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Axé Kamala 2.0: esquerda comemora vitória de democrata em Nova York.
por Francisco Fernandes Ladeira
Quando achamos que parte da esquerda brasileira, enfim, chegou aos níveis mais elevados de carência e desorientação política, eis que a realidade insiste em nos refutar. Fazendo uma analogia futebolística, podemos afirmar que esses setores comemoram até lateral – e no campo de defesa. A “comemoração” da vez é pela vitória do democrata Zohran Mamdani para a prefeitura de Nova York.
É no mínimo estranho alguém à esquerda considerar que uma eleição no principal país imperialista traga alguma vantagem para a causa dos povos oprimidos do planeta (isso se formos levar em conta que, em relação à geopolítica, ser “de esquerda” representa lutar contra o imperialismo). Mas, por uma questão de honestidade intelectual, vamos apresentar os argumentos para a empolgação com o êxito eleitoral de Mamdani – que basicamente dizem respeito às características identitárias e aos discursos do democrata.
Lembrando a vergonhosa campanha “Axé Kamala”, no ano passado, os entusiastas da vitória de Mamdani têm ressaltado que ele é muçulmano e nasceu na África. É a velha e ingênua “personalização” da política, a crença de que as características pessoais, sobretudo as inatas, são mais importantes do que os interesses econômicos que estão por trás de um determinado cargo público.
Ele pode ter nascido em qualquer lugar do planeta, professar qualquer tipo de crença religiosa, mas, no frigir dos ovos, a única “identidade” de Mamdani realmente importante na política é ser “democrata”. Como a história nos mostra, é o partido que, quando ocupou a Casa Branca, esteve por trás dos dois últimos golpes de Estado no Brasil, apoiou a criação do Estado de Israel e patrocinou a atual etapa do genocídio do povo palestino.
Por outro lado, parte da esquerda também alegou que o futuro prefeito de Nova York, em sua campanha, falou em diversidade, socialismo, congelamento de aluguéis, transporte coletivo gratuito e defendeu a Palestina.
Bom, como dizem por aí: falar, até papagaio fala. Sobre Mamdani ser pró-Palestina, há uma incongruência, pelo simples fato de ele ser do partido que comete tantos crimes de guerra junto ao Estado de Israel. Os outros temas abordados, ou são mera demagogia identitária ou promessas que não serão cumpridas. Já a ideia de um “socialista” integrar o Partido Democrata – uma das facetas políticas do grande capital – dispensa comentários.
Mesmo experientes analistas foram tomados por essa euforia vazia. Em um canal progressista, um professor disse que a eleição de Mamdani é “derrota do imperialismo”. Outro conhecido docente do debate público, em suas redes sociais, escreveu que a vitória do democrata representou a “esquerda ganhando do fascismo”.
Recorrendo a outra metáfora esportiva, na ausência de gols de seu time, parte da esquerda tem constantemente comemorado a derrota de seus rivais. Daí, como não poderia faltar, surgiram frases do tipo “se Trump perdeu, estamos felizes”. Esse tipo de colocação traz engajamento para lacração em redes sociais, mas não resiste a um debate minimamente sério.
Os democratas são nossos inimigos tal como são os republicanos. A diferença é que os primeiros se escondem sob o slogan da “diversidade”, o que confunde os setores mais desavisados da esquerda brasileira. Já os republicanos representam o império sem máscara. São os inimigos visíveis. Mas, sendo redundante, fato é que “inimigo é inimigo”, não importa sua “identidade”.
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