70.

Meu parceiro Lipa e eu temos uma conexão muito boa, já se vão alguns anos mirabolando ideias. Já montamos um selo, criamos um fanzine… Alguma coisa tinha que sair dali. Aí, então, surgiu o Programa Circo Circuito a partir de uma e-rádio. Ele nasceu desse formato, mas com a promessa de mostrar “ao vivo” o material original da época. Os temas não seriam problema, pois o Lipa possui um material que até Deus duvida, tamanha a quantidade de discos. Tivemos a ideia num estalo, bolamos o primeiro programa, criamos o canal no YouTube e estava criado o programa. Não manjávamos nada de iluminação, edição, cenário, tampouco tínhamos um tripé para apoiar a câmera. E continuamos sem saber muita coisa! A cada programa vamos evoluindo e, aos poucos, as ideias vão se desenrolando.

Mas, o que nos impressionou mesmo foi a aceitação do programa. Nunca imaginamos agradar a todos, pois, a princípio, pensávamos atingir apenas um público bem específico: os “amantes” das raridades discográficas – pessoas que curtem os primórdios do Rock brasileiro. Porém, o programa não apenas toca música, ele conta história, descreve personagens, faz homenagens e redescobre muita coisa que não encontramos na internet. O que digo é que às vezes o alérgico ao som pode, ao menos, aspirar algo curioso. Por exemplo, nosso último programa “Acelerando Fundo…”, que fala de músicas que somente abordam o tema carros. Já apresentamos um compacto gravado por Jô Soares, fizemos uma homenagem a Raul Seixas no programa “Produz Raul!”, apresentando apenas os discos produzidos por ele – outra curiosidade. O programa que mais gostei de fazer foi “História do Homem Mau”, que é realmente uma experiência sonora.

Já os que aspiram, cada vez mais nos inspiram (risos). São pessoas que receberam muito bem o programa, sempre nos saudando, acompanhando e criticando de forma construtiva o nosso trabalho. Nós reconhecemos a limitação do programa, mas, ao mesmo tempo, o que nos parece é que essa limitação nos aproxima ainda mais das pessoas. Outra coisa que nos impressionou foi a repercussão internacional. Sabíamos do interesse, principalmente dos europeus, pela música brasileira, pois somos “concorrentes” nos sebos. Mas não imaginávamos que poderia haver alguma conexão. Quando entramos no MySpace, o programa deu um salto de acessos e fomos fazendo amizades e trocando ideias com este pessoal. Em julho deste ano estive em Lisboa, onde fui muito bem recebido pelo Luiz e pelo Edgard, dos selos “Groove Records” e “Galo de Barcelos”, uma dupla que faz um trabalho maravilhoso para história do Rock mundial, produzindo reedições em vinil de obras obscuras do Rock português e também do Rock brasileiro, além de bandas novas, como por exemplo os nosso conterrâneos da zona leste de São Paulo, Os Haxixins. Seus lançamentos são feitos somente em vinil. Nesta troca de experiência, preparamos um programa dedicado aos nossos irmãos portugueses, que sairá em breve.

Se já fantasiávamos sem ter nada concreto, com o programa nossas ideias vão mais além. Projetamos muitas coisas, das quais algumas vamos realizar no próximo ano, como entrevistas com bandas que tem a mesma influência do programa.

Fazemos e mostramos o que gostamos e de alguma forma contribuímos para cultura do nosso país, que é tão menosprezada pelas grandes mídias, só com isso já me sinto realizado, isto não quer dizer acomodado, mas sim confiante para continuarmos. Conquistamos um pequeno espaço, mesmo sendo pequeno garantimos ser totalmente sincero.

A_Luzerna_Falas Lipa Na verdade, essa poeira mágica invisível faz bem aos olhos e ouvidos. E sabemos que nada agradará a todos, porém, a vontade de criar algo diferente na internet já vinha martelando nossas cabeças: fanzine, blog, livro. Mas a ideia do Circo Circuito foi propícia para o momento, tínhamos bastante material e algumas ideias de programa na cabeça que dariam para fazer várias edições, tanto que um dos temas que mais nos empolgamos “O Rock feminino ou Acid Girls”, ainda não saiu do papel, mas o faremos em grande estilo. Esta edição trará um novo formato com a mesma ideia, convidaremos algumas bandas para apresentar o programa junto com a gente. Poderão mostrar seu material em LP e ainda apresentar suas influências, mas sempre com um tema central. A galera vai curtir.

Antigamente, eu tinha o Canal B, um site que apresentava algumas curiosidades musicais ou culturais, além de poesia e entrevistas com bandas de garagem, dividido por décadas. Agora faremos as entrevistas através do vídeo!

Para quem assiste parece que é fácil fazer, mas não é nada fácil e talvez por isso sempre assinamos “a luta nunca vai parar” ou “a luta continua”. Temos várias histórias engraçadas sobre a gravação dos programas e hoje eu digo que sou um cultivador de discos, eu adoro a arte. O nome da gravadora, o selo, a foto, é tudo muito engraçado. E a galera tem que conhecer isto também, ao invés de ficar ouvindo estas bandas fracas dos tais emos idiotas ou funks sem sentido! Para mim Funk é James Brown, The Meters, Tony Tornado, Señor Soul e por aí vai.

Mas voltando às histórias engraçadas. O primeiro programa, por exemplo, demorou umas 7 horas para finalizarmos, no último bloco é nítida minha cara de acabado! Já no programa sobre a Ditadura Militar, filmamos e tudo estava divino maravilhoso. Porém, faltou uma cantora fundamental para o programa, por isso refilmamos apenas o primeiro bloco em outro dia no meio do jogo entre Corinthians e Santos, final do campeonato (eu sou corinthiano e o Tiago é santista). Era final e a qualquer momento podia sair um gol e aquele berreiro e morteiros. Então fizemos durante o jogo, torcendo para que não saísse nenhum gol, imagina só.

O terceiro programa se chamaria “Amor mal correspondido”, um péssimo título! Fomos a um festival de bandas em um espaço comunitário da zona leste de São Paulo, idealizado pelo Alemão, d’Os Farpas, que se chamava “Corações de Pedra”, o nome de uma antiga festa que Sir Uly, dos Haxixins, fazia mensalmente em São Paulo. Saímos de lá com este nome na cabeça e no mesmo dia filmamos o programa, já com este novo título. Inclusive esta é uma das edições que o pessoal mais gosta.

Enfim, temos histórias engraçadas e com certeza outras que virão, e isso nos move a cada dia na felicidade de fazer novos programas, ou como disse Frank Jorge: “Vou largar a Jovem Guarda por todo o país”. No nosso caso, pelo mundo! O que nos atrapalha é a rotina do dia a dia, não temos muito tempo de fazer os programas, por isso demoramos para lançar uma nova edição.

Mas aguardem, pois o melhor sempre está por vir!

por Ricardo S.
Imagem: Reprodução/www
(Publicado originalmente em 2010)

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.