Coragem. Bravura. Compromisso.


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“Gaza nunca será derrotada!”: Entrevista com o diretor judeu-argentino Norman Briski

O Palestine Chronicle e o jornal A Nova Democracia entrevistaram o renomado cineasta judeu-argentino Norman Briski sobre a essência da solidariedade com o povo palestino. “Um verdadeiro judeu defenderá o povo palestino”, disse ele.

por Redação de AND

Em 24 de outubro, o renomado cineasta judeu-argentino Norman Briski surpreendeu a plateia do Prêmio de Cinema Martín Fierro com um poderoso discurso sobre a Palestina.

“Gaza, Gaza, Gaza. Gaza nunca será derrotada!”, declarou ele para o auditório lotado e para as câmeras que registravam o evento.

“Não me importa se me aplaudem muito ou pouco, mas sinto aqui no meu sangue, nos meus ancestrais, a minha solidariedade com um povo que está sendo assassinado”, continuou o diretor de 86 anos, cuja ilustre carreira no cinema se estende por décadas.

O discurso de Briski provocou uma onda de perseguição contra ele, embora o apoio e a solidariedade que ele recebeu tenham superado em muito a reação. Artistas e ativistas rapidamente organizaram campanhas em sua defesa, apoiando firmemente a posição moral do cineasta.

Em uma entrevista conjunta com o The Palestine Chronicle e o jornal A Nova Democracia, Briski explicou a motivação por trás de sua forte solidariedade ao povo palestino. Ele enfatizou que aqueles que lutam pela liberdade hoje “devem ser palestinos” e estabeleceu conexões entre as lutas anti-imperialistas na América Latina e a atual resistência palestina.

“Um verdadeiro judeu defenderá o povo palestino”

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The Palestine Chronicle/A Nova Democracia: Durante seu discurso, você declarou enfaticamente que Gaza nunca será derrotada. Por que tem tanta certeza disso?

Norman Briski: Porque é uma causa dos justos. E por causa da solidariedade demonstrada por estudantes de todo o mundo e por muitas pessoas, inclusive da comunidade judaica pró-palestina.

A ideia de que o que está acontecendo é um genocídio já foi amplamente aceita. É claro que um verdadeiro judeu defenderá o povo palestino em sua busca pela paz e harmonia – uma coexistência entre dois povos que historicamente viveram juntos e enriqueceram as culturas uns dos outros.

TPC/AND: Você também elogiou outras lutas ao redor do mundo. Como o senhor vê a relação entre a luta palestina e as lutas latino-americanas contra o colonialismo e o imperialismo?

NB: Hoje, temos de ser palestinos. Assim como temos de ser mapuches se formos argentinos, ou negros se enfrentarmos as desigualdades sofridas pelos negros nos Estados Unidos. Devemos nos alinhar com toda luta emancipatória contra a opressão.

É dever de qualquer pessoa comprometida com a libertação – ou por que não chamá-la de revolução – estar ao lado daqueles que lutam para se libertar da dominação.

TPC/AND: Na Argentina, temos atualmente um presidente que é abertamente pró-Israel. Durante seu discurso, você mencionou viver em uma realidade “fictícia”, com Javier Milei na Casa Rosada. O que quis dizer com isso e como você vê a posição de Milei em relação à guerra na Palestina?

NB: Esse modelo econômico que está sendo adotado na Argentina fracassou em todo o mundo. Ele reflete um estágio em que a cumplicidade civil apoia um projeto burguês ou dependente – um projeto que carrega a bandeira de outro país.

Neste momento, estamos essencialmente em um estado colonial novamente. Não é a primeira vez e, sem resistência, não será a última. O imperialismo tem apenas um objetivo: expansão, como vemos na Síria e em todo o Oriente Médio.

Ter um governo guiado pela ficção, que usa políticas genocidas como solução econômica, significa que estamos vivendo na barbárie. E, ainda assim, eles nos negam até mesmo os meios para promover o cinema nacional – cinema que já alimentou novos projetos e ideias para uma narrativa popular e centrada no povo.

O papel do intelectual

TPC/AND: Que papel os intelectuais e artistas desempenham na resistência ao genocídio na Palestina? Eles são moralmente responsáveis por participar de movimentos de mudança?

NB: O papel histórico dos intelectuais nas lutas populares não é exatamente inspirador, não é mesmo? Há exceções, é claro, mas, em geral, os intelectuais foram absorvidos pelo sistema – presos a cargos universitários ou instituições que os desencorajam a se envolver claramente nessas lutas.

Isso não significa que não existam exceções. Essas exceções destacam o verdadeiro valor dos artistas e sua conexão com as lutas do povo.

TPC/AND: O cinema sempre foi uma plataforma para narrativas anti-imperialistas, com o cinema palestino se destacando como um exemplo de arte militante. Como você vê o papel do cinema hoje na exposição da opressão?

NB: O cinema continua sendo uma indústria, o que o torna inerentemente dependente do capital. Embora existam heróis nacionais – como Pino Solanas – e filmes que abordam temas revolucionários, é difícil escapar da influência das corporações multinacionais.

Até mesmo um filme como 1985, que aborda eventos históricos de forma “civilizada”, continua atrelado a essa dependência.

Os cineastas palestinos, no entanto, incorporam o amor por seu povo e demonstram ao mundo o compromisso com sua causa. Eles representam o exemplo mais puro do cinema como uma ferramenta de resistência e solidariedade.

TPC/AND: Por fim, que mensagem você enviaria ao povo palestino?

NB: É a coragem, a bravura e o compromisso deles com a justiça que me transmitem a mensagem. Sua força nos inspira a sempre buscar a igualdade.

A única coisa que eles precisam do mundo é de solidariedade com sua luta.

{ A Nova Democracia }

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