A turbulência que levanta a sujeira


| Observar e Absorver – Eduardo Marinho |

  “Parábola da piscina abandonada. A sujeira do fundo tá vindo à tona, com o mau cheiro característico.”

   (por Eduardo Marinho, Fevereiro/2025)

“(…) Nessa classe que eu nasci e vivi, a gente via a água limpa. Eu intuía a sujeira do fundo, eu sentia que tinha injustiça, mas eu não via direito, não entendia direito e eram questões que incomodavam todo mundo, eu não podia falar. Quando eu larguei aquela classe e passei dois anos no estágio da mendicância, dormindo em papelão e tal, foi como mexer no fundo da piscina, subiu a sujeirada. Eu vi a perversidade social, aquela que eu intuía em cima das pessoas, começou a agir comigo. Sabe o que é você estar dormindo quieto num papelão e acordar com pontapé da Polícia, sem ter feito nada, tava dormindo? E muitas outras coisas aconteceram, eu comecei a ver essa perversidade na minha carne e nos meus vizinhos, nos lugares onde eu morava, nas várias periferias que eu morei por esse Brasil afora, O abandono, a sabotagem, o sentimento de inferioridade, impotência implantada, a ignorância implantada nas pessoas, desinformação completa, isso tudo para facilitar o domínio de um punhado de podres de ricos e seus serviçais de luxo, que estão aí nos parlamentos, que estão aí nos organismos de segurança, no generalato, no Judiciário… E eu acho que agora nós estamos num período turbulento no planeta inteiro. Essa turbulência tá levantando essa sujeira, sabe, e essa sujeira tá vindo à tona. É aquela coisa: a perversidade, a agressividade e a traição… Essas coisas estavam tudo escondidas, que as pessoas escondiam, cada uma no seu lugar, foram incentivadas a se mostrar, agora as pessoas exibem com orgulho a sua maldade, aquelas que são perversas… Isso faz parte do esclarecimento, faz parte do clareamento da realidade, para que se enxergue a realidade como ela é, com menos disfarce, agora não se tá mais disfarçando tanto, embora a mentira continue e pegue as pessoas desprevenidas, porque as pessoas não tiveram educação decente, a educação é pra mercado – não conscientiza, não humaniza, não sensibiliza, não cria senso crítico, não cria capacidade crítica de olhar e entender o que tá acontecendo. A gente sabe que a Sociedade é injusta e tem raiva disso, mas aí vêm os mentirosos e convencem que as razões são outras. É o outro. É o pobre, é o MST, é o imigrante, a culpa é sempre de alguma coisa que não tem culpa. É a podridão vindo à tona. Só que os processos planetários, eles levam tempo, levam gerações, nós estamos nesse período. Não sei quanto tempo demora, mas eu tô vendo muita gente se esclarecendo, pouco a pouco, e eu sempre achei que a Revolução Social começa com a revolução íntima, individual de cada um. E essa revolução vai criar uniões coletivas muito mais fortes. É o que eu penso. É o que eu sinto. É o que eu acho. É o que eu desejo. (…)”

(EM)

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