13 dias, há 61 anos.


| Instituto Humanitas Unisinos – IHU |

  “O que a Semana da Legalidade representa para o Brasil contemporâneo”.

   (Susana Rocca apresenta Flávio Tavares, 2022)

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“(…) Susana Rocca: Você, como jornalista daquela época, vê uma diferença entre a perspectiva dos jornalistas na atualidade?

Flávio Tavares: Eu acho que também o Jornalismo entrou numa fase que eu não quero chamar de decadência, mas uma fase de alienação dos grandes problemas nacionais. A informação, o Jornalismo, se expandiu tanto hoje pelas chamadas ‘redes sociais’ que todo mundo, qualquer pessoa, com as chamadas ‘fake news’, que se diz até em Inglês, não sei porque não se diz ‘notícia falsa’, invadem os computadores, invadem os celulares. Hoje as pessoas expõem do celular como antes se dispunha apenas um copo d’água, todo mundo tem o seu celularzinho e hoje há essa invasão de pseudo-jornalistas informando com mentiras, mais exatamente com invencionices e chegam até as invencionices do próprio Presidente da República, que, por exemplo, inventou que a vacina provocava AIDS. Então, esta situação acho que distingue o Jornalismo de hoje… A informação de hoje, para não chamar de Jornalismo, a informação que se expande hoje não só pelos jornais, pelos rádios e pelos noticiários de televisão, mas, fundamentalmente, pelas ‘redes sociais’. Vejam vocês! Pensem sobre isso. Qualquer pessoa inventa algo e distribui como se fosse a verdade verdadeira, a verdade absoluta, incontestável.

Claudio Oliveira Muniz:A formação humanística e ética do profissional de comunicação é importante, portanto?

FT: Ah, sim, fundamental, mas acontece que a tecnologia nos últimos anos nos forneceu essas ‘redes sociais’, qualquer pessoa é um comunicador hoje, qualquer pessoa se arvora em distribuir informações até sobre Ciência, como aconteceu com o caso da cloroquina e outros detalhes durante o momento mais grave da pandemia atual. Então, a tecnologia nesse caso veio como um distúrbio. Ela provocou um distúrbio na informação em si. Qualquer pessoa comunica hoje informações que não são apenas inverídicas, mas são inventadas, e não há nada pior que a invenção feita por uma área que nós não conhecemos. Se eu inventar falar sobre a energia nuclear, eu não vou chegar a nada, eu não tenho formação tecnológica para chegar a isso, eu não conheço Química, não conheço Física, não conheço sequer os detalhes que nos levam à energia nuclear. Cito a energia nuclear como um exemplo, porque sabemos do perigo que ela representa, por outro lado, das vantagens que ela pode trazer.

COM:Você acha que um controle da internet sobre as informações seria uma solução?

FT: Eu não sei quem faria o controle. O controle deveria existir, mas eu não sei, sinceramente, como, quem faria esse controle. Um órgão do Estado? Depende de quem está no órgão coletivo, mas um coletivo formado por quem? Formado pelas associações dos jornais? Pelas associações das tv’s? Pelos intelectuais? Mas que órgão formaria, que órgão escolheria? É difícil haver controles. Os controles são sempre maléficos, podem resultar em algo maléfico. Podem resultar numa castração da informação. Eu, como exemplo, como modelo, eu posso ter uma opinião divergente da pessoa que está ao meu lado, no entanto, somos os dois honestos e levando as verdades que cada um leva dentro de si. Nós temos verdades que são invioláveis, a minha verdade não é a de vocês, não é a da pessoa que está ao meu lado, não é a da Susana, por exemplo, que está dialogando comigo agora, nesse momento. Nós temos verdades diferentes, ainda que honestamente diversas. Não é que eu negue a verdade dela e que ela negue a minha verdade, são verdades diferentes. Eu acho que todo controle é algo difícil, é algo assim como a energia nuclear – não tem cor, não tem cheiro e, no entanto, mata. (…)”

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