Paranoia makes me allright

22-07-2016a

Na perspectiva de aproveitar materiais à época da Copa do Mundo, seguem dois assinados pelo Ivo Lucchesi, para o Observatório da Imprensa.

Marcas dos uniformes, manchetes jornalísticas, ansiedades do público, políticas de condução do evento…

“A paranóia fake continua” e “A face real da paranóia” têm proposições atemporais, como os que serão reproduzidos por aqui, pós-Mundial! (Ricardo S.)

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A paranóia fake continua

por Ivo Lucchesi

Uma vez mais, o Brasil, sob o gerenciamento da “grande mídia”, parece envolto por um inebriante manto de abstração infantil: prédios, ruas, meio-fio de calçadas… tudo em verde-amarelo. O destino de uma nação parece ser decidido e definido fora daqui. A TV Globo, como principal agente de disseminação virótica, não perde um minuto sequer para inocular, no combalido imaginário societário brasileiro, overdose de estimulações sensoriais em favor de um de seus “produtos” mais rentáveis: futebol. Quem paga a conta? É simples: a credulidade de amplos segmentos da população. Se no país há prova de “democracia”, sem dúvida outra maior não há que não seja o “amor” de outrora que evoluiu para a “patologia do agora” em relação ao esporte, principalmente, o futebol.

Sem mencionar o tédio promovido pela “abertura”, fato registrado por alguns veículos menos comprometidos com a “venda de produto”, fiquemos, de saída, com o elenco de seleções integrantes do “espetáculo”.

Percorrendo a tabela, figuram seleções como África do Sul (país-anfitrião), Argélia, Austrália, Camarões, Costa do Marfim, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Eslovênia, Gana, Grécia, Honduras, Japão, Nova Zelândia. Que estas figurem é um direito. Todavia, em respeito à tradição, o que fazer com seleções como Áustria, Bélgica, Escócia, Romênia, Rússia e Suécia? Bem sei que umas entram e outras não, por conta de competições eliminatórias. A questão reside nos critérios da Fifa, cujos interesses, há muito tempo – desde a Copa da Espanha (1982) -, dizem respeito à expansão planetária das marcas de produtos esportivos em prejuízo do verdadeiro espetáculo futebolístico. Assim é que a própria tabela, desde a “gestação” do “grande evento”, tem uma combinação em torno de “marcas”.

Mesclar religião com futebol?

O leitor pode ter certeza de uma coisa: a vencedora desta Copa não haverá de ser nenhuma seleção patrocinada pela Puma, pois esta foi a vitoriosa na Copa de 2006: a Itália, para tanto, já está eliminada. A presente competição terá, como laureada, uma seleção patrocinada pela Adidas ou pela Nike.

Outro aspecto que não deve passar ao largo é o fato de, cada vez mais, ocorrerem erros grosseiros de arbitragem. É fundamentalmente neste ponto que as manipulações se dão. É crível que um juiz gabaritado e um bandeirinha credenciado, ambos pelo mais rigoroso órgão internacional, não tenham visto o gol (que seria de empate, ainda no primeiro tempo), no jogo Alemanha x Inglaterra? Se o primeiro tempo terminasse em 2 x 2, não teria sido diferente o transcorrer do segundo tempo? É aceitável que juiz e bandeirinha, ambos selecionados por exigentes critérios de avaliação, não tenham flagrado o impedimento escancarado do atacante no gol inaugural da Argentina contra o México? Todavia, para a maioria dos “apaixonados” pelo rolar de uma bola, nada disso faz o menor sentido. Ao contrário, são exatamente essas situações de conflito que potencializam a expansão das “emoções”. Ok! Difícil é, para os aficionados, aceitarem que nos bastidores milhões e milhões de dólares são aplicados e precisam ser ressarcidos em montante lucrativo bem maior.

A fórmula já foi ensinada desde o Império Romano. De lá para cá, muito tempo passou… Contudo, a ingenuidade humana permanece intacta aos apelos da manipulação. Para tanto, não falta, na realidade presente, o impacto exercido de maneira inapelável pelos meios de comunicação de massa que, ardentes de desejo pelo tanto que colhem de receitas, sequer disfarçam quanto a práticas de sedução e indução primárias. O espanto, para cegos seguidores, se dá quando uma voz diferenciada entra no circuito e cria um “mal-estar”: o jornalista Juca Kfouri, ao confrontar o perfil do “Roberto Carlos” do futebol brasileiro atual: Kaká. Nota 10! Kfouri foi na ferida. Mesclar religião com futebol? Que é isso?

Nike ou Adidas?

Está certo, Juca! Lamento que sua voz seja única. No mais, aguardemos o desfecho. Proponho para os leitores apaixonados por tudo que se dá nas “quatro linhas mágicas” qual será a fórmula mais rentável para a Fifa: ser a seleção campeã aquela que sediará a próxima, ou permitir que a anfitriã de 2014 chegue até o mais próximo possível e perder, deixando no imaginário sequioso do torcedor brasileiro aquele desejo de devolver ao mundo a dor, revestida de delírio, pela superação do trauma da Copa de 1950? As duas opções são apetitosas para a “lógica perversa do mercado”. Seguramente, quem nada aprecia a presente configuração é aquele que se planta diante de uma tela de TV de última geração e vive, até o ápice de sua agonia, o desenrolar de uma trama cuja definição já está, primeiramente, decidida no sorteio, e segundamente, definida pelas arbitragens, seja pela “invisibilidade” de lances decisivos, seja pela “política” de aplicação de cartões.

Para a reta final, existem as seguintes opções, na relação seleções/marcas: a Puma (vencedora da Copa de 2006) comparece com, apenas, duas seleções: Gana e Uruguai; a Nike (vencedora na Copa de 2002) ostenta três: Brasil, Holanda e Paraguai; a Adidas, que não vence desde a Copa de 1998, se faz representar por seis seleções: Alemanha, Argentina, Eslováquia, Espanha, Japão e Paraguai. Como solitária concorrente, encontra-se a pouco expressiva Diadora, com um único representante: Chile.

Alguém tem dúvida quanto a quem caberá a vitória? Nike ou Diadora? É só aguardar. De resto, aguardemos qual seleção da Adidas erguerá o troféu máximo.

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A face real da paranóia

por Ivo Lucchesi

O presente texto é desdobramento de outro artigo (“A paranóia fake continua”, publicado neste Observatório). Como tal, algumas questões a se fazerem presentes neste exercício de reflexão dialogam, complementarmente, com as pontuações da escrita anterior.

Com o domínio de um modelo cultural centrado na “midiatização”, duas estéticas, desde o início dos anos 1970, entraram em confronto: 1) a estética do sentido; e 2) a estética do devaneio. A rigor, trata-se de dois olhares sobre as coisas do mundo. Enquanto a primeira acena para a provocação quanto ao que temos de descobrir sob o manto da realidade, a segunda oferece um olhar sobre o que coberto está por um véu. A partir daí, cada cidadão está livre (será?) para se indagar: o que eu quero ver? Quero ver o que se esconde por debaixo do manto, ou opto por ver o que me oferecem recoberto por um véu?

Nessa escolha, define-se uma ou outra consciência, caso se manifeste a pergunta. A diferença reside num aspecto: quantos foram educados para, sequer, terem direito à escolha? Não é por outra razão que o sistema midiático opera muito bem essa tensão. A mídia se alimenta da oscilação: a) mostra sem revelar; b) o que exibe se dá por recortes. A quem está na recepção cabe o dever de desfazer a tensão, sob pena de tornar-se refém das duas.

A Copa do Mundo, como um dos maiores eventos, envolve altíssimos investimentos, seja no âmbito do capital público, seja no tocante a capital privado. Se algum tem de perder, perde o capital público. Quem paga o gasto deste é cada cidadão, em seu respectivo país. Todavia, quem gasta na rede privativa quer, na pior das hipóteses, a aplicação de volta e, se possível, com margem de lucro.

Adidas x Nike ou Adidas x Puma

Seguindo o rastro dessa lógica banal, Copa do Mundo existe para sugar altos montantes do capital público para fazê-lo migrar a um amplo espectro de cofres privados. A estética do devaneio não quer saber dessa trama. Aos adeptos dela, importa apenas o que se dá nas quatro linhas e nem de longe imaginar o que se decide fora delas. Indústrias de material esportivo e de bebidas (cervejas e refrigerantes), ao lado do sistema midiático (impresso e eletrônico), comandam o espetáculo para um público mundial em torno de dois a três bilhões de receptores.

Pois é. Uma vez mais, ruas pintadas de verde/amarelo e pessoas recobertas de tecidos em verde/amarelo, afora redes do comércio com portas cerradas nos horários dos jogos da “seleção canarinho” foram o cenário, reduplicado por telas e telões espalhados por todas as grandes cidades brasileiras para a catarse coletiva. Manchetes, no melhor estilo da estética do devaneio, não faltaram: “Agora é hora de laranja virar bagaço”; “Feijoada combina com laranja”. A realidade, atrelada à estética do sentido, porém, demonstrou que o “bagaço da laranja” tinha mais sabor (saber?) que a feijoada. Como resultado: nada além de um “sorriso amarelo”, em consonância com todos que, nas verdes quatro linhas, “amarelaram”: “Triste fim de Policarpo Quaresma” e “O escrivão Isaías Caminha” são duas preciosas criações ficcionais de Lima Barreto. Com elas, pelo visto, o cidadão brasileiro ainda nada aprendeu. Em lugar de debruçar seus olhos em páginas construtivas, no melhor estilo da “estética do sentido”, o cidadão brasileiro prefere deslizar o olhar em imagens que se sucedem numa velocidade que a consciência não retém. Ou seja, ele fez a opção por apelos sensoriais, estimulados por telas, telinhas e telões. Enquanto um gasta e se perde em sua alegria fugaz, outro ganha (e muito) dinheiro.

Por fim, a Copa chega à sua reta final. Quaisquer que sejam os resultados das semifinais, a final terá de ser entre Adidas x Nike, ou Adidas x Puma. As marcas estão muito bem distribuídas, como sempre: Alemanha e Espanha (Adidas); Holanda e Uruguai (Nike x Puma). Em caso de a final ser Alemanha (ou Espanha) x Uruguai, a Alemanha será, uma vez mais, a vencedora das marcas, já que Adidas e Puma (final da Copa de 2006), como todos bem o sabem, são indústrias que nasceram de uma dissidência entre irmãos sócio-fundadores da Adidas.

A volta dos colonialistas como vitoriosos

Como é próprio na história das Copas, esta não fugiu à regra. Qual? Arbitragens manipuladoras de resultados. A Alemanha, a despeito de sua pujança nas quatro linhas, foi beneficiada no jogo contra a Inglaterra. A Holanda foi favorecida pelo pênalti não marcado em Kaká. A Espanha foi contemplada em dois fatos: 1) o gol do Paraguai (legítimo… mas não legal); 2) o pênalti marcado a favor da seleção paraguaia (e perdido pelo atacante Cardoso) teve flagrante invasão da área por defensores espanhóis. Contudo, o juiz não mandou repetir, procedimento que, minuto após, adotou na marcação de um pênalti a favor da Espanha.

Sim, é verdade que a cobrança fora bem-sucedida e invalidou-a. Na segunda cobrança, o goleiro defendeu. Onde está a manipulação? Na diferença de critérios do juiz da Guatemala (país, aliás, pródigo e expoente no cenário futebolístico mundial… Só rindo). Volto a insistir: a marca vencedora na Copa de 2006 foi a Puma. Nesta, será a Adidas. Vale dizer, portanto, que a vencedora será Alemanha ou Espanha.

Desde a Copa de 90, marca nenhuma ostenta duas vitórias seguidas, bem como, desde 1962, nenhuma seleção vence duas Copas consecutivamente. Agora, então, resta assistir ao desenrolar de cartas já marcadas.

Na condição de cidadão sul-americano, muito me agradaria uma vitória da seleção uruguaia. Assim, porém, não será. A propósito, salvo engano, há muito tempo, não se viam quatro seleções sul-americanas nas quartas de final. Pois bem, três delas tiveram de retornar. Outro detalhe, no mínimo curioso, diz respeito ao fato de, numa Copa realizada no continente africano, a vencedora vir a ser uma seleção europeia. Sabidamente, foram os europeus que invadiram, escravizaram e colonizaram a África.

A Fifa, entidade europeia, faz seu “jogo de cena”, abrindo os jogos com a mensagem “Say no to racism”. Sem dúvida, a mensagem há de ser reforçada por todos os recantos do mundo, pois nada é mais aviltante que o racismo. Apenas pretendo registrar o quanto me soa mal este fato: exatamente no palco em que europeus promoveram atrocidades, a ele retornem para se afirmarem como vitoriosos. [Este artigo foi finalizado em 04/07/10 e remetido ao OI na mesma data, às 20h33; portanto, bem antes de se iniciar a fase semifinal.]

{ Observatório da Imprensa }


#CityParanoia   #HollyTree   #Ultrasónico357

Well I woke up fucking early today
things to do, nothing to say
Sounds and worries in my head
I’m lonely and I feel scared
This City is like a shot in the vein
faces just look insane
Sounds and worries in my head
Everybody looks for money, moneymen

Paranoia makes me alright
Now you can’t lose your time

Blood in high pressure all day
Do rocks make a better way?
You don’t need to wonder why
Keep on running on your line
I would never ever leave this place
You can’t stop playing this time
You don’t need to wonder why
Brain makes paranoia alright

Publicado em 18.07.2010

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