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Fome e comunicação no mapa da desigualdade
por Valéria Guerra
O ato de comunicar é universal e tão antigo quanto o próprio homem. Ele é uma ferramenta indispensável para que as pessoas possam viver em grupos e estabelecer normas que garantam direitos mínimos a cada um. A comunicação é um instrumento poderoso e, mal usada, pode trazer problemas e gerar conflitos.
O domínio do verbo pode fazer a diferença em épocas movidas por competições intensas. Os chineses descobriram isso há mais de 2,5 mil anos e inventaram, meio sem querer, o ancestral mais próximo do assessor de imprensa moderno.
As pessoas com habilidade para a leitura, boa dicção e um timbre de voz alto e agradável eram recrutadas pelos antigos monarcas chineses para serem “divulgadoras oficiais do reino”.
Elas percorriam os vilarejos a cavalo e liam pergaminhos contendo, na maioria das vezes, determinações ligadas a tributos, condenações ou uma nova orientação que tornasse ainda mais incontestável a força do rei. Os gregos usaram a palavra e o pensamento como mecanismos para construir a filosofia – a base do pensamento ocidental e responsável pela incessante busca da compreensão do mundo, das coisas e do homem.
Na verdade, o comunicador, o jornalista e, por que não dizer, o intérprete das notícias têm uma relevância fundamental no contexto dos fatos – seja na seleção das pautas ou, eventualmente (e infelizmente), no aniquilamento da realidade que expressa a verdade de um fato. A omissão de informações imprescindíveis à veiculação também concorre para o não exercício digno da profissão, como o capítulo I do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros expressa.
Aliás, a obrigação social do jornalismo é de suma responsabilidade. Os dados empíricos que a História nos lega são fontes de comunicação primordiais ao bom caminhar de um profissional do jornalismo.
Toda educação é, em si mesma, opressora. A passagem do ser individual ao ser social não se faz sem um preço. E esse preço é o controle sobre as tendências egoístas e individualistas exacerbadas – controle que, de predominantemente externo, torna-se cada vez mais interno com o decorrer do processo educacional.
Esse processo exige uma grande força de vontade, capaz de conduzir o indivíduo a maneiras de sentir, pensar e agir que se coadunem com uma percepção global da sociedade, que, por sua vez, ultrapassa percepções meramente particularistas. É exatamente nesse processo que se pode dar o salto para a libertação.
Pois não é apenas da opressão externa – e em busca de si mesmo – que o indivíduo precisa libertar-se. Deve libertar-se também de si mesmo, de suas tendências egocêntricas, para integrar-se na realidade social. E a escola cumprirá tanto mais a sua função quanto mais favorecer essa dupla libertação, sendo cada vez menos instrumento da opressão externa sobre o indivíduo e estimulando cada vez mais seu crescimento rumo à participação social consciente. A opressão antecede a libertação; é uma etapa da própria libertação, nesse jogo dialético que constitui a vida e a própria educação. Se não, libertar-se de quê?
Trata-se, no caso, de uma visão parcial do processo de desenvolvimento e de educação. Quando vistas globalmente, entretanto, no mesmo processo, opressão e libertação coexistem, podendo predominar ora a primeira, ora a segunda ou mesmo equilibrar-se momentaneamente. Cabe ao educador trabalhar pela libertação, tendo, porém, consciência permanente de que o processo será contínuo, que algum grau de opressão sempre existirá e que nunca alcançaremos a libertação total. Mas é exatamente essa busca constante que dá sentido à vida.
E como vivemos em um estado de desigualdade, comprovado pela existência de uma pirâmide social, estamos fadados a não capitular diante das falsificações midiáticas que formam uma rede neoliberal de comunicação, onde impera um nicho jornalístico comprometido com o superestimar “do menos ruim” como alavanca de progresso nacional.
Meditemos: será que a fome foi realmente banida da sociedade brasileira?
{ Diário Causa Operária }
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