Uma variante palestina,


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Melancia – do árabe balansiyah

A domesticação da planta ancestral da melancia remonta aos desertos austrais do continente africano há por volta de cinco mil anos, e seu consumo, na forma do “melão kordofan”, no vale do rio Nilo a partir do Sudão, já era registrado no Egito em 2340 a.C. Sementes de melancia foram encontradas em escavações arqueológicas na região do Mar Morto, nos antigos assentamentos de Bab edh-Dhra e Tel Arad, mostrando que sua disseminação egípcio-palestina é também muito antiga, tendo uma variante palestina do fruto.

Na Idade Média, foram os muçulmanos que introduziram a fruta, como várias outras, na Península Ibérica (futuros Portugal e Espanha), e há evidências de que ela era cultivada em Córdoba em 961, capital do califado, em Sevilha, e, no dialeto árabe local passou a ser conhecida como “balansiy” ou “balansiya”, “valenciana”, por seu cultivo na região da Taifa de Valência (de onde deriva-se o termo português “melancia”. Já o espanhol para o fruto, sandía, deriva do vocábulo árabe sindiyya). E é nos escritos do botânico árabe sevilhano Abul Khayr al-Ishbili, alcunhado de al-Shajjār (“o arboricultor”), que encontramos uma curiosidade interessante sobre como os mouros também chamavam a melancia na Espanha.

Sendo botânico real na corte do grande rei-poeta da Taifa de Sevilha, ninguém mais ninguém menos que al-Mutamid, al-Ishbili escreveu o livro Umdat al-ṭabīb fī ma‘rifat al-nabāt (“A Disposição do médico no conhecimento das plantas”), uma enciclopédia botânica farmacológica ímpar. Esta enciclopédia inclui milhares de espécies descritas e usos, e também é relevante no campo linguístico, pois inclui todos os nomes comuns de plantas, em árabe dialetal ou romandalusi, e das línguas amazigues dos berberes. Estes, tomaram a península com seu Império Almorávida em 1090, batalhando contra El Cid na já mencionada Valência. No léxico amazigue catalogado por Abul Khayr para melancia, registra que os guerreiros do Magrebe se referiam ao fruto em seu dialeto como “afalasṭīn”, “à palestina”, remontando as origens de uma das variantes da fruta que era, justamente, a Palestina.

Na região do Oriente Médio em anos recentes, a fruta ganhou contorno políticos quando o governo israelense tornou a exibição pública da bandeira palestina uma ofensa criminal em Gaza e na Cisjordânia, onde carregar símbolos de seu próprio país levou a prisão de muitos homens, mulheres e crianças palestinas. Para contornar a proibição, os palestinos começaram a usar a melancia como bandeira porque, quando cortada, a fruta ostenta as cores nacionais da bandeira palestina – vermelho, preto, branco e verde.

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Bibliografia:

Amar, Zohar (5 December 2016). Arabian Drugs in Medieval Mediterranean Medicine. Edinburgh University Press.

Maynard, David; Maynard, Donald N. (2012). “Part II, Section C, Chapter 6: Cucumbers, Melons and Watermelons”, em Kiple, Kenneth F.; Ornelas, Kriemhild Coneè (eds.). The Cambridge World History of Food. Vol. 2. Cambridge University Press. pp. 267–270.

Bustamante Costa, Joaquín; Corriente, Federico; Tilmatine, Mohand, eds. (2004). Umdat al-ṭabīb fī ma‘rifat al-nabāt li-kull labīb (Libro base del médico para el conocimiento de la botánica por todo experto). Consejo Superior de Investigaciones Científicas.

Wiktionary, pesquisa por “Melancia”. Acesso em 19 de setembro de 2024.

Syed, Armani (2023), “How the Watermelon Became a Symbol of Palestinian Solidarity”, Time.

{ História Islâmica }

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