Se o serviço é gratuito, a mercadoria é você


| “Chaos and Clear Thoughts Painting”/Martha Mosquera |

Unidade Vermelha critica militância virtual e convoca à militância real

A Unidade Vermelha – Liga da Juventude Revolucionária (UV-LJR), organização de juventude, lançou um artigo apontando contra o que chamam de “propagandismo” e também da “ilusão do ativismo exclusivamente virtual”.

A máxima de Marx de que “não se deve julgar uma pessoa por aquilo que ela diz de si mesmo, mas sim pela prática” é desenvolvida pelos jovens revolucionários apontando que “não é novidade nenhuma o culto aos livros, as enormes quantidades de tinta e papel (hoje, bytes e mais bytes de informação), gastos” em posições e frases sem correspondência com a prática concreta da luta de classes.

Segundo a UV-LJR, a internet estimulou entre o povo em geral e juventude em particular a ilusão que posições políticas revolucionárias podem ser expressas livremente, sem maiores consequências. Distinguindo os oportunistas “muito bem recompensados” para expressar posições incorretas daqueles ativistas sérios que divulgam seu trabalho nas redes, aponta que aqueles primeiros propagandeiam o revisionismo e o oportunismo pela internet. Apontam também que “essa gente nunca deu um tostão furado sequer para o avanço da luta ou para o movimento popular”.

A defesa do “ativismo virtual” em torno da compreensão errada de que se trata de propaganda revolucionária de posições avançadas para fora de “pequenos grupos” é atacada pela UV-LJR. A organização aponta que “só se acha em ‘pequenos círculos’ aquele que não tem prática nem vínculo real com as massas do povo”. E também que o conteúdo destas “propagandas virtuais” se resume a: “muito discurso para, ao fim e ao cabo, salvo raríssimas exceções, convocarem sua audiência a votar no candidato ‘a’ ou ‘b’, defender a experiência e o legado do oportunismo e do revisionismo no seio do movimento operário, tecer loas ao social-imperialismo (em referência à atual China social-fascista)”. E concluem dizendo que se trata de oportunismo pois a finalidade é puramente comercial e eleitoreira, não estando à serviço do povo, mas sim a serviço de projetos pessoais.

A organização de jovens revolucionários segue apontando os perigos que representam a “ilusão do ativismo exclusivamente virtual”. Como parte dos conteúdos falsos que são encontrados em abundância por toda a internet, também existem, segundo a UV-LJR, materiais desligados das massas, “sem um sentido prático revolucionário e concreto na luta de classes”. Além de estabelecerem critérios de segurança em torno do que publicizar ou não, os jovens revolucionários defendem que os lutadores populares devem se diferenciar dessa prática através da vinculação da teoria revolucionária à prática da luta de classes.

A propaganda na internet é uma outra questão que os jovens revolucionários também abordam. Em torno das ilusões de classes em torno do “propagandismo”, a UV-LJR aponta que este possui raízes “nas mais de oito décadas de predomínio do oportunismo de direita e do revisionismo” no país. Isto se converteu em ilusões constitucionais, ademais de fomentar uma tendência a aceitar “toda cultura imperialista acriticamente”. Os jovens apontam para combater a baixa vigilância revolucionária, a ilusão de que há no país uma “democracia plena” e a subestimação do inimigo de classe no atual momento político do país.

Por fim, os revolucionários apontam que essas ferramentas virtuais difundem e reproduzem formas que não correspondem completa e cabalmente ao conteúdo da propaganda revolucionária, ainda que possa ser “observada com critério de organização e disciplina proletárias”. Contudo, apontam que a principal forma de se realizar a propaganda revolucionária é sendo “feita junto às massas na sua luta no mundo real”.

Repercutimos a nota na íntegra abaixo. Ela também pode ser lida diretamente do portal da Unidade Vermelha – Liga da Juventude Revolucionária.

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O problema do “propagandismo” e da ilusão do ativismo exclusivamente virtual

“Que critério permite determinar se um jovem é ou não revolucionário? Como fazer tal distinção? Apenas existe um critério: verificar se esse jovem quer ou não ligar-se às grandes massas operárias e camponesas, e se efetivamente se liga a estas. Se quer ligar-se aos operários e camponeses e o faz efetivamente, é um revolucionário; no caso contrário é um não revolucionário ou um contrarrevolucionário. Se hoje ele se liga às massas de operários e camponeses, hoje é um revolucionário. Mas se amanhã deixa de ligar-se a elas, ou se, pelo contrário, passa a oprimir a gente simples do povo, passa a ser um não revolucionário ou um contrarrevolucionário.”

(Presidente Mao Tsetung, 1939 – Discurso para a juventude em Ienan em comemoração do XX Aniversário do Movimento de 4 de Maio)

Marx dizia que ninguém deve ser julgado pelo que diz de si mesmo, senão que pela sua prática. A redação dos “belos programas”, como diziam Marx e Engels, dos prenúncios ribombantes de surgimento de novas “organizações” a cada dia, as discussões filosóficas idealistas infindáveis à moda dos Jovens Hegelianos, são bem conhecidas do movimento comunista. Bem como, não é novidade nenhuma o culto aos livros, as enormes quantidades de tinta e papel (hoje, bytes e mais bytes de informação), gastos para se afirmar coisas sem qualquer correspondência com uma prática revolucionária concreta na luta de classes e de ligação com as massas. Contudo, se por um lado, o surgimento da rede de internet permitiu que as ideias dos revolucionários alcançassem lugares mais distantes mais rapidamente, por outro, as possibilidades de se afirmar algo que não corresponda à prática também se potencializaram enormemente. Se difundiu dentro do movimento popular, especialmente entre a juventude, a ilusão de que qualquer um pode colocar seu rosto na tela e exprimir suas opiniões livremente, sem maiores consequências. Alguns, inclusive, trilhando sua carreira oportunista, sendo muito bem recompensados para tal, o que também se torna um atrativo e até uma tentação para muitos. A disseminação da cultura do “influencer” (influenciador digital) é, portanto, um primeiro problema que queremos abordar.

Antes de mais nada, devemos separar certos “influencers de esquerda” das pessoas sérias que divulgam seu trabalho nas redes, entendendo esta como uma ferramenta hoje imprescindível até mesmo para a sustentação material de muitos. Estes últimos, cujo trabalho teórico intelectual ou orgânico tem o reconhecimento das massas exploradas, por serem defensoras – mais recentes ou mais veteranos – dos direitos do povo, possuem um prestígio obtido junto à luta concreta ao lado do povo, prestígio cuja extensão virtual é algo natural e legítimo. Muito diferente daqueles a quem denunciamos com nossa crítica, cujo prestígio se dá por impulsionamento movido a enormes quantidades de dinheiro, de forma artificial e manipulada, financiados por fundo eleitoral, pelos monopólios ou por tráfico de influência dissimulado de “patrocínio”, advindo de indivíduos burgueses degenerados – de ideologia e de origem! – com interesses, no mínimo, suspeitos. Gente essa que nunca deu um tostão furado sequer para o avanço da luta ou para o movimento popular, que até ontem estavam na Rede Globo vomitando seu preconceito de classe e que agora teriam uma súbita crise existencial e de consciência que os faria apoiar ou ajudar a difundir a proposta mais radical de transformação da realidade. Quem não os conhece que os compre!

Tais ditos “influenciadores” atribuem a si uma nobre tarefa: Estariam “propagandeando a revolução” ou mesmo se inserindo nos espaços da burguesia para “furar a bolha” e saírem de seus “pequenos círculos” para, assim, atingir mais gente com sua dita “propaganda revolucionária”. Devemos relembrar que só se acha em “pequenos círculos” aquele que não tem prática nem vínculo real com as massas do povo, sendo assim, devemos exigir que não meçam o movimento revolucionário com a sua régua oportunista e que não “transponham dogmaticamente” seu próprio marasmo e crise existencial à situação objetiva e subjetiva que vivemos, esta que é extremamente favorável à luta do povo.

Mas, diriam alguns: “… o conteúdo é o que importa e se divulgam o marxismo, tão melhor!”. Bem, vejamos se isso se sustenta: O que podemos observar da prática de ditos “influenciadores”? Muito discurso para, ao fim e ao cabo, salvo raríssimas exceções, convocarem sua audiência (ou melhor, “influenciarem”) a votar no candidato “a” ou “b”, defender a experiência e o legado do oportunismo e do revisionismo no seio do movimento operário, tecerem loas ao social-imperialismo, calar e, não raro, atacar os verdadeiros e consequentes revolucionários e o movimento revolucionário como um todo por não aprovarem (ou seria não “curtirem”?) sua tática e propaganda eleitoreiras, etc. Portanto, não importa a quantidade de vídeos ou cursos queiram fazer sobre Marx, Lenin etc., se o nome dos grandes chefes do proletariado internacional são utilizados para fins eleitoreiros e comerciais, isso é e sempre será oportunismo, logo, não corresponde, nem de longe, a uma suposta “disseminação do marxismo”, pois não está a serviço da luta do povo, mas sim dos projetos pessoais de uns quantos carreiristas e seus conchavos eleitorais.

E mesmo do ponto de vista teórico, o que difundem travestido de marxismo é puro tráfico da doutrina revolucionária, no meio da qual buscam enxertar todo seu ecletismo academicista e pequeno-burguês para tentarem passar pela doutrina de Marx, Lenin e o Presidente Mao, doutrina esta sempre difundida por estes segmentos intelectualóides como mero acessório teórico e não como necessidade de encarnação enquanto ideologia científica de classe. Termo este que causa arrepios ao intelectual pequeno-burguês.

A natureza de classe deste tipo de prática (dos “influencers”) é pequeno-burguesa, pois não está a serviço das massas do povo, é egocêntrica, personalista e individualista. Os marxistas devem se fiar na máxima do Grande Lenin de que “o marxismo é um guia para a ação” e de que “a teoria sem a prática é inútil e a prática sem a teoria é cega”. Tomar teoria e prática como uma unidade de contrários, dialeticamente; esta é uma boa prática comunista e não de forma unilateral, desprezando uma em detrimento da outra, ou como negação absoluta uma da outra.

Um outro problema que queremos tratar aqui é uma questão política importante e bem particular de nossa época, pois também na internet, se vê um terreno fértil para se disseminar falsidades e mesmo para criar organizações, entidades, fóruns e até mesmo pessoas (com os chamados ‘perfis fake’ [1]) meramente virtuais. De forma que muito do que se vê hoje nas ditas “redes sociais”, fóruns e afins, é a proliferação de organizações de fachada, até mesmo algumas delas sabidamente criadas pelos serviços de inteligência para atrair jovens ingênuos na luta política e também os incautos. Há enorme quantidade de material falso nestes sites e redes. Mas não como pretensamente o monopólio de imprensa ou os positivistas afirmam como não sendo passível de “verificação” de suas agências monopolistas, anticiência e mistificadoras da realidade, mas sim, de material desligado das massas, sem um sentido prático revolucionário e concreto na luta de classes, frequentemente com conteúdo provocador, que em última instância, serve à polícia política e à reação. Em meio a isso, vemos também a ação policialesca de elementos direitistas que se servem da enorme quantidade desse material falso (alguns criados por eles mesmos) para atacarem verdadeiros revolucionários com acusações de que são pequenas organizações de internet, na sua vã tentativa de com isso impugnar os avanços conquistados junto às massas e referendados por legítimas organizações revolucionárias de vanguarda ou de base, cuja prática desconhecem completamente. Curioso notar que, via de regra, aqueles que são mais histéricos em acusar a tudo e a todos como organizações “web”, nunca saíram da web e do mundo virtual para tecerem tais acusações. Antigamente se dizia revolucionários de botequim, daqueles que estavam prontos para esgrimar todo seu conhecimento ultrarrevolucionário, mas apenas numa mesa de bar, regado a bastante álcool. Ao menos naquela época, nem que fosse com o balconista ou garçom, ainda se tinha alguma interação com a massa trabalhadora. Hoje, o botequim é o Twitter ou o Reddit, redutos mais infestados por tais tipos de falastrões, que não têm qualquer inserção no movimento real das massas e sequer a isto se propõem, nem qualquer tipo de prática revolucionária além da retórica e, ainda assim, se acham campeões de marxismo.

Este é um segundo tipo de problema e devemos repudiar firmemente como uma prática oportunista e, no nosso entendimento, aqueles que se reivindiquem comunistas e revolucionários não devem embarcar nestes embustes. Devemos observar criteriosamente organizações sérias, com longa trajetória de inserção no movimento de massas ou principiante, bisonha, que seja, com sua prática revolucionária comprovada na luta de classes e aprendermos a diferenciá-los de farsantes. Notadamente existem organizações novas, que têm pouco tempo de luta e nem por isso devem ser descreditadas. Mas nessas circunstâncias, aconselharíamos a estes companheiros e companheiras que busquem se diferenciar e fazer diligentemente seu trabalho conspirativo, construção clandestina e de ligação com as massas, escolhendo bem o que devem publicizar para não fornecer informações ao inimigo.

Isso leva a um terceiro problema e é o que chamamos de “propagandismo”. Entendemos que muitos acabam caindo no erro de publicizar tudo, desde informações sobre a organização, do seu trabalho prático, posições políticas sobre todo tipo de assunto (dos mais aos menos relevantes), teoria etc. Com isso, acabam dando de bandeja para os serviços de inteligência e espionagem da reação uma enorme quantidade de informações que podem ser muito danosas para o movimento revolucionário como um todo. Consideramos este aspecto como um problema importante, de disciplina e vigilância revolucionária e que tem fundo ideológico. As mais de oito décadas de predomínio do oportunismo de direita e do revisionismo no movimento popular e operário no país, particularmente nos últimos 45 anos aproximadamente, infundiu uma prática de ativismo meramente legal, de ilusões constitucionais democráticas, de aceitar toda cultura imperialista acriticamente ou de considerar toda sua propaganda ou parafernália criadas, tal como emprego massivo de tecnologias novas como “revoluções técnico-científicas”, etc. Isso se traduziu em baixa vigilância revolucionária, ilusão de classe, pouco espírito e pouca prática de construção clandestina da vanguarda revolucionária e pouca ou nenhuma cultura de organização proletária, quando a história do movimento proletário internacional ultrapassa 170 anos, de uma riqueza imensurável da prática revolucionária de classe, de conhecimento sistematizado, de ensinamentos preciosos, de heroísmo imortal, enfim, de tradição proletária revolucionária .

A ideia de que vivemos numa democracia plena sempre foi algo falso em nosso país, mas particularmente na situação que vivemos, de desenvolvimento formidável da situação revolucionária, também devemos observar que em razão desta e do perigo que abriga, a reação desatou uma ofensiva contrarrevolucionária preventiva tendente para o fascismo e que frente a um maior desenvolvimento do movimento revolucionário desembocará no regime militar fascista como medida extrema para tentar impedir o colapso e fim do sistema de exploração e opressão secularmente vigente. Que tenhamos isso bem claro.

Por último, mas não menos importante, devemos ter em conta que é um problema ideológico compreendermos que o ativismo exclusivamente virtual reproduz um estilo de vida antissocial, degenerado e uma atuação política de fantasia, pois as ditas redes sociais são feitas e pensadas para criação de mundinhos fictícios, bolhas virtuais de manipulação de opinião pública, de exaltação do indivíduo, com um conteúdo massificante e alienante, para oferecer prazeres instantâneos em troca de seus dados pessoais sensíveis e da sua privacidade (recordar os enormes escândalos em que estes conglomerados se envolveram com relação a comercialização e tráfico de dados pessoais e a quebra da privacidade de seus usuários, como os casos do facebook, Twitter, WhatsApp, Telegram, etc). Aqui vale a máxima de que “no capitalismo, se o serviço é gratuito, a mercadoria é você”. Sem a menor sombra de dúvida, companheiras e companheiros, o imperialismo e a reação se utilizarão de toda essa massa de dados coletada, a que têm acesso, não só para continuar empurrando todo tipo de lixo que produzem, mas principalmente, para combater a revolução e tentar evitar ou adiar sua bancarrota.

Mesmo o uso mais consciente que se faça destas ferramentas, em sendo este individual e não coletivo, sendo artificial e não tradução da nossa prática revolucionária, acaba por difundir e reproduzir formas que não correspondem ao conteúdo da propaganda revolucionária que muitas vezes queremos honestamente fazer. Esta propaganda deve ser observada com critérios de organização e disciplina proletárias e, mesmo assim, não são o principal meio, sendo este a propaganda feita junto às massas na sua luta no mundo real. Entender que o “ativismo” exclusivamente virtual, para as massas que nos assistem, infunde degeneração cultural, hedonismo e alienação, seja esta do “bem viver” ou do “foda-se o mundo”; para os ativistas que nos seguem, abrimos caminho para contrainformação, espionagem e ilusões do democratismo e, no âmbito da militância organizada, no limite, o propagandismo e o ativismo exclusivamente virtual propaga liberalismo, vanguardismo e capitulação.

Abaixo às formas decadentes da burguesia e do imperialismo de propagação de ilusões!

Viva a organização e disciplina proletárias!

Viva a propaganda revolucionária!

Viver, trabalhar e lutar com as massas!

Combater e resistir!

Comando Nacional, Setembro de 2021.

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Notas:

[1] Falso, postiço, encenado (tradução do inglês)

{ A Nova Democracia }

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