Enquanto povos subjugados


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A luta do povo palestino por liberdade também é nossa

por Vittória Paz e Raya Radwan

Nesse momento da história global onde as atenções de todos estão voltadas para a escalada crescente da violência contra a Palestina por Israel, é preciso que tomemos controle da narrativa. A mídia hegemônica procura passar uma mensagem de forma parcial e tendenciosa, tentam enquadrar o Estado de Israel como vítima e apontam números de mortos a partir de notícias falsas e sensacionalistas, sem fazer o devido serviço de mostrar os dados reais em relação à Palestina, além de lhes taxar de terroristas.

Para nós brasileiros, ao pensarmos em um projeto de país, não podemos excluir o sentimento internacionalista deste mesmo projeto, e o que nos conecta enquanto povos subjugados, e a partir disso quais bandeiras nós defendemos e levantamos e o porquê. Faz parte da nossa tarefa não apenas hoje, mas sobretudo hoje, denunciar e divulgar a crise humanitária, os crimes de guerra e a limpeza étnica que o Estado de Israel pratica contra o povo Palestino.

Tudo isso, desde o dia 7 de outubro tem tomado proporções muito maiores e devastadoras, e com uma intencionalidade muito bem demarcada, sob a justificativa de autodefesa. E nesse sentido reiteramos: a luta do povo palestino por liberdade e autodeterminação é também a nossa luta. O que acontece agora não é um evento isolado e muito menos gerado por razões circunstanciais, mas algo que faz parte de toda uma construção histórica e de 75 anos de apartheid e colonização.

Um momento que é necessário destacar, – mas que não marca o início das questões políticas e territoriais – é a Partilha da Palestina pela ONU em 1947, onde ocorre a criação de um Estado Árabe e um Estado Judeu – divisão essa que foi feita de forma injusta para o lado árabe. No entanto, apesar dessa resolução, os sionistas ocuparam cidades e vilas que pertenciam ao lado árabe, dizimando cerca de 250 pessoas e anexando territórios, antes mesmo da criação oficial do Estado de Israel, forçando o povo palestino ao exílio. A Nakba, em 1948, faz parte da história da Palestina, e não pode ser desconsiderada ao pensarmos na situação atual dos conflitos e a sua compreensão.

À luz do genocídio levado a cabo pela ocupação sionista contra o povo palestino na Faixa de Gaza e da preocupação global com a solidariedade para com o criminoso, afirmamos o direito histórico de lutar pela liberdade, justiça e autodeterminação, contra todas as formas de perseguição que nós suportamos por 75 anos. Desde 1948, Israel deslocou à força mais de 800 mil palestinos das suas terras e levou a cabo os piores tipos de massacres, resultando na destruição de 531 aldeias palestinas.

A ocupação abrangeu 78% da área terrestre da Palestina, levando ao estabelecimento do estado sionista após o deslocamento de mais de 85% da sua população. A população sobrevivente tornou-se refugiada na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e nos países árabes vizinhos. As forças de ocupação israelenses ocuparam as terras palestinas restantes após a guerra de 1967. Desde então, os residentes da Faixa de Gaza têm suportado condições desumanas devido ao cerco imposto pela ocupação israelita desde 2006. Este cerco levou a sanções que afetam os direitos básicos da população, impondo severas restrições à entrada de medicamentos, bens, combustível, a circulação de indivíduos, o acesso aos recursos naturais, à água e à pesca.

Durante a segunda metade do século XX outras guerras ocorreram e, assim, Israel conseguiu expandir ainda mais seu território, de forma ilegal. Entretanto, apesar de toda a expansão colonial, esse foi também o cenário do surgimento de movimentos nacionalistas de forte cunho anticolonial, e que também demarcam a história de resistência palestina. O século XXI está também muito longe de ser um momento calmo e tranquilo, como já trazido, sendo cenário de diversos ataques, mortes e um terrorismo sem igual praticado pelo Estado de Israel ao longo dos anos. Também é importante destacar que, apesar da divisão feita pela ONU, a mesma só reconheceu o Estado da Palestina no ano de 1988.

Atualmente o que tem se visto muito forte a partir dos meios de comunicação hegemônicos ao redor do mundo é o apagamento de anos de história e de colonização, para se criar uma imagem positiva de Israel, com todo o apoio de das potências imperialistas, sendo o governo estadunidense o maior e mais forte aliado do Estado de Israel, por ser uma área importante estrategicamente para eles. A Faixa de Gaza sofre há anos com os ataques e com todas as violações e crimes de guerra, como, por exemplo, o uso do fósforo branco, um tipo de arma química que tem seu uso proibido e também ao matar médicos, jornalistas, crianças, idosos e demais civis de forma premeditada e intencional.

A situação em Gaza, de um cerco total, se intensificou muito nos últimos dias, é grave e fere todas as leis do direito internacional, massacrando, de forma aberta para o mundo ver milhares de pessoas, fazendo vítimas reais, com nome, família, histórias, mas que não recebem a atenção devida dos governos e da mídia ocidental.

Somada à situação vivida em Gaza, comparada com a situação dos campos de concentração nazistas, toda a população ao longo dos vilarejos e cidades da área da Cisjordânia também sofre com os abusos, violações, pontos de checagem, vigilância, assentamentos e toda a política de violência colonialista que parte da ocupação israelense, não havendo paz nem segurança para todo o povo palestino, sofrendo com a ocupação sionista e sendo privados também de itens de necessidade básica.

A ocupação israelense tenta isolar a Cisjordânia do resto dos territórios ocupados da Palestina. Estas políticas visam exercer pressão sobre a população e expulsá-la das suas terras. Desde 7 de outubro, as forças de ocupação prenderam 930 palestinianos da Cisjordânia, elevando o número total de detenções desde o início de 2023 para mais de 6.000 casos, e também assassinaram mais de 70 palestinos.

As forças de ocupação também estão bombardeando escolas e hospitais onde famílias procuraram abrigo depois de terem perdido suas casas. As forças israelenses bombardearam um hospital palestino depois que centenas de famílias foram deslocadas para lá, causando a morte de mais de 500 pessoas, incluindo feridos, doentes, deslocados e crianças. Mais de 47 famílias, incluindo 500 cidadãos, foram completamente retiradas do registro civil devido aos massacres em várias cidades e campos da Faixa de Gaza. A situação humanitária na Faixa de Gaza é angustiante e horrível. Mulheres feridas procuram os seus filhos nos escombros e centenas de crianças foram resgatadas sem que ninguém soubesse a sua identidade ou quem eram os seus pais. Isso porque todos os familiares faleceram, deixando a criança sozinha. Uma das ações mais horríveis das forças de ocupação foi ordenar aos civis que evacuassem as suas casas em preparação para o bombardeamento, e depois bombardeá-los enquanto estavam deslocados e em busca de segurança dentro de hospitais.

Esta ocupação brutal persiste em cometer as injustiças mais flagrantes contra o nosso povo, e é pelo acesso aos dados e informações reais que nós vamos compreender a dimensão do genocídio que ocorre. Desde 7 de outubro de 2023, a ocupação israelense continua a visar a população civil. No décimo quarto dia de guerra, o número de crimes da ocupação atingiu pelo menos 4.218 mártires palestinos, incluindo mais de 40% dos quais são crianças, e 13.400 feridos. Destruiu casas junto com seus residentes e teve como alvo hospitais e equipes de ambulâncias. O número de pessoas deslocadas já ultrapassou 1 milhão, o que representa metade da população de Gaza. Estas pessoas vivem em condições desumanas, sem acesso à água, eletricidade ou alimentos, apenas aguardando o seu destino, especialmente porque existem 7 hospitais na Faixa de Gaza de serviço, com medicamentos, suprimentos médicos e combustível acabando.

É, então, a partir dessa realidade trazida que questiono: qual a responsabilidade do Estado de Israel em toda a situação que agora se passa? Por que é tão difícil que essa responsabilidade caia em torno daqueles que construíram, durante anos, essa política genocida? Apesar do governo atual de Netanyahu, de extrema direita, as políticas não surgiram e não foram implementadas agora, elas apenas tomam um novo redirecionamento do governo. É também necessário responsabilizar o governo dos EUA, que votou contra a entrada de ajuda humanitária e a abertura de corredores humanitários, que foi proposto pelo governo brasileiro no Conselho de Segurança da ONU, além de Biden dar apoio irrestrito aos ataques contra a Palestina.

A luta do povo palestino pela sua libertação, autodeterminação e descolonização é legítima. É necessário criarmos condições na sociedade para que o apoio se torne maior, combatendo notícias falsas, políticas que giram em torno de questões religiosas e visões fundamentalistas da situação, sabendo que igualar os lados é um desserviço em relação ao acesso à informação. Apelamos aos povos livres para que se mantenham ao lado do nosso povo para acabar com os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade cometidos pelas autoridades de ocupação e pelas suas forças contra o nosso firme povo palestino. Do rio ao mar, a Palestina será livre!

{ Brasil de Fato Pernambuco }

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