Liquefazendo-se,


| TV Brasil |

  Alberto Dines & Zygmunt Bauman no “Observatório da Imprensa”.

   (mais Renato Lessa, Renato Janine Ribeiro e Muniz Sodré)

(…)

Alberto Dines: Há algum tempo atrás nós tínhamos medo da censura do estado policial, mas agora nós vivemos de certa forma numa sociedade livre, digamos assim. Porém existem outras formas de editar. Se você ler um bom jornal você não está bem informado. Por exemplo, na Europa.

Zygmunt Bauman: Eu não sei qual é o equivalente em Português da expressão inglesa “DIY”, “Faça Você Mesmo”. Nós estamos indo neste caminho, em outras formas, não só nesse caso, para a sociedade do “DIY”. Como a IKEA, a loja de móveis. Eles te dão a cozinha e você mesmo monta. “Faça Você Mesmo”. Então, isso é um problema. Os oficiais da censura se tornaram redundantes, uma vez que nós internalizamos a censura. Nós mesmos estamos fazendo, com a ajuda da chamada opinião pública, a pressão comercial, da mídia, pressão dos jornais, etc. Nós somos guiados pela primeira página do O Globo, por exemplo. O Globo tem uma boa reputação, muito sábio, um jornal bem cotado, mas de qualquer forma, produz a opinião para nós. Nós aceitamos isso. Então nós aplicamos o “Faça Você Mesmo”. A censura ou pode ser burocratizada, institucionalizada, como era na modernidade sólida, ou pode ser uma censura tipo “Faça Você Mesmo”, como é na modernidade líquida. Essa é a minha resposta.

AD: Mas se você tem uma sociedade com várias opções plurais, pode ser melhor. No Brasil, por exemplo, a mídia é muito concentrada.

ZB: Essa é uma possibilidade, uma possibilidade bem atrativa. Informação pluralista, uma informação multicentrada, vinda de várias fontes. Mas eu não quero desapontá-lo, me desculpe, porque todos os estudos sociológicos mostram que esta oportunidade não está sendo utilizada, está abandonada. A maioria das pessoas que está utilizando computadores tenta criar para si o que eu chamo de zona de conforto. Uma câmara de eco. O único som que você escuta é o eco da sua própria voz. Ou um corredor de espelhos. A única coisa que você vê são os reflexos do seu próprio rosto. A zona de conforto você não pode criar na rua, você não pode criar offline, você apenas pode criar online. Porque é muito simples, é só você parar de responder a algo, parar de visitar os sites que você acha ofensivos. Você os desliga. Você não pode os desligar quando você está na rua e encontra pedestres que você não gosta. O que você pode fazer? Você precisa viver com eles. Você não consegue escapar. É por isso que eu estou falando sobre tranquilizantes como o facebook e de outros meios de internet.”

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