(O Canal #1) + (2ª Maluca) + (+ Plus Records!)

Uma trinca de ideias para leitura, conhecimento e reflexão, digamos, inicialmente musicais, mas como decorrem de relatos de ações concretas, podem ser estendidas a várias esferas, do nonsense à influência para outras experiências!

Primeiro, o canal programaradartve e um papo rápido com o Leo Felipe, que responde pela direção e apresentação do Radar, há bastante tempo. Depois, nova conversa, só que com o Márcio Ventura, sobre o projeto e o disco ao vivo referente à 2ª Maluca. Por fim, o Cristiano “Nanão” Krause, falando do trabalho com a + Plus Records!, em mais uma publicação sobre selos independentes.

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O Canal #1

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Em meio aos milhões de canais, o YouTube, bem como outros sítios que hospedam vídeos, juntam imagem e áudio e alongam o caminho que as antenas convencionais não alcançam, em pontes para que estas expressões tenham espaços na Dona Net. O texto não é sobre a rede mundial e respectivas funções comunicacionais, tampouco sobre invasões de privacidade audiovisuais, mas é o primeiro de uma série que recortará e ilustrará, com uma opinião do “dono” do canal, algumas “emissoras” que suam a camisa e não são “mais um perfilzinho bonito no monitor”. Preenchem e trabalham as janelinhas com informações audiovisuais valiosas, muitas delas temáticas e relíquias a um clique.

No caso da página do Radar, da TVE-RS, o tema é o próprio conteúdo televisionado há mais de 15 anos pelo programa, e contém dezenas e dezenas de vídeos, desde clipes, passando por entrevistas, reportagens… A maior parte destes arquivos publicados está no recorte das apresentações diárias de bandas, que caracterizam o Radar, atualmente apresentado pelo Leo Felipe.

A diversidade é tão grande que a videoteca tem também videoclipes, para citar alguns, da Violeta de Outono; Ultraje a Rigor; Itamar Assumpção e banda Isca de Polícia; Camisa de Vênus ao vivo, no início da carreira, no Araújo Viana (Porto Alegre/RS); Wim Wenders falando sobre Rock, em coletiva… As participações ao vivo, de segunda a sexta (há algum tempo rolavam até aos sábados), fazem da versão virtual do Radar um dicionário com vários verbetes a partir de atrações em níveis artísticos local e nacional, principalmente, e também de fora – vide os vários trabalhos do Cone Sul, ou de bluesman do Mississippi, como Eddie C. Campbell.

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A_Luzerna_Falas Ricardo Santos Apesar de ser exibido no Rio Grande do Sul e por um tempo em Brasília, como é alargar as fronteiras e interagir através desta página para a publicação de vídeos? É um caminho seguido por outras produções da emissora?

A_Luzerna_Falas Leo Felipe A ideia da página no YouTube surgiu exatamente depois da nossa conversa. Você fez cair a ficha de que era uma maneira muito boa de divulgar o programa (pro mundo) e ao mesmo tempo criar um arquivo virtual e de fácil acesso com o trabalho das bandas que passam pelo programa. A primeira medida foi entrar em contato com o setor jurídico da TV pra ver se não havia impedimento legal para essa ação. No momento que foi liberado, criamos nosso canal. O Radar é o único programa que faz isso na emissora. O ideal seria haver o máximo de canais de divulgação, o problema é administrar tudo isso com uma equipe reduzida que ainda tem que lidar com a produção diária do programa (e ainda trabalhar com máquinas lentas que dificultam o trabalho). Estamos devendo aos telespectadores um canal do MySpace, por exemplo. Mas o feedback do YouTube tem sido o melhor possível. Temos vídeos com milhares de acessos e isso fortalece os laços entre o público e o programa.

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O primeiro da 2ª Maluca

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Para ser transformada em palavras, a trajetória da cópia do “2ª Maluca Ao Vivo” que chegou às minhas mãos é mais uma daquelas prateleiras empoeiradas, ao lado, pelo preço, daqueles tuntz-tum “leve 5, pague 1”, um achado! Como conhecia 3 das 8 atrações, foi o suficiente para levá-la das profundezas da filial de uma grande rede de lojas de discos no sul brasileiro. Garimpo assim assegura a longevidade do disco “físico”, seja em loja tradicional ou em banquinha de shows, apesar de alquimistas fonográficos teimarem em transformá-lo, para sempre, em pasta de arquivos no computador. Quem quiser acreditar…

Quase 5 anos (e muitas audições) depois, seria legal saber um pouco mais sobre esta coletânea à época “gaúcha”, hoje nacional, pois alguns dos trabalhos persistiram e cruzaram as fronteiras, transformando-se em nomes de visibilidade no Brasil. Constam os psicodélicos “Arnaldos”, o Rap do “Da Guedes”; o “Cuidado Menina”, da vocalista Izmália; o Frank Jorge largando a Jovem Guarda; a extinta “Fu Wang Foo”; Zé do Bêlo; o som que “bate gigante, forte, como um Maracanã”, da “Bataclã FC”; e ele, o brega dos três acordes, Wander Wildner.

São duas de cada, em gravações raras, no decantado e superpovoado verão gaúcho, num bar na praia de Atlântida, em versões para colecionador. No ano que o projeto 2ª Maluca completa 15 anos, se alguém que passar por esta página curtir algum dos músicos citados, ou mesmo tiver curiosidade, é pegar as coordenadas com o Márcio Ventura na prosa abaixo e chegar a este álbum.

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A_Luzerna_Falas Ricardo Santos Olá, Marcio! O que tem o projeto para ganhar versão em cd, de 2002, e agora livro e dvd?

A_Luzerna_Falas Márcio Ventura Bem, a ideia do cd da 2ª Maluca foi na época que o projeto acontecia no bar Manara, em Porto Alegre. Um dos seus proprietários, Felipe Di Martino, ouvindo uma boa dosagem de “pilha boa” do Valdir Antunes (que trabalhava no bar e hoje trabalha conosco) – de gravarmos um cd ao vivo, com algumas bandas que já tinham participado do projeto… A ideia foi amadurecendo, e no verão de 2002 foi gravado no bar The Front, na praia de Atlântida, onde o Felipe também era um dos sócios. Foi colocar em um cd um pouco do que acontecia (acontece!) no projeto. Um registro mesmo.

Em relação ao dvd e livro, é mais amplo, pois aí se trata da Rei Magro Produções, um dvd tipo documentário, e um livro, tratando de coisas interessantes dos 15 anos da Rei Magro. Basicamente, é isto.

A_Luzerna_Falas RS Não quer apresentar o 2ª Maluca ao leitor? Legal saber quando começou, quem já passou por ele, coisa para ilustrar melhor…

A_Luzerna_Falas MV O 2ª Maluca nasceu em 1999, tínhamos a ideia de movimentar as noites de segunda, há um tempo esquecidas na nossa cidade. No final dos anos 80/90, tinha a “Segunda Sem Ley” (idealizada por Egisto Dal Santo), chegamos a trabalhar neste projeto. Ele terminou, e alguns anos depois, influenciados pela Segunda Sem Ley, mais pelo dia da semana do que por outras motivos (a Segunda Sem Ley era temática), estreamos o 2ª Maluca no bar Dr. Jekyll, com a ideia de dar oportunidades para bandas novas, mas também bandas “consagradas” passaram pelo bar.

Em 2001, tivemos uma passagem rápida de três meses pelo bar Garagem Hermética, e depois fomos para o Manara. Lá o projeto deu um pulo de qualidade, pela estrutura que o local nos dava. Tivemos oportunidades de trabalhar também com bandas de fora do Estado. Ficou lá até 2003 e foi para o bar Opinião, onde rola até hoje. A diferença é que ele era semanal e hoje é mensal (às vezes temos duas edições no mês). Bandas como “Nação Zumbi”, “Eddie”, “mundo livre s/a”, “Los Hermanos”, “Blues Etílicos”, “Cachorro Grande”, “Júpiter Maçã”, “Replicantes”, “Graforréia Xilarmônica”, passaram pelo projeto.

A_Luzerna_Falas RS Voltando ao disco, como ele foi distribuído e ainda é possível encontrá-lo? Há possibilidade de utilizar também fonogramas e imagens do universo de trabalhos que passaram pelo projeto?

A_Luzerna_Falas MV O cd do 2ª Maluca foi lançado pelo selo Mídia Brasil, do Airton dos Anjos (a quem só temos a agradecer). Sabemos que a distribuição não foi das melhores, por se tratar de um produto independente, eu na época que o cd saiu quebrei a perna e tive que me recuperar, atrapalhando ainda mais o trabalho de divulgação. Sei que ainda se encontra em alguns locais para vender. Pela internet e também na loja do bar Opinião. Mas o mais legal é que ele pode ser baixado gratuitamente no nosso site. Futuramente, deveremos lançar o volume 2.

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A_Luzerna_Falas RS E vem a curiosidade quase maniqueísta, boa como uma caricatura de tudo o que foi dito: quais as passagens “pitorescas” que poderiam ser contadas para a gente?

A_Luzerna_Falas MV He, he, têm várias… mas tem alguns shows do Júpiter Maçã que são uma “obra”, show da “Video Hits”, quando o projeto era no Dr. Jekyll, e depois o último show deles, já no 2ª Maluca, no Manara. Cada show tem sua história, seus encantos e desencantos, muita energia depositada, isto que é o mais bonito na arte (para mim)… a entrega!!!

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A_Luzerna_Falas RS Algum toque para comentar?

A_Luzerna_Falas MV Só temos a agradecer a oportunidade e dizer que só ajuda a cultura, as expressões das mais variadas áreas culturais. E convidar a todo(a)s para visitar nosso site!

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De plus em plus

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Em 2004, quando o + Plus Records! teve lançado o seu primeiro título, “A Caminhada de Julio Reny”, já era uma realidade trazer alguns selos/gravadoras para um bate-papo. Era uma realidade também a qualidade que o Cristiano Krause, o Nanão, à época um dos quatro que compunham o “+ Plus”, fez imprimir logo neste primeiro álbum, uma compilação de demo-tapes do Julio, raridades oitentistas mas atemporais, polidas pelo Egisto Dal Santo. Realmente, começou interessante, embora nem sempre, como Krause mesmo diz, seja a melhor via misturar fã, pressa e negócios. No entanto, o fato de gostar muito do que será lançado significa respeito, aspecto imprescindível que dá um… plus (!), atravessa barreiras e constrói identidade própria.

Depois dos contratempo$ iniciais, a partir de 2006 o trabalho teve regularidade. Com mais dez discos, dentre eles o último da trilogia dos “Cowboys Espirituais”, a segunda pedrada de “A Barata Oriental”, e as chagas adesivas coladas pela “Viana Moog”, Nanão mantém na ativa o selo que vai se especializando em lançamentos roqueiros, com um olho na subsistência e outro no que rola na região metropolitana de Porto Alegre, com ênfase no Vale dos Sinos.

Se desde o primeiro disco havia curiosidade pela proposta do + Plus Records!, trilhado o caminho, é sinônimo de histórias para contar, portanto, foi o que aconteceu cinco anos depois. Segue uma conversa com o “boss” Nanão, cuja receptividade e humildade ao listar equívocos e acertos contribuiu bastante na transposição de várias passagens importantes para o conhecimento de parte das relações em torno do Rock, inclusive neste canto do planeta.

Mas aonde estiver, eu sou mais Rock ‘n’ Roll
(Patrulha do Espaço, em “Rolê de Estrada”)

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A_Luzerna_Falas Ricardo Santos Oi, Nanão, prazer em falar contigo! Quando abriu o + Plus Records!, em 2004, você já mantinha ligação com estúdio, além de músico, para criar o selo. Era uma vontade antiga?

A_Luzerna_Falas Cristiano “Nanão” Krause Cara, como músico isso vem do final dos anos 80, que foi quando entrei no circuito musical do Rock, e de lá para cá tive várias bandas, toquei com muita gente. Primeiro aqui na região, no Vale dos Sinos, depois tive a oportunidade de conhecer um pessoal em Porto Alegre; nesse meio tempo, em 93, eu abri um estúdio, que a princípio era só de ensaio.

A_Luzerna_Falas RS Já era o Plus?

A_Luzerna_Falas CNK Sim, era Estúdio Plus, foi o primeiro estúdio da região, por aqui não tinha estúdios, né? Na verdade, em 93 eu regularizei a papelada, mas no final de 92 eu já estava com ele, e tu imagina, naquela época todo mundo passava por aqui, todas as bandas ensaiavam por aqui…

A_Luzerna_Falas RS Por exemplo?

A_Luzerna_Falas CNK Ah, bandas que ainda existem, vou te dar um exemplo com um dos lançamentos de 2008, uma banda que realmente está há muito tempo por aí, que é a Viana Moog, apesar de que a Viana era a Motor Mojo Junkie; ensaiava aqui, isso em 93, 94, tendo o Cidade como vocalista e líder da banda. Uma banda também que acompanhei toda a trajetória, que teve várias modificações, e hoje, a gravação desse 2º disco da Viana Moog, e essa formação atual, que já vem há bastante tempo, pra mim é a melhor formação, disparado, de todas as que passaram aqui, está super-amadurecida e é um produto, uma aposta que vai dar certo.

O selo foi quando eu comecei a conhecer um pessoal de Porto Alegre, Rock Gaúcho, o Julio Reny, o Egisto Dal Santo, A Barata Oriental, enfim, pessoas que realmente ajudaram o Rock Gaúcho a crescer nos anos 80 e no que é hoje em dia com essa safra nova. Aí nesse período de 2002 eu conheci o Julio e o Egisto, comecei a tocar com eles num projeto meio estranho, inusitado, que eram 2 violões e uma bateria, a gente começou a tocar em lugares pequenos, só tocando clássicos do Rock Gaúcho.

A_Luzerna_Falas RS Qual era o nome do projeto?

A_Luzerna_Falas CNK Era “Histórias do Rock Gaúcho”!

A_Luzerna_Falas RS Ah, pensei que fosse outro, é que conheci tendo guitarra e baixo também…

A_Luzerna_Falas CNK Ah, não, depois… O projeto do Histórias começou com 2 violões e bateria, estranho mesmo, não tinha a sustentação do contrabaixo, ficava só o bumbo. Não é a mesma coisa, mas era um diferencial, o pessoal gostava. A gente era acostumado a tocar em lugares pequenos, pub’s, e aí o nome começou a crescer e a ter convites para tocar em lugares um pouco maiores, e para tocar em lugares maiores, que a gente já sabia: “Puta, lá a gente vai tocar e vai tá legal de gente, vamos levar um baixista!”. Então foi a primeira vez que entrou um baixista para fazer um som lá, aí daqui a pouco a gente pensava: “Tá precisando de mais um peso, vamos tirar um violão e colocar uma guitarra!”, cara, aí virou uma banda!

No início, era eu, o Egisto, o Julio Reny e o Guilherme Wurch, no contrabaixo. Quando a gente foi gravar o 1º disco, foi chamado o Frank Jorge para fazer os contrabaixos, também para dar mais um nome de peso, já que o projeto era um “Histórias do Rock Gaúcho”.

A_Luzerna_Falas RS O Frank tinha feito vários shows com vocês, né?

A_Luzerna_Falas CNK Tinha sim, até porque o Guilherme sempre teve trabalho paralelo, com a “Sasquatch”, “Kúria” e “Jack Brown”, então às vezes quando dava comprometimento de data, ele fazia com essas bandas, o Histórias ficava sem baixista, aí começamos a introduzir o Frank na jogada. E o Frank fez vários shows, gravou o disco que é o “Volume 1 – A Estrada”, do Histórias. Em 2005, saiu por um selo do Rio de Janeiro chamado “Cultpar”, que teve distribuição nacional pela Universal. Foi um disco que deu para trabalhar legal, a banda trabalhou bem e tal, mas ficou ali, como diria o Julio, “quase que a gente conseguiu a vaga para a Libertadores!”. Infelizmente, empatamos o jogo em casa (risos)…

A_Luzerna_Falas RS E pegou só a Sul-americana (risos)!

A_Luzerna_Falas CNK Exatamente (risos)! Bom, nisso eu acabei conhecendo e tendo convívio com esse pessoal e abri um leque por conhecer muita gente, o pessoal do “TNT”, “Cascavelletes”, “Garotos da Rua”, e comecei a entender um pouco do mercado fonográfico, como é que funciona a gravadora, a parte de direito autoral, repasse para o artista, execução em rádio, toda a parte burocrática, em toda a parte burocrática eu comecei a me antenar.

Na verdade, antes de sair o primeiro do Histórias eu já estava meio a fim de fazer o negócio. Em 2002, entre um papo pra lá, uma conversa pra cá, com o Julio e mais dois fãs dele, o Marcelo e o Elias, no Abbey Road, em Novo Hamburgo, num desses shows o Marcelo questionou o Julio: “Pô, quanto tempo sem lançar um material, quando é que vai nos presentear com um disco novo?”. Nessa época eu também tocava com ele no trabalho solo, autoral… E o Julio até então não sabia, a gente nunca tinha conversado sobre isso, então ele disse: “Bah, cara, eu tenho um disco pronto, gravado, mixado, masterizado, com capa, tudo pronto, só que não tenho grana para lançar esse disco”. Daí na hora me deu um start, “Puta, é um artista que teve um nome legal, hoje em dia o nome tá meio apagado, mas com um disco novo, dos anos 80, com material que estava em fita rolo, foi tudo limpado e feito um trabalho de digitalização, masterização…”. Ele disse que nenhum selo se interessava, o Julio reclamando, o negócio tinha ficado engavetado…

Passou 1 dia, 2 dias, liguei para o Marcelo, que foi um dos sócios no início da gravadora, e “Bah, quem sabe a gente não investe nesse disco pronto, a gente tem só que mandar fazer em Manaus e comercializar, vai ser muito vendido em show porque o Julio voltou a tocar no próprio Histórias, e a carreira solo reafirmando, ele tem nome e vai dar para colocar em algumas lojas”. Daí o Marcelo, “Como é que a gente vai fazer isso?” Tá, a gente começa a pesquisar os representantes, toda a parte burocrática, começamos a correr atrás e pá, fizemos o disco! 2004, “A Caminhada de Julio Reny”, foi um disco que, como 1º disco do selo, teve mais erros que acertos, mas aprendemos. Até que quanto à vendagem inicial deu um up na carreira do Julio, mas digo erro por ter negociado mal, vou te dar um exemplo: hoje em dia, aquilo foi em 2004, eu iria fazer um disco em Manaus por quase a metade do preço do que mandei em 2004.

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A_Luzerna_Falas RS Por que diminuiria assim?

A_Luzerna_Falas CNK Negociação, entendeu? Nós éramos “guri novo”, então ligamos lá para uma fábrica, “Como é que funciona?” Ah, quero mandar fazer um disco, a capa é tal, tem tantas cores… “Ah, custa tanto!” E nos atiramos no primeiro, entendeu? Sem experiência, no “Vamos lá, vamos fazer!” Só que depois a gente viu que não é assim, que a gente trata é com representantes, então hoje em dia têm várias fábricas em Manaus, multinacionais e nacionais, e todas elas têm representantes em vários lugares, têm uns 5, 6 representantes de fábricas diferentes… E o que é que acontece? Em 2004, a gente se atirou na primeira, pagou muito caro… Até para tirar o retorno poderia ter sido bem antes.

Outra coisa que a gente trabalhou mal foi a divulgação… Pé no chão! A gente chegou e mandou fazer não sei quantos mil folders de divulgação, tantos mil cartazes grandes de vendas de disco, cara, isso eu tô com tudo encalhado! Tu vai numa loja, os caras nas lojas não têm nem lugar pra colocar um cartazão, nas grandes até têm, mas nas pequenas estão atrolhadas de cd’s, mal dá para colocar o adesivo do artista. Então, dinheiro posto fora, e aquilo por pouco não desmotivou, demorou para tirar o investimento.

A_Luzerna_Falas RS Foi uma apnéia!

A_Luzerna_Falas CNK Sim, hoje em dia, com o know-how que tenho, daria para ter um bom retorno e um upgrade para fazer outras coisas. O que aconteceu? Aquele disco vendeu? Vendeu. Mas como os custos foram altos, demorou pra gente chegar lá nos custos. Aí em 2005 o selo não fez nada, ficamos de tentar recuperar o que tínhamos investido; 2006, como o Julio lançou esse em 2004, a gente também não queria lançar outro do Julio, e deu. Não, a gente tem que botar o artista e pelo menos lançar a cada 2 anos. Lança num ano, trabalha o outro na divulgação, e no outro, vem com novo disco. Mesmo sabendo de toda a crise do mercado fonográfico, mas como eu tinha o estúdio, que como falei, começou como ensaio, depois virou ensaio e gravação… Aí, cara, a ideia era de fazer “Diários da chuva”, ele disse que tinha essas composições e tal, então a gente gravou aqui, fiz toda a captação do áudio no Estúdio Plus, estúdio da gravadora.

A_Luzerna_Falas RS Foi o primeiro todo feito por aqui, né?

A_Luzerna_Falas CNK Foi o primeiro, exatamente! Todo produzido aqui, gravado aqui, mixado e masterizado aqui, e encaminhado para Manaus, o Diários da Chuva, de 2006. Só que aí, nesse período, surgiu a possibilidade também de lançar outro trabalho, porque eu não queria que a gente fizesse apenas o disco do Julio, que pareceria que era uma gravadora de um artista só, né? Se a gente ia mandar o do Julio, aí vamos mandar outra coisa junto. Na época, eu tava com a ideia de fazer uma coletânea, que foi a “Safra Capilé”, onde consegui reunir 15 bandas de São Leopoldo, num formato tipo cooperativa, rachou um valor “x”, que eram os custos totais do projeto, e depois foi dividido o número de discos, cada banda ficou com um número “x” de cópias para vender e poder recuperar esse investimento. Então em 2006 a gente conseguiu mandar esses dois discos – o Diários e o Safra Capilé! Diários teve um retorno superbom, continuou com a divulgação em cima do Julio, teve vários shows de lançamento, espaço em matérias, alguma coisa fora daqui, mas aqui dentro ganhou bastante coisa, capa de uma revista bem conceituada…

A_Luzerna_Falas RS Por exemplo?

A_Luzerna_Falas CNK Capa da revista “Aplauso”; “Contracapa”, da Zero Hora; em quase todos os jornais daqui teve uma boa divulgação; teve resenha na “Revista da MTV”, enfim, conseguiu umas entradas. Depois disso, o Julio tinha tentado meio que uma volta dos Cowboys Espirituais, uma banda que tinha terminado, gravado dois discos – o 1º pela Trama, e o 2º, por um selo de Porto Alegre que não durou muito tempo, a Stop Records. A divulgação não foi boa, não achou um volume de shows, e a banda acabou, o pessoal fez outros projetos e tal, meio que ficou armazenado. E o Julio tentou reativar uma volta dos Cowboys, em função das composições que ficaram de fora dos 2 discos, e algumas novas, que ele havia feito, composto, tinham ficado a cara dos Cowboys e ele não queria usar no trabalho solo.

A_Luzerna_Falas RS Márcio Petracco e o Frank Jorge voltaram?

A_Luzerna_Falas CNK Dos originais, Petracco estava junto, o Paulo Arcari, só o Frank que não. Aí o Paulo Arcari, o baterista, também com estúdio em Porto Alegre, já estava gravando com qualidade boa e resolveram gravar um disco lá e tentar uma volta dos Cowboys, né? Mas é aquela coisa, todo mundo sabe a dificuldade que está o mercado hoje em termos de gravadora, na época eu comentei com o Julio: “Cara, Cowboys até interessaria à + Plus! Records, mais um nome legal, outro trabalho legal para ter no cast… Mas fica por vocês, se quiserem me procurar, estamos aí para conversar!”.

Aí eles gravaram, masterizaram, fizeram umas reuniões, o Julio cogitou o meu nome, mas eles chegaram num consenso que iam tentar gravadoras maiores, realmente ficou muito boa a sonoridade, a cara do disco estava excelente. E aí começaram a divulgar, mandar material para “n” gravadoras, “n” selos, aquelas coisas de gravadora grande, enfim, difícil, começou a passar o tempo. Quando tu grava um disco a maior preocupação é o disco ficar velho, o disco envelhecer, entendeu? O disco pode envelhecer e daqui a pouco o artista pode não estar mais gostando desse trabalho, estar em outra vibe e não querer mais saber dele. Aquele disco começou a ficar estacionado, nenhuma gravadora deu retorno, as que deram disseram que não, não iriam querer, e nesse meio termo, eu ainda tocando com o Julio e tal, a gente ainda trabalhando na divulgação do Diários, eu disse: “Bah, Julio, conversa com os caras da banda, vamos fazer, a proposta é a mesma, o mesmo acerto que tenho contigo eu vou fazer com os Cowboys em termos de porcentagem”. Daí ele falou com a banda e, tipo, “Bom, já que não vai sair por ninguém, vamos fazer pela + Plus!, né?”.

Tudo bem, selo pequeno, começando, mas para mim foi superlegal ter mais um nome, mesmo sabendo que era um projeto que ia morrer logo adiante, em função da carreira solo do Julio, e dos outros todos já estarem envolvidos com outros grupos: o Márcio Petracco estava voltando com o TNT, enfim… Eu sabia que a banda não ia vingar, mas pelo menos ia valer o registro e ia fechar uma trilogia. 2007, então, a gravadora lançou esse dos Cowboys, e junto dos Cowboys, o da banda “Sasquatch”, que é uma banda de São Leopoldo, conheço os caras, toquei com eles aqui na cena da cidade, o Guilherme, baixista da banda, tocou comigo no começo do Histórias do Rock Gaúcho, enfim, uma banda que merecia ter um disco, foi o primeiro.

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A_Luzerna_Falas RS Era um apanhado dos sons da Sasquatch, da trajetória?

A_Luzerna_Falas CNK Isso, um apanhado do som, e lançamos os dois juntos, mandamos para Manaus, então foram 2 lançamentos em 2007. Aí para não ficar sem lançar nada em 2008, “Como é que vamos trabalhar em 2008?”. Pra não lançar nada em 2008, ainda em 2007 eu fui num show no Bar do Morro, na volta d’A Barata Oriental, só que assim, A Barata Oriental tinha acabado, tentou voltar só com 2 da formação original – da formação do 1º disco -, com outros integrantes, aí não deu muito certo, daí morreu e eu fiquei sabendo desse show, que teria a formação do 1º disco, que era o Nenung, Carlos Panzenhagen, Milton Sting e Luciano Sapiranga. Aí eu pensei: “Pô, não posso perder esse show, né, cara?” Sempre fui fã d’A Barata, até porque é uma banda daqui do Vale dos Sinos, de Novo Hamburgo, e a minha geração é a geração do Rock Gaúcho, então convivi muito com shows dela desde quando era piá, e fui num show histórico.

Mesmo com a precariedade do som, na época o Bar do Morro tinha um som fraquinho, não tava muito legal, cara, deu umas 500 pessoas, atrolhado, os caras se deram bem. Cara, eu vi todo mundo cantando as músicas, todo mundo curtindo, eu pensei: “Meu Deus do Céu, cara, vamos ter que gravar alguma coisa d’A Barata!” No início, eu conversei com o Carlos, conversei depois com todos, e perguntei para ele o que achava da gente pegar essa vibe da volta e fazer um disco ao vivo. A ideia era fazer um ao vivo em virtude do que eu tinha visto, a troca de energia com a galera assim. O Carlos achou legal, disse que ia falar com o pessoal, “Mas eu preferia fazer outro disco de estúdio”, o Carlos falou, né? Têm músicas que não entraram, têm músicas que eram para ter saído num segundo disco – o 1º vinil d’A Barata Oriental, se eu não me engano, saiu em 88, é, em 89 eles foram premiados pela Revista Bizz como “Banda Revelação Nacional” – preparado para sair bem ali na época do Collor, e o selo que ia bancar, o cara que ia bancar teve o dinheiro confiscado naquela jogada do Collor. Cara, isso acabou com a banda, porque desmotivou, o disco não vai sair, a banda meio que degringolou, a cena também foi ficando mais fraca, a cena do Rock, e a banda deu um tempo.

Só que estas músicas que iam sair no segundo disco estavam guardadas, na verdade, não foram gravadas, tinham registros de ensaios que eles gravaram em fitas cassete, coisas assim. Quando falei para o Carlos, ele falou com a banda, aí chegaram a um consenso: “Um ao vivo para 2º disco é muito cedo, vamos fazer um 2º autoral, com o que não entrou no disco que não saiu, vamos resgatar e fazer uma roupagem diferente, fazer também coisas novas”. Eles começaram o processo, a gente fez reuniões, acertamos tudo direitinho como ia ser no disco e, cara, entramos num processo de gravação, masterização, edição, tudo finalizado aqui, e mandamos o disco no início de 2008, junto – a gente estava sempre mandando algo junto, até para conseguir um preço melhor com as fábricas, né? – com um disco de uma banda nova, digamos, de um som moderninho. A gente estava mandando essa coisa nova, esse Rock novo que muita gente tacha de Emocore, pra mim nada mais é, e o Julio pensou assim também, que baixo, guitarra e bateria, é o cara fazendo um Rock. Mandamos esse disco junto, de uma banda chamada “Lincon”, de Novo Hamburgo, que ainda é uma aposta por ter sido lançado no 1º semestre, a gravadora acha que ela pode ir longe, até porque é uma banda de gente adolescente, né, gurizada de 20 anos que tem esse público muito forte, agora todo mundo está curtindo esse tipo de som, é o que tu está vendo no atual mercado fonográfico como música jovem, isso no início de 2008.

Na metade de 2008, teve algumas bandas que entraram em contato comigo, inclusive entrei em contato com a Viana Moog, que costumava ensaiar por aqui. A gente resolveu fazer um pacotão e lançar 4 bandas de uma vez só: entraram a Viana Moog, que é uma banda que tinha o maior prazer em lançar, em função de toda a nossa história, ela começou aqui; junto da Viana Moog foi outra banda de Novo Hamburgo, também no circuito do som moderninho, dando mais uma aposta, foi a banda “Hist”, de Hardcore; mandamos Chico Padilha, um músico, assim, que eu considero da antiga mas não lá do Rock Gaúcho dos anos 80, um músico da antiga do cover gaúcho, é um cara que quando deu o estouro do cover, no início dos anos 90, que acabou gerando a crise no Rock Gaúcho, onde as bandas de som autoral perderam espaço por causa do cover. Esse Chico Padilha tocou em bandas clássicas, tipo a “Kook’s”, que era uma sensação, “Dama da Noite”, estouradaça no circuito cover, e esse cara supertalentoso, depois de uns anos passou a fazer um trabalho próprio, de lá para cá sempre compôs, gravava algumas coisas, e acabei conhecendo o Chico, a gente conversou e resolvi lançar. Um trabalho todo autoral, calcado no Pop Rock. Junto com esse do Chico, ele me indicou um parceiro dele chamado Johnny Black, um gaúcho que mora há anos no Rio de Janeiro, tocou com muita gente conhecida, mas como músico de apoio, ele é percussionista, e o Chico me falou: “Cara, o Johnny está lá com um disco todo gravado e produzido pelo Robertinho de Recife, um disco calcado no Pop Reggae, fazendo uma comparação, uma coisa meio Armandinho, Reggae Pop. Então foram esses 4 lançados: Viana Moog, fazendo um som sempre alternativo, aquela cara da Viana; Hist, um Hard Core; Chico Padilha, Pop Rock; e Johnny Black, um Pop Reggae!

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28-07-2015t

A_Luzerna_Falas RS Com essas gerações que estão começando a conhecer o selo, você acha que agregam mais valores, inclusive na propagação do nome?

A_Luzerna_Falas CNK Claro, na verdade eu pensei muito, “Bah, vou ficar sempre na linha do Rock ‘n’ Roll?”. Cara, as vertentes são muito grandes, né, e tudo tem um bracinho, se eu ficasse só no Rock ‘n’ Roll eu não poderia lançar um alternativo, né, e que a gente sabe que o mercado alternativo é grande, um monte de festival alternativo independente, um monte de banda alternativa boa. Então é possível dar espaço ao alternativo sem comprometer, até acho que vem ajudar, porque as pessoas, através dessas bandas, podem vir a conhecer o teu selo e “Bah, o cara lançou um disco do Julio também, lançou um Cowboys”, que curtia ou não conhecia. Achei legal poder mesclar, mas claro que já me perguntaram: “Ah, mas se aparecer uma banda de Sertanejo, um Samba, um Pagode?”. Não! Tá tudo dentro do Rock, Pop Rock, claro, pode ter uns mais pesados tipo Hardcore da Hist e da Lincon, pode ter um alternativo, o Pop Rock, o Country dos Cowboys, o Reggae Pop, não vou fugir muito disso, na verdade, essas vertentes que eu tenho hoje são as que eu acredito que irei trabalhar com elas, não vou sair muito disso e não vou abrir para outras, como Samba, Pagode, Sertanejo, Gospel, esses não vão entrar.

A_Luzerna_Falas RS Você costuma receber sons, o pessoal manda demo, arquivos, pedindo para ouvir e, quem sabe, lançar?

A_Luzerna_Falas CNK Manda, manda pelo site, depois que eu fiz o site da gravadora muita gente acaba mandando. Eu não quero que me mande o disco, não adianta me mandar um disco, fiz uma parte no site que é “Acervo do Rock”, e o que é? Se a banda quiser, me manda um e-mail querendo saber como funciona a gravadora, eu vou responder direitinho e vou dizer: “Me manda uma música de trabalho, não me manda 5 ou 6 músicas, quero a música de trabalho, a música que a banda acha ‘essa aqui é a nossa música, é a que vai estourar, é a que vai dar certo!’”. Essa música de trabalho tu me manda, tu põe lá no Acervo do Rock, ponho para download… Se eu achar legal, vou autorizar a ficar na página para outras pessoas poderem fazer o download também, só que essa música vai ser analisada, vai ser ouvida na íntegra e vai ficar lá. Se for muito ruim, não entra; se for razoável, o mínimo que eu peço são os instrumentos afinados.

A_Luzerna_Falas RS Ao menos esse bom senso! (risos)

A_Luzerna_Falas CNK Sim (risos), vai entrar lá para outras pessoas poderem ouvir a tua música, mais um espaço!

A_Luzerna_Falas RS Eu pensei que fosse naquela de “Calçada da Fama”, a banda descobria o site, mandava o arquivo e ficava por lá hospedado.

A_Luzerna_Falas CNK Também, esse é o outro caso que eu te falei, pessoas que nem entram em contato comigo querendo saber como funciona a gravadora, mas querem ter a música para download.

A_Luzerna_Falas RS A inclusão da mídia virtual, da tecnologia “física” com a internet, no que foi que ajudou ao selo, já que você falou de crise no universo fonográfico?

A_Luzerna_Falas CNK Cara, não dá para negar que a web te abre portas, te leva, te divulga pra muito longe, esse foi um exemplo que eu tive com os discos conhecidos do Julio Reny, Cowboys Espirituais, de vendas, porque o selo hoje em dia, sendo pequeno, ele ainda peca pela distribuição. A gente não tem uma distribuidora para distribuir os produtos, então toda ela é feita pelo pessoal da gravadora mesmo, que pega o disco e leva em lojas, então o circuito não é muito amplo. Com a internet, a gente já vendeu discos para o Mato Grosso, Espírito Santo, acabam vendo o site ou põe lá no Google o nome do artista e, “Pô, olha lá, o cara lançou disco e eu nem sabia, onde é que eu acho?”. Então o site, além da divulgação dos trabalhos, consegue dar um retorno financeiro que são as vendas, né? Como eu te falei, acaba vendendo para lugares onde dificilmente teríamos como chegar com a nossa forma de distribuição, ter respostas de pessoas do Paraná, Santa Catarina, e como te falei, Mato Grosso, Espírito Santo…

A_Luzerna_Falas RS E o que o site oferece além das vendas? Faixas para download? Só audição?

A_Luzerna_Falas CNK Não, nele tem um playlist, a música de trabalho de cada banda está no playlist do site, e ali tem a parte da produtora e distribuidora.

A_Luzerna_Falas RS Sim, vi que tem produtora, distribuidora, estúdio e selo! Acabou desmembrando para experimentar?

A_Luzerna_Falas CNK Exatamente! Na verdade, tudo está interligado, né? Tu grava, tu lança um disco, tu tem que ter distribuição. Então quando a distribuição não é física, no quesito de Estados e tal, a gente não tem representante como uma gravadora grande, que tem vários representantes que vão nas lojas e ficam mostrando os lançamentos, é assim que funciona, o pessoal tira os pedidos, com a gente não tem isso, acaba usando a web para fazer divulgação e essa distribuição via Correios.

A_Luzerna_Falas RS Ainda sobre a crise, pelo fato de não ter deixado nada para download, você acha que atrapalha? Na sua concepção de músico e dono de um selo, qual a sua opinião sobre esse dilema “pós-moderno”? O Nanão do selo convenceu o Nanão músico, como é que é?

A_Luzerna_Falas CNK Cara, eu acho que atrapalha pelo seguinte, eu vou te dar o exemplo do que aconteceu com o lançamento dos Cowboys, em 2007: tem um custo operacional pra mandar fazer disco, para depois levar até as lojas, dentro do teu circuito, tem um custo… E as pessoas têm que fazer os acertos de 4 em 4 meses, de 3 em 3 meses, dependendo do que acerta em contrato com o artista sobre a venda dos discos, e o que aconteceu com os Cowboys foi que, cara, recém o disco tinha saído, tinha duas, três semanas que o disco estava em lojas, algum engraçadinho comprou o disco e botou na web pra todo mundo fazer download, e ainda entrou na comunidade da banda!

A_Luzerna_Falas RS E botou o troféu!

A_Luzerna_Falas CNK Sim, botou o link lá, “Olha, galera, quem quiser!”… E a gente teve até discussão com essa pessoa pela web, mas tentando dizer: “Cara, não é por aí, o selo é pequeno, têm custos que o artista precisa vender discos para ganhar a porcentagem dele, e o cara, na cabeça dele, “Ih, porque gravadora não paga nada pro artista, é só a gravadora que ganha”, o cara com uma concepção de uma Warner da vida, uma Sony, uma Universal, onde os caras realmente pagam uma mixaria para o artista… E a gente, “Não, a nossa tá começando, é pequenininha, cada dinheiro que a gente perder, cara, faz muita falta até para poder lançar outro disco”, o cara não deu o braço a torcer e está até hoje o disco para download. Então a gente sabe que não tem como brigar com isso. Tudo bem que diz: “Ah, está divulgando o artista!”. Vai levar para sua cidade para fazer o show? Entendeu? Se é só para escutar a música, não tá divulgando o artista, o cara baixou, ouviu, achou legal, e aí? Entendeu? Não comprou o disco, cara, tudo bem, se um dia o artista for lá na cidade do cara, na Conchinchina, pode ser que o cara vá no show, entendeu? Já se for um produtor, um dono de casa de espetáculos que baixa o teu disco, que gosta do teu disco, aí tudo bem.

A_Luzerna_Falas RS Mas não tem como filtrar…

A_Luzerna_Falas CNK Então, é, “Ah, mas tu tem que ver que está divulgando”, bom, não adianta divulgar sem ter o retorno, então o cara que baixou para ele e passou para os amigos, isso para mim não é divulgar. Mas se pegou e “Vou levar esse cara pro meu festival, pro meu bar”…

A_Luzerna_Falas RS Para finalizar, vamos voltar para o Safra Capilé. Além do esquema de cooperativa, como foi fazer uma coletânea com nomes restritos a um município?

A_Luzerna_Falas CNK O foco era dar um tapa de luva na Cultura de São Leopoldo, a última foi de 1985, vinil ainda, chamada “Diga-Diga de Artes”, de lá para cá, nada!

A_Luzerna_Falas RS Lembra de alguma atração que ficou dessa dos anos 80?

A_Luzerna_Falas CNK Cláudio Nilson, que entrou na Safra Capilé, a “Thule”… Vendo que as coisas não estavam acontecendo na cidade, fiz a coletânea em cooperativa, toda a gravação, masterização final, tudo sozinho. O que anima a gravadora é lançar um trabalho assim, o fato de poder lançar alguém há tempo está esquecido ou começando, dar uma força ao artista.

Depois de pronta, a iniciativa pública e privada me procurou, mas tinha que ser antes… Conseguimos fazer uma boa divulgação, não precisava fazer em São Paulo, mas por aqui, Porto Alegre, canais de imprensa – jornal, revista, TV Educativa, Rádio Unisinos… E ainda consegui fazer o lançamento na melhor casa noturna de São Leopoldo, em termos de estrutura, um espaço que em condições normais dificilmente aqueles artistas iriam ter acesso. Foi feito em duas noites, uma noite com 7, e outra com 6 atrações.

Nada é difícil de fazer, basta querer, como falei, é um tapa de luva para as pessoas acomodadas. Acabou influenciando os “Som Léo” I e II, da Secretaria de Cultura do município, que são de 2007 e 2008.

por Ricardo S.
Imagens: Reprodução/www + Divulgação/Rei Magro/+ Plus!
(Publicado originalmente em 2009)

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